*Enviado-especial a Munique

Arjen Robben, Franck Ribery, David Alaba, Bastian Schweinsteiger, Javi Martínez. Estes foram os principais desfalques no Bayern Munique que perdeu no Dragão na última quarta-feira. Baixas de peso, claro está.
 
O tema fez correr muita tinta e quase esbateu a derrota em si. A equipa médica dos bávaros, com 30 anos de casa, bateu com a porta. O clube entrou em contrarrelógio para tentar recuperar algumas peças para corrigir a noite desastrada do Dragão.
 
Schweinsteiger vai a jogo. Ribery talvez. Dúvida até ao apito inicial. A verdade é que nunca será um Bayern na máxima força a tentar dar a volta à eliminatória.
 
Para perceber o que pode ter causado esta situação anómala num clube de topo, o Maisfutebol falou com Marcelo Martins, antigo preparador físico dos alemães.
 
O brasileiro passou cinco temporadas em Munique. Chegou pela mão de Jurgen Klinsmann, em 2008, transitando, depois, até à era Jupp Heinkess.
 
«Conheci o Klinsmann quando trabalhava na Athlete’s Performance [empresa de treino desportivo], em Los Angeles. Nesse período trabalhei com o Martín Vaszquez, no Chivas USA, que no Bayern era treinador adjunto. E depois veio, então, o convite pessoal do Klinsmann», explica Marcelo Martins, de 40 anos.
 
As funções que desempenhou no Bayern são explicadas na primeira pessoa: «Detetar disfunções e limitações no movimento dos atletas e trabalhar a melhoria da performance dentro da capacidade de cada jogador.»
 
É, como se disse, alguém em posição privilegiada para comentar o tema das lesões. Mesmo fora do clube desde a entrada de Pep Guardiola, Marcelo Martins dá a sua opinião.
 
«Durante a temporada vários fatores podem estar relacionados com lesões nos jogadores. Intensidade e volume alto nos treinos por períodos prolongados, quantidade grande de jogos, falta de trabalhos de recuperação dentro de um programa semana, stress psicológico que muitas vezes passa despercebido, má alimentação…», enumera.
 
Depois, atira o fator que considera decisivo, dada a sua experiência no clube: «Durante os cinco anos que trabalhei no Bayern, sempre depois de um Europeu ou Mundial tínhamos uma incidência maior de lesões, pois os jogadores do Bayern normalmente estavam em equipas que chegavam às meias-finais e/ou finais dos torneios e não tinham tempo suficiente de descanso antes de iniciarem a temporada seguinte. Como houve Mundial no ano passado, isso talvez possa explicar parte dos problemas de lesões que o Bayern tem hoje.»

 
«Todos confiavam no Dr. Muller-Wohfahrt»
 
Durante o tempo que trabalhou no Bayern Munique, Marcelo Martins, que atualmente está com a seleção olímpica dos EUA, lidou de perto com o médio Muller-Wohlfahrt, que deixou o clube após a derrota no Dragão.
 
A relação entre o clínico e Pep Guardiola não era a ideal, mas Marcelo Martins garante que, antes, não havia problemas.
 
«Trabalhei com o Dr. Muller-Wohlfahrt durante cinco anos e sempre tive um bom relacionamento com ele. Ele trabalhou no Bayern durante 30 anos e todos no clube sempre confiaram muito nele. Não sei por que razão ele saiu mas acredito que ele não se tenha desligado completamente da equipa», afirmou.
 
Apesar de não entender os motivos para o «divórcio», o brasileiro sublinha a importância de uma boa comunicação entre a parte clínica e desportiva.
 
«É fundamental para o sucesso de uma equipa. Tem de haver uma relação de entendimento e cooperação entre todos os departamentos envolvidos diretamente com o desempenho da equipa. Não só entre preparadores físicos, fisioterapeutas e departamento médico como também treinador, assistentes e analistas. No Bayern fazíamos reuniões diárias antes dos treinos», exemplifica.
 
Marcelo Martins admite, contudo, que é normal haver desacordos entre o departamento clínico e o desportivo, sendo importante «que cada um trabalhe na sua área específica».
 
«Dependendo da lesão ou do tempo que esteve lesionado, o jogador, quando é liberado do departamento médico, deve passar pelo período de transição até que seja novamente integrado ao elenco», acrescenta. E é aí que a pressa de uns pode não ser entendida por outros. Um cenário que pode, muito bem, ter estado na origem da polémica saída do médico do Bayern Munique.
 


«Alaba, Ribery e Schweinsteiger impressionavam pelo vigor físico»
 
Depois da licenciatura em Educação Física, no Brasil, e do trabalho com atletas amadores, estar num clube como o Bayern Munique foi uma experiência incrível.
 
«Foi excelente. São jogadores extremamente profissionais que entendem a necessidade de estar no melhor ou o mais próximo possível da sua melhor forma pois sabem que a competição é muito acirrada. Estou a referir-me não só à atenção e concentração nos treinos como também fora do campo. Quanto mais os jogadores entendem a importância e necessidade de certos comportamentos mais fácil e prazeroso se torna o trabalho»
, considera.
 
As diferenças num plantel de uma equipa profissional são mínimas, mas Marcelo Martins arrisca nomear os que mais despertaram a sua atenção. «Pelo vigor físico eram David Alaba, Frank Ribery e Bastian Schweinsteiger», conclui.