Estava escrito: Talisca viria à Luz para marcar e roubar dois pontos ao Benfica. Já nos descontos, de livre direto, a sua principal arma. Os encarnados, muito penalizados por lesões, ficaram muito perto de uma estreia feliz, depois de tanto terem lutado por ela.

Uma enfermaria recheada de titulares, extremos a jogar no meio, equipa esticada ao ponto de ter José Gomes no banco e João Carvalho entre os 20 convocados e depois na bancada. A média de idades a baixar para os 23 anos, a altura a acompanhar o rejuvenescimento, tal como a força física.

O Benfica entrou em campo reinventado para tentar vencer na estreia da Liga dos Campeões frente ao Besiktas, a quem emprestou Talisca, e que entraria ao intervalo para complicar, e onde já morava o campeão europeu Ricardo Quaresma.

Sem Jonas, sem Mitroglou ou Jiménez, sem Jovic e também sem Rafa, o último a chegar, Rui Vitória manteve Salvio e Pizzi sobre os flancos, e apostou em Cervi, que há algum tempo não era utilizado, para fazer dupla com Gonçalo Guedes. Parecia curto enganar um campeão turco reforçado com músculo a meio-campo – Inler e Hutchinson – e Caner Erkin – muitas vezes lateral – a ocupar-se do ataque pela esquerda.

Atrás, o poder físico de Marcelo e Tosic ameaçavam também chegar e sobrar para abafar o esforçado Gonçalo Guedes.

Tudo começa em André Horta

Depois de alguns minutos a assentar ideias, entregando a bola ao Besiktas, o Benfica conseguiu ultrapassar uma pressão mais alta do adversário, subindo de forma mais assertiva no terreno e empurrando-o para mais perto da sua baliza.

O golo cedo, aos 12 minutos, ajudou a consolidar a estratégia de Rui Vitória para o encontro. Fabuloso o passe do menino André Horta para a diagonal de Salvio. Com Marcelo para trás, mas com ângulo reduzido, o argentino acreditou no que parecia impossível e rematou. Zengin estranhamente defendeu para a frente, e Cervi, com uma fé tão grande como o compatriota, lançou-se para a frente e emendou para baliza.

Num encontro em que o Benfica nunca quis carregar muito, faltou aos homens de Rui Vitória uma melhor definição em algumas jogadas, algumas em igualdade de forças, como aquela em que Cervi levou a bola metros a mais, praticamente em cima do intervalo, e entregou para um já bloqueado Guedes. Outras, a presença na área, ou melhor a falta dela, também se fez sentir, mas isso seria de esperar.

Turcos mais chegados à frente

As primeiras alterações seriam feitas naturalmente por Senol Günes. Tirou os apagados Ozyakup, ao intervalo, e Adriano, aos 63, e feitas todas as contas recuou Erkin e meteu Quaresma à sua frente na esquerda. Talisca entrou para o meio, Aboubakar descaiu para a direita e Tosun, fresco, passou a ser a nova referência.

Aos 56, o brasileiro causou os primeiros problemas. Embrulhou-se com Lindelof e caiu. Seria falta, fora da área, mas Milorad Mazic nada assinalou. O Benfica cheirou o perigo e voltou a chegar-se à frente. A intensidade de Guedes aparecia finalmente e, por duas vezes, com ele também o ataque dos encarnados.

Dois momentos de aflição

A defender bem na generalidade do tempo, a equipa de Rui Vitória esteve perto de sofrer em dois momentos, e consecutivos. Na ânsia de travar o contra-ataque, Horta isolou Quaresma aos 74 minutos. Ederson disparou para a frente e aliviou contra Nélson Semedo. Foi por pouco que a bola não sobrou para Aboubakar, sem ninguém na baliza.

Logo depois, foi Tosun quem acentuou a sua aura de perdulário, atirando por cima, depois de servido por Aboubakar, que sairia pouco depois.

Punchline falhado por Guedes e dado a Talisca

A seis minutos do fim, Ricardo Quaresma a fugir à pressão dos encarnados nas costas dos seus centrais, entregou-lhes o triunfo de bandeja. Gonçalo Guedes roubou-lhe a bola e foi para a baliza, mas Zengin, com o pé esquerdo, defendeu para canto. Uma grande intervenção, que valeu ouro aos turcos.

Já nos descontos, André Horta jogou a bola com a mão em zona frontal e não houve quem tivesse fugido à sentença. Ricardo Quaresma levou Talisca para ao pé da bola, e o resto vocês já sabem. Alguém acreditou, em algum momento, que ele iria falhar?