*Em Madrid

José Mourinho volta a Madrid de rosto fechado. Embora o regresso não seja ao Santiago Bernabéu, que foi a sua casa, mas ao vizinho Vicente Calderón, o técnico português optou por guardar o sorriso. Pelo menos na véspera do primeiro duelo entre o Chelsea e o Atlético de Madrid.

No final do jogo talvez seja diferente, mas ainda assim é pouco provável, uma vez que faltará ainda um segundo duelo, em Stamford Bride. Para já Mourinho apresentou a postura séria que, de resto, era esperada na capital espanhola.

«Espero um Mourinho desafiante, altivo. Já ouvi dizer que não ia responder em castelhano, apenas em inglês», antecipava Miguel Martín Talavera, jornalista da Radio Marca, em conversa com à
«MF Total» poucos minutos antes da conferência de imprensa.

A expectativa não falhou: José Mourinho recusou sempre responder em castelhano. «É uma forma de manter as distâncias. Mostrar que o Real é um passado que não quer recordar», analisava antes o jornalista da Radio Marca.

Mourinho saiu «em guerra com a imprensa», conforme lembra Talavera, «mas os jornalistas que acompanham o Atlético não são aqueles com quem teve problemas», complementa.

Ainda assim José Mourinho preferiu mesmo manter a tal distância, que vai do Calderón ao Bernabéu. Poucas respostas tiveram mais do que duas ou três frases. Recusou abordar temas relacionados com a Premier League, dizendo que os jornalistas ingleses tinham dezanove equipas para isso, por estes dias. Uma forma subtil (ou nem tanto) de lembrar que o Chelsea é o resistente inglês nas meias-finais europeias, incluindo aqui a Liga Europa.

As várias atenuantes

O técnico português nem quis sequer analisar o Atlético. Elogiou o rival, mas sem entrar em detalhes, dizendo que preferia partilhar as suas visões apenas com os jogadores. Sem querer falar também do árbitro, Mourinho só se alongou um pouco mais quando a pergunta foi sobre Fernando Torres.

Com Eto’o castigado, o avançado espanhol pode ser titular frente à sua equipa. Algo que afastará ainda mais as atenções de Mourinho. «Se o regresso fosse no Bernabéu seria diferente, Mourinho ia centrar as atenções em si. Aqui talvez não seja preciso. Sobretudo se o Torres jogar, o que vai desviar um pouco as atenções», entende Miguel Martín Talavera.

No início do jogo as atenções «colchoneras» estarão centradas em «El Niño», mas depois é bem provável que as gargantas se afinem em direção a Mourinho. «Vai ser mal recebido. Foi treinador do Real, e no Calderón tudo o que diz respeito ao Real é inimigo. Os ultras, especialmente, vão lembrar-se dele muitas vezes durante o jogo», garante o jornalista da Radio Marca.

Mas também neste sentido Mourinho quis manter as distâncias. Por mais tumultuosa que tenha sido a saída do Real, o técnico português rejeitou aproximações ao rival. «Em Espanha o meu clube é o Real, e quando o Real vence competições em que não estou envolvido fico feliz», afirmou na conferência de imprensa, a propósito da conquista «merengue» da Taça do Rei.

Mas por mais que continue a ser visto como um rival pelos adeptos «colchoneros», Mourinho não jogou ao ataque nas palavras. Até porque no outro banco estará alguém com quem não teve atritos, mesmo quando lutavam pelos mesmos títulos.

«O jogo é demasiado importante para ser personalizado. E vai enfrentar um técnico com muita personalidade, também, mas com quem nunca teve enfrentamentos. A relação sempre foi correta, e isso vai baixar a tensão. O jogo está acima das pessoas», recorda Domingo García, do «La Razón».

«A relação é boa. Simeone sempre falou bem dele, sempre disse que admirava a sua filosofia. Há mais empatia com Mourinho do que com Guardiola, por exemplo», diz Miguel Martín Talavera.

A expressão de Mourinho não surpreendeu propriamente, mas ainda assim o técnico foi questionado sobre a sua postura. A resposta foi fiel ao registo. «Não mudou nada, só o tempo», disse.

Para já o sorriso fica guardado. Talvez apareça mais tarde.