Atlético Madrid e Bayern Munique marcaram e sofreram os mesmos golos na eliminatória que decidiu o primeiro finalista da Liga dos Campeões. Ambos venceram o jogo perante o seu público e perderam fora de portas. Olhando para o resultado final dos 180 minutos destaca-se um redondo 2-2. Mas, algures, surgirá o asterisco da praxe a explicar que a final é para o Atlético.

Motivo? A famosa regra dos golos marcados fora de portas. Já se sabe, o primeiro fator de desempate em eliminatórias europeias é o palco do jogo. Marcar fora vale por dois e foi o que a equipa de Diego Simeone conseguiu, por Griezmann ao minuto 54.

O Bayern ainda voltou à vantagem no marcador, ganhou o jogo, mas de nada valeu. A final será colchonera. A terceira da história depois de 1974 e 2014. Tentará, agora, pela primeira vez levantar o troféu que escapou nos descontos do duelo com o Real Madrid, de há dois anos, no Estádio da Luz. E, curiosamente, pode ser de novo o velho rival madrileno o adversário da final de Milão. Mas essas são contas para outro dia...

Quanto aos alemães, perdem a oitava meia final da sua história e, pela terceira vez, são, então, afastados pela regra dos golos fora. Nenhum outro clube foi eliminado desta forma, sequer, duas vezes. O Bayern agudiza assim o trauma e lidera este indesejável ranking.

A primeira vez que aconteceu foi em 1981. Foi, de resto, também a primeira vez que os bávaros caíram nesta fase da prova, depois de já a terem vencido três vezes seguidas, entre 1974 e 1976.

O Bayern de Pál Csernai, que viria a treinar o Benfica, enfrentava o Liverpool de Bob Paisley onde alinhava outro futuro treinador encarnado: Graeme Souness. Na primeira mão, em solo inglês, o jogo terminara sem golos. Em Munique nova igualdade, agora a uma bola.

Ray Kennedy marcou primeiro para o Liverpool ao minuto 82 e o melhor que o Bayern conseguiu foi evitar a derrota, com um golo da estrela da companhia, Karl-Heinz Rummenigge, cinco minutos depois. A final era para o Liverpool que haveria, até, de vencer a prova frente ao Real Madrid, igualando os três títulos dos bávaros.

No final da mesma década, o Bayern Munique volta a cair pela regra dos golos fora. Foi em 1989/90, na única final, até hoje, em que ambos os finalistas foram apurados por causa dessa norma.

O Benfica foi um deles. Tinha perdido 2-1 em Marselha mas venceu na Luz por 1-0, com o célebre golo de Vata, com a mão. Esse é o momento que todos lembram mas, à letra, o golo que valeu a final foi o primeiro da eliminatória, quando Lima adiantou o Benfica aos 10 minutos do jogo da primeira mão (recorde aqui a história contada pelo próprio em 2010).

Ora, o Bayern, dizíamos, caiu na outra meia-final, frente ao AC Milan também por não ter defendido a preceito a baliza no seu reduto.

No Giuseppe Meazza, palco da final de 2016, os italianos venceram com um golo solitário de Marco Van Basten. No Estádio Olímpico de Munique, na segunda mão, antecipou-se o cenário que voltou a acontecer esta terça-feira: vitória por 2-1. Com uma diferença. Há 16 anos foi no prolongamento que o resultado se fez.

No tempo regulamentar o Bayern Munique venceu 1-0, com golo de Thomas Strunz, anulando a vantagem italiana. Sem mais golos, o jogo teve direito a mais 30 minutos. E mais dois golos. Borgonovo, que entrara na segunda parte, empatou o jogo e obrigou o Bayern a fazer dois para chegar à final. Fez apenas um, já perto do fim, por McInally, também ele um suplente utilizado.

Os italianos do Milan são, de resto, a antítese do Bayern. Se os alemães caíram três vezes nas meias finais por causa dos golos fora, o Milan já chegou ao jogo decisivo outras tantas vezes por esse caminho.

Além do referido duelo com os bávaros, afastou, já no século XXI, Inter de Milão (2003) e PSV Eindhoven (2005) pelo mesmo critério. E nunca foi eliminado.

Aliás, a única equipa que já foi beneficiada e prejudicada por esta regra, em meias-finais da Champions, foi o PSV Eindhoven. Apurado em 1988, frente ao Real Madrid, para o único título europeu do currículo, e afastada em 2005, frente ao Milan, na última vez que chegou às meias finais. Curiosidade extra: em ambas, o treinador era Guus Hiddink.

Meias-finais da Liga dos Campeões decididas pelos golos marcados fora:

1970/71- Estrela Vermelha-Panathinaikos: 4-1; 0-3

1980/81- Liverpool-Bayern Munique: 0-0; 1-1

1987/88- Real Madrid-PSV: 0-0; 1-1

1989/90- AC Milan-Bayern Munique: 2-1; 0-1

1989/90- Marselha-Benfica: 2-1; 0-1

2001/02- Man. United-Bayer Leverkusen: 2-2; 1-1

2002/03- AC Milan-Inter: 0-0; 1-1

2004/05- AC Milan-PSV: 2-0; 1-3

2008/09- Barcelona-Chelsea: 0-0; 1-1

2015/16- Atlético Madrid-Bayern Munique: 1-0; 1-2