O Bayern Munique teve nas mãos o guia certo para bater o Real Madrid e ir a Espanha dentro de uma semana em posição privilegiada na luta por um lugar na final da Liga dos Campeões.

A superioridade da equipa bávara chegou a ser gritante, mas o bicampeão europeu, num misto de sorte e de cinismo que a caracteriza, encontrou, quase acidentalmente, o caminho da felicidade.

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Depois de uns primeiros 20 minutos marcados pela saída do lesionado Robben e por uma espécie de pacto de não-agressão entre duas equipas que pareciam querer prolongar por tempo interminável uma fase de estudo mútuo, o Bayern chegou ao golo por Kimmich. O lateral alemão aventurou-se no ataque e, depois de receber um passe magistral de James Rodríguez, atirou para o 1-0.

A equipa merengue parecia embrenhada na passividade que a caracterizara no duelo da 2.ª mão da eliminatória anterior com a Juventus. Depois do golo inaugural – e não obstante nova contrariedade, agora com a lesão de Boateng – os assaltos da cavalaria bávara ao castelo merengue sucederam-se. Ribéry, Hummels, Müller. Tiros de artilharia que saíam, quase por milagre, desviados da baliza de Navas.

A Virgem de Almudena, padroeira de Madrid, orava pelos homens Zidane, que se foram mantendo com as cabeças à tona num barco prestes a naufragar e à procura de um resgate cada vez mais improvável.

Diz o ditado que a sorte protege os audazes. Esta noite protegeu uma equipa a quem faltou audácia mas que foi letal nos momentos em que as oportunidades lhe caíram nos pés, mesmo sem a influência de um apagado Cristiano Ronaldo, que pôs termo a uma série recorde de 11 jogos consecutivos a marcar na Liga dos Campeões.

Quando os homens de Jupp Heynckes carregavam em busca do 2-0 e os merengues se limitavam a tentar manter a baliza de Navas a salvo, um balão para a zona frontal terminou com o remate certeiro de Marcelo.

A Allianz Arena gelava com a frieza blanca, que sobrevivia a uma primeira parte medíocre e ainda recolhia ao balneários com um sorriso cínico.

As grandes equipas têm tendência para ser assim, mas o Real é o expoente máximo nesta dimensão. Esta quarta-feira fê-lo nas duas partes.

Aos 57 minutos, nova estocada no coração bávaro. Rafinha entregou o ouro ao bandido quando a equipa da casa estava instalada na área contrária na sequência de uma bola parada e o resto foi escrito por Asensio, lançado no arranque da etapa complementar para o lugar de Isco.

Por essa altura, o ímpeto do Bayern não era o mesmo da primeira parte, mas voltou a sê-lo depois disso. Claramente mais oleado do que o Real, o conjunto de Jupp Heynckes voltou a abrir fendas. Os assaltos sucediam-se. Com jeito e em força. Navas entrou em ação e ganhou no mano-a-mano com Ribéry (o melhor da noite). Müller e Lewandowski também não tiveram o acerto que se lhes impunha. Faltara-lhes a sorte que andou numa comunhão quase perfeita com o Real Madrid durante 90 minutos.

E esta quarta-feira nem foi preciso invocar São Cristiano. O português não fez um único remate em direção da baliza contrária e teve um golo anulado aos 72 minutos depois de controlar uma bola com o braço.

O Real Madrid segue para a 2.ª mão em vantagem com o mesmo resultado que conquistou há um ano frente ao Bayern e também em terras germânicas. Está tudo em aberto, ou não fosse a equipa de Zidane tão bipolar como feliz na mesma medida.

Se a sorte a abandonar, vai ter de jogar mais qualquer coisinha.