O Sporting encheu Alvalade de ritmo, agitação e barulho, obrigou o Barcelona a tocar a música que não gosta e discutiu até ao fim o resultado de um jogo que poucos imaginariam tão nivelado.

No fundo foi isso: o Barcelona viu-se obrigado a sair da zona de conforto.

Sabe-se como a Cidade Condal está cheia de grandes teatros e majestosas salas de espetáculo. Porquê? Porque aprecia provavelmente como poucas a arte. Uma boa sinfonia. Uma orquestra. Uma melodia doce, suave e harmoniosa. Por isso o Sporting puxou da guitarra elétrica e da bateria.

Apoiado por mais de 48 mil adeptos que criaram um ambiente espetacular, que gritaram, puxaram, assobiaram e fizeram barulho, a equipa não deixou que a noite se tornasse propícia ao génios dos solistas.

Messi, por exemplo, pouco se viu. O argentino deu nas vistas numa jogada na primeira parte, é verdade, em que tirou Coates da frente e rematou com selo de golo, valendo na altura um carrinho de Fábio Coentrão a interceptar a bola. E foi tudo. Um cabeceamento fraco para as mãos de Patrício e um livre já na segunda parte batido muito por cima da barra não contam quando se fala de Messi.

É claro que para que tudo isto foi possível tornou-se fundamental a estratégia de Jorge Jesus.

O treinador colocou Battaglia sempre de olho em Messi - não era uma marcação individual, mas era uma preocupação especial - exigindo que o médio estivesse sempre no caminho do astro.

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Pelo caminho colocou Piccini e Fábio Coentrão a fechar por dentro, percorrendo em situação defensiva todos os espaços que Iniesta e Sergi Roberto, respetivamente, percorriam, nem que para isso tivesse que obrigar Gelson Martins e Acuña a fechar as laterais como se fossem defesas.

Por vezes dava-se a situação do Sporting ter uma linha defensiva de seis homens, o que não era bonito, mas era eficaz.

Sem espaço para colocar a bola na frente de ataque, sem tempo para pensar e com um adversário feroz na discussão dos duelos individuais, o Barcelona esteve sempre desconfortável no jogo. Era claramente demasiado ritmo, demasiado barulho para o que está habituado e gosta de fazer.

Por isso no final da primeira parte tinha criado apenas duas verdadeiras ocasiões de golo, ambas por Luis Suárez na cara de Rui Patrício.

O Sporting, por outro lado, também criou duas ocasiões de perigo, em remates de fora da área de Piccini e Bruno Fernandes, o que mostra também como o jogo foi equilibrado.

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Depois sim, veio o pior. Um autogolo de Coates, que mudou o tom, mas não mudou o essencial: não mudou o ritmo. Continuou a ser à cadência de bombos e tambores.

Intensidade, energia, vigor, ímpeto e fulgor.

O Sporting mudou um pouco a estratégia, abandonou definitivamente as marcações individuais, subiu os extremos, disputou o jogo mais perto da baliza de Ter Stegen, mas continuou a fazê-lo dentro daquela batida forte, como se cada bola fosse a última da vida dos jogadores.

Pelo meio criou duas boas ocasiões de golo, ambas por Bruno Fernandes, que primeiro permitiu a defesa de Ter Stegen e depois, em excelente posição, acertou em Umtiti.

É certo que o Barcelona também ficou perto de marcar, numa grande ocasião de Paulinho que Rui Patrício defendeu, o que só reforça o essencial: bola cá, bola lá, ocasião cá, ocasião lá, foi um jogo muito mais equilibrado do que os mais céticos poderiam imaginar.

O Sporting teve o mérito de arrancar o Barcelona da zona de conforto e obrigá-lo a tocar a música que não gosta. Não pontuou, é verdade, mas deixou Alvalade de peito cheio.

Esta foi mais do que apenas uma derrota, em mais do que apenas uma noite, frente a mais do que apenas um clube.