«Remontada»? Bem, no caso da Roma pode aplicar-se o trocadilho e dizer «Romantada».

Na noite de terça-feira, os giallorossi conseguiram no Olímpico uma das mais inesperadas reviravoltas numa eliminatória da Liga dos Campeões. Não só por recuperarem de uma desvantagem de 3-0, como também por afastarem o todo-poderoso Barcelona, um dos maiores favoritos à conquista da «liga milionária».

O «milagre» da «Cidade Eterna», ali a dois passos do Vaticano, entra na galeria das reviravoltas mais marcantes da grande prova da UEFA.

O Maisfutebol revisitou a história da Taça dos Campeões Europeus e da Liga dos Campeões e apresenta-lhe o top-10.

Sparta Praga-Partizan Belgrado (quartos, 1965/66): 4-1 e 0-5

Na história da Taça dos Campeões Europeus, o Schalke já havia recuperado de uma desvantagem de três golos frente ao Copenhaga (1958/59), façanha semelhante ao que fez o Jeunesse Esch, do Luxemburgo, contra os finlandeses do Haka (1963/64). Ambas as reviravoltas haviam sido na primeira ronda e entre equipas menos cotadas. Mais impactante foi a forma como o Partizan virou em Belgrado a eliminatória frente ao Sparta de Praga. À derrota por 4-1 na capital checoslovaca, o Partizan respondeu com uma goleada por 5-0 em Belgrado. Os golos de Hasanagic (um fora e dois em casa) foram decisivos para o triunfo do Partizan, que em 1965/66 conseguiu a sua melhor participação na UEFA: nessa época perdeu a final no Heysel (Bruxelas) frente ao Real Madrid (2-1).

Estrela Vermelha-Panathinaikos (meias, 1970/71): 4-1 e 0-3

De novo uma reviravolta, de novo uma presença histórica na final. Em 1970/71, o Panathinaikos conseguiu façanha semelhante à do Partizan, em 1965/66, curiosamente frente ao rival da equipa de Belgrado: na meia-final, os gregos reverteram um triunfo de 4-1 na primeira mão e em Atenas venceram o Estrela Vermelha por 3-0, beneficiando do golo fora no critério de desempate. O Pana, nessa temporada orientado por Ferenc Puskás, perdeu na final, em Wembley, frente ao Ajax (2-0) de Johan Cruijff comandado por Rinus Michels.

Derby County-Real Madrid (oitavos, 1975/76): 4-1 e 1-5

Antes de cair nas meias-finais, aos pés do Bayern de Beckenbauer e Gerd Müller, o Real Madrid conseguiu uma impressionante reviravolta nos oitavos de final. O Derby County surpreendeu na primeira mão, ao vencer por 4-1, com um hat-trick do ponta de lança Charlie George. Na segunda volta, Charlie voltou a marcar, mas os bis de Roberto Martínez e Santillana e um penálti de Pirri acabaram por virar o marcador em Chamartín com recurso a prolongamento.

Gotemburgo-Barcelona (meias, 1985/86): 3-0 e 0-3 (4-5 gp)

Depois de eliminar o FC Porto, nos oitavos de final, o Barcelona prosseguiu a sua caminhada até à final da Taça dos Campeões Europeus quando à surpreendente derrota por 3-0 em Gotemburgo, respondeu com igual placard em Camp Nou. Um hat-trick de Pichi Alonso levou a discussão para as grandes penalidades, onde os catalães, orientados pelo inglês Terry Venables, bateram os suecos. Na final, em nova decisão da marca dos 11 metros, após um nulo em 120 minutos, o Barça perdeu a taça para o Steaua de Bucareste.

Real Madrid-Mónaco (quartos, 2003/04): 4-2 e 1-3

Ronaldo, Zidane, Figo, Beckham… Bom, paremos por aqui. Basta escrever «galácticos» para percebermos a dimensão do feito do Mónaco. Depois de um triunfo por 4-2 no Santiago Bernabéu, a equipa de Carlos Queiroz acabaria por cair com estrondo no Estádio Louis II: Giuly, que bisou, e Morientes fizeram os golos dos monegascos, que nessa época conseguiriam a sua melhor prestação de sempre na Europa: chegaram à final da Champions, mas em Gelsenkirchen perderam com o FC Porto, numa final de boa memória para o futebol português.

Milan-Deportivo Corunha (quartos, 2003/04): 4-1 e 0-4

Exatamente no dia seguinte ao feito do Mónaco, seria a vez do Corunha também tombar um gigante. À goleada por 4-1 no Giuseppe Meazza, os galegos responderam com uma goleada ainda mais expressiva no Riazor. Pandiani, que havia marcado na primeira mão, abriu a contagem logo aos cinco minutos e Valerón e Luque colocaram o Depor em vantagem na eliminatória ainda antes do intervalo. Fran acabaria por sentenciar a passagem da equipa de Javier Irureta às meias-finais, onde seria afastada pelo FC Porto.

FC Porto-Bayern Munique (quartos, 2014/15): 3-1 e 1-6

A 15 de abril de 2015 o FC Porto de Julen Lopetegui surpreendia meia Europa ao bater em casa o superfavorito Bayern de Munique: Quaresma bisou nos primeiros dez minutos e Jackson Martínez na segunda parte sentenciaria o resultado em 3-1 (Thiago Alcântara marcou para os bávaros). No entanto, na segunda mão, na Alemanha, a equipa de Pep Guardiola haveria de infligir uma das piores derrotas europeias de sempre aos dragões: 6-1. Começou em festa, acabou em hecatombe.

Wolfsburgo-Real Madrid (quartos, 2015/16): 2-0 e 0-3

A equipa alemã nem precisou de Bas Dost (que ficou no banco) para pregou uma partida ao Real Madrid na primeira mão dos quartos de final. O Wolfsburgo venceu por 2-0, mas tinha um problema pela frente: o jogo da volta era em Santiago Bernabéu. Ora, essa era um daquelas noites Cristiano Ronaldo… Resultado: 3-0, hat-trick do craque português e eliminatória do avesso. Uma reviravolta que haveria de ser decisiva para a conquista da undecima.

Paris Saint-Germain-Barcelona (oitavos, 2016/17): 4-0 e 1-6

Épico. Arrebatador. Sublime. A recuperação do Barcelona em Camp Nou na época passada é a maior de sempre nas competições europeias e por isso entra na história do futebol. O 4-0 no Parque dos Príncipes parecia dar quase a eliminatória por resolvida. Porém, do outro lado estava o Barça de Messi... E então ainda de Neymar. O brasileiro haveria de ser a figura da partida ao marcar dois golos decisivos (88’ e 90’), que viraram a eliminatória, antes de Sergio Roberto sentenciar nos descontos o retumbante 6-1 final.

Barcelona-Roma (quartos, 2017/18): 4-1 e 0-3

Durou um ano, mas o Barça haveria provar do seu próprio veneno. Quase 24 horas depois, custa ainda a acreditar como os catalães, claros favoritos na eliminatória e grandes candidatos ao título, desperdiçaram uma vantagem de três golos da primeira mão. Todos os caminhos de uma «remontada» histórica foram dar ao Roma. Dzeko começou aos 5 minutos uma recuperação que viria a ser concluída na segunda parte por De Rossi (58’, gp) e Manolas (82’). Eusebio di Francesco arriscou, venceu e no final afirmou: «Sou um louco… Se não desse resultado, matavam-me.»