A 63ª Taça/Liga dos Campeões começa nesta segunda-feira, com o sorteio das primeiras pré-eliminatórias da prova. São 79 equipas que têm permissão para sonhar em chegar a Kiev, onde se vai disputar a final, embora os sonhos de uns sejam mais difíceis do que outros.

A UEFA tem 55 associações, mas apenas 54 disputam a Champions – O Liechtenstein não tem campeonato interno. Ora, facilmente se percebe que há mais equipas do que campeões e que o formato que vai entrar em vigor na próxima temporada, depois de anunciada reforma, vai marcar ainda mais essa tendência. 

A Liga dos Campeões há muito que fugiu ao conceito que durante anos prevaleceu no futebol do continental. Mais concretamente, há 20 anos, quando oito vice-campeões nacionais tiveram acesso à prova.

O resultado dessa política? O título europeu foi mais vezes para não-campeões do que para equipas que tinham conquistado o campeonato interno no ano anterior.

Sporting-Partizan: isto já nasceu assim

A Taça dos Campeões Europeus nasceu em 1955/56. Como é sabido, o Real Madrid venceu as cinco primeiras. Portanto, as quatro últimas desse período foi sempre em defesa do título, enquanto a primeira foi devido ao facto de ser reconhecido, na altura, como o emblema maior de Espanha.

Os merengues também eram campeões nacionais, mas foi por convite que participaram na edição inicial da Taça dos Campeões Europeus.

O mesmo sucedeu com todos os outros clubes. Acontece que alguns eram os campeões dos respetivos países, e outros não.

Para se ter uma ideia, o primeiro jogo de sempre da prova foi mesmo entre dois emblemas que não eram campeões nacionais: Sporting e Partizan Belgrado.

Leões e sérvios defrontaram-se no Jamor, mas foi o Benfica e o Hajduk Split que foram campeões de Portugal e Jugoslávia na temporada anterior. No entanto, o Sporting vinha de um tetracampeonato e era considerado a maior potência do futebol nacional.

O Partizan também tinha prestígio, mas curiosamente não vencia um campeonato desde 1948/49 e só viria a fazê-lo de novo em 1960/61.

A Champions nasceu, então, com um jogo entre duas equipas que, naquele ano exato, não usavam o escudo de campeão.

Anos 50: vice-campeões também jogavam

Após a edição inicial, a UEFA resolveu considerar os campeões dos países que, naquele momento, decidiram participar na Taça dos Campeões.

A federação inglesa tinha vetado a entrada do Chelsea em 1955/56, mas o Manchester United decidiu avançar na mesma na época seguinte em que dos 22 participantes apenas o representante polaco não era campeão: devido ao calendário da Polónia, este só era conhecido com a taça europeia já a decorrer. Foi assim alguns anos.

No entanto, houve vários segundos classificados nacionais que puderam participar na Taça dos Campeões Europeus nesses primeiros tempos. Melhor dizendo, o vice-campeão espanhol.

O primeiro jogo europeu do Benfica, por exemplo, foi frente ao Sevilha na Taça dos Campeões Europeus. Enquanto os encarnados tinham ficado em primeiro em Portugal, os andaluzes foram segundos em Espanha. O Real Madrid era campeão nacional e europeu e o Sevilha recebeu a vaga correspondente ao campeonato interno.

Num período de quase 40 anos, só houve campeões nacionais e europeus a disputar a competição – em 1993/94, nova exceção, com o Mónaco no lugar do Marselha, envolvido num escândalo de corrupção - até que a UEFA mudou tudo há 20 anos.

As contas: 11-9 para os não-campeões

Em 1997/98, os campeões dos países mais baixos no Ranking UEFA voltaram a poder disputar a Champions. Durante algum tempo, estiveram destinados à Taça UEFA.

Porém, ao mesmo tempo que isso sucedeu, os oito primeiros países do ranking tiveram direito a que o segundo classificado da prova interna pudesse chegar à continental.

Alemanha, Inglaterra, Espanha, França, Holanda, Itália, Portugal e Turquia tiveram direito a dois lugares. E mesmo com as duas formações turcas a jogarem nas pré-eliminatórias, todas elas disputaram a fase de grupos.

Na coluna CAMPEÕES estão contabilizados os europeus que defendiam o título

Há 20 anos, a História começou a mudar em relação ao troféu que distingue o campeão europeu. Tanto que na época seguinte, o Manchester United tornou-se na primeira equipa a vencer a Champions sem ter conquistado o campeonato interno ou a prova europeia no ano anterior.

Esta é uma tendência que prevalece desde então. Entre 1997/98 e 2016/17, 330 clubes disputaram a fase de grupos da liga milionária como campeãs dos respetivos países ou da Europa. Por outro lado, 294 participaram como segundos, terceiros ou quarto classificados.

Devido à abertura de uma vaga para o vencedor da Liga Europa, o Sevilha chegou a participar como sétimo classificado de Espanha nesta última edição. Ainda assim, nada bate o registo de 2007/08 em que apenas 13 campeões nacionais, mais o Milan (europeu) tiveram acesso à fase de grupos. 

Assim, desde 1997/98, apenas 8 em 20 edições consagraram um campeão europeu que também o fora no país na época anterior. E uma, a última, significou a defesa do troféu. A vitória do Real Madrid encerrou um ciclo de cinco épocas seguidas em que o título continental foi para um clube que, no formato antigo, não teria direito a participar na competição.

É sabido que a UEFA vai mudar a lista de acesso à Champions na próxima temporada, com os quatros países que lideram o ranking a terem direito a quatro equipas diretamente na fase de grupos.

Desse modo, a Liga dos Campeões será cada vez menos destes, como tem vindo a acontecer.

Os campeões que nesta segunda-feira vão conhecer a sorte para as pré-eliminatórias terão caminho ainda mais difícil para chegar à final. Entre eles está o Celtic. Que já foi campeão europeu.