Nomes novos, processo antigo. O Benfica voltou às derrotas, e a desta noite poderá muito bem ter sido fatal nas aspirações do emblema português na Liga dos Campeões.

O réu será, como outros já o foram esta época, um tal de Svilar, mas se os encarnados estiveram apenas dentro do razoável até o jovem belga entrar com a bola nas mãos pela baliza dentro, foram depois incapazes de fazer cócegas sequer a um adversário que parece estar a anos-luz. 

Se na defesa, houve maior concentração e as transições do Manchester United não fizeram a mossa que poderiam ter feito, muito por força de um Fejsa de novo bloqueador, no ataque a equipa voltou a estar pouco ligada e sem inspiração.

As novidades

Além do meio-campo a três, com Filipe Augusto, Rui Vitória apostou na continuidade de Svilar e Douglas, talvez por razões diferentes – as condições físicas de Júlio César têm sido uma incógnita; e já no caso do lateral teria forçosamente de haver uma opção diferente do que o castigado André Almeida – e na rotura, com Diogo Gonçalves para o lado esquerdo do ataque.

Três testes de fogo, cada um com a sua medida.

O jovem guarda-redes belga de 18 anos, pese embora os bons sinais dado no Algarve frente ao Olhanense, tornava-se o mais jovem de sempre numa Liga dos Campeões, perante uma das melhores equipas inglesas da atualidade e candidata – talvez não numa primeira linha, mas ainda assim candidata – a levantar o troféu no final. Acabou por pecar na jogada decisiva do encontro, muito provavelmente estratégica, face à insistência de Rashford.

O lateral brasileiro, ainda a carecer de consolidação no onze e depois de uma exibição sem rótulo de excelência no Algarve, iria ser constantemente provocado por um diabrete chamado Rashford, apostado em ganhar as suas costas e as de Luisão para o golo. Se a defender, confirmaram-se as dificuldades, esteve em bom plano no apoio ao ataque.

Já o jovem extremo, com cinco minutos pela equipa principal em toda a época, teria de contar com a oposição de uma fera como Valencia, e sempre com Herrera e Lindelof por perto. Não teve vida nada fácil, e foi-se perdendo em campo.

A isto havia ainda o exame a Rúben Dias, agora titular na Champions – Lisandro esteve no onze com o CSKA e Jardel entrou de início em Basileia – num eixo defensivo que teima em não estabilizar, e nem sempre pelas mesmas razões. Será desta? Não lhe faltaram cortes importantes para ajudar à afirmação.

Uma média de 25 anos em campo, e uma missão extraordinariamente difícil pela frente, agravada pelas derrotas nos dois primeiros encontros.

O espaço nas costas que afinal não havia

Vitória fez subir a defesa, e apresentou um meio-campo mais preenchido, com Filipe Augusto e sem Jonas, que retirou espaço ao Manchester United para a construção. Ou melhor, oferecia-o nas costas. Só que, prevenidos para os lançamentos longos para Lukaku e as corridas desenfreadas de Mkhitaryan e Rashford, controlando-os de frente, Rúben Dias e Luisão estiveram sempre muito atentos.

A primeira parte teve, por isso, poucas oportunidades. Os encarnados conseguiam chegar-se mais à frente sobretudo pela direita, com Douglas e Salvio muito ativos e Raúl Jiménez também a cair aí, mas não havia capacidade aérea para depois ganhar, na área, os cruzamentos.

O melhor momento surgiu, paradoxalmente, do outro lado. Grimaldo deu início a uma sucessão de dribles, e a uma combinação com Filipe Augusto, que acabou num cruzamento rasteiro, para a zona de penálti, com Salvio a surgir e a rematar com o pé esquerdo, ao lado. Tinham decorrido 16 minutos.

A equipa de Rui Vitória foi-se apagando, e a partir da meia-hora da primeira parte, foi o Manchester United quem mandou no jogo. Bem, foi mais do que mandar. O Benfica não conseguia sair, e sucediam-se as perdas de bola e os cantos, embora sem oportunidades flagrantes. Os «Red Devils» conseguiam furar posicionalmente e com bola as linhas do rival, e foram dez minutos (talvez mais) sufocantes e aos quais a equipa portuguesa escapou com dificuldade.

O segundo tempo

Pouco mudou no regresso nos balneários, em relação aos últimos minutos da primeira parte. O Benfica não voltou a intensidade do quarto de hora inicial, e os ingleses, apesar de irem tentando aqui e ali algo mais, nunca estiveram verdadeiramente incomodados com o resultado.

A primeira opção de Rui Vitória foi retirar Pizzi e fazer entrar Zivkovic, tentando substituir critério com bola pelo mesmo. Na altura, Diogo Gonçalves estava em quebra e já com amarelo, e apesar do menor rendimento do internacional português, seria a opção mais lógica. Não deu tempo para perceber os efeitos da mudança porque surgiu o erro de Svilar, aos 65 minutos. Rashford já tinha tentado dois cantos diretos, à terceira foi de livre. O belga recuou, recuou e a bola entrou mesmo. Era visível a olho nu, confirmou o árbitro a apontar para o relógio que lhe tinha dado o aviso. Um erro infantil, sim, mas que se percebe em quem acabou de fazer 18 anos e tem mostrado outras qualidades.

O recorde entrou, quase literalmente, pela baliza dentro.

O treinador «emendaria» depois a primeira substituição, com a entrada de Jonas para o lugar de Diogo Gonçalves. Acabaria com Zivkovic, que tinha entrado para o meio e estado já à esperda, no lado direito, e Cervi do lado canhoto.

O melhor que a equipa conseguiu, em termos atacantes, foi um remate de Rúben Dias por cima numa bola parada. Já o United pareceu rondar o segundo golo.

Até ao final, o Benfica ainda perdeu Luisão para Old Trafford, dando razão à Lei de Murphy. Qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível.

Mais um jogo, e parece que continua quase tudo por fazer na Luz. Melhor defensivamente sim, mas a mesma pobreza do meio-campo para frente.

Svilar, esse, continuará na expetativa até ao próximo jogo.