Saúl Níguez, o menino de Elche, merece uma estátua à porta do Vicente Calderón. Uma placa, pelo menos. O seu golo, obra de génio, garante uma vantagem importantíssima para o solidário Atlético Madrid perante a máquina trituradora do Bayern Munique.

A paixão pela posse de bola e pelo futebol vertical não produziu resultados práticos. Depois de afastar o Barcelona, o Atlético voltou a demonstrar que também há arte num bloco, desde que esculpido de forma superior, e pode aspirar à final da Liga dos Campeões.

EIS A FICHA DE JOGO

De nada valeu ao Bayern Munique uma percentagem de posse de bola a rondar os setenta por cento. Montou o certo à baliza de Jan Oblak, esteve perto de chegar ao empate em algumas situações (destaque para o remate de Alaba à trave) mas podia igualmente ter sofrido o segundo golo.

Alaba, curiosamente, acaba como réu nesta história. Foi sobre ele que Saúl Níguez dançou na área, ao 11º minuto de jogo, e Fernando Torres fez o mesmo na etapa complementar antes de rematar ao poste da baliza à guarda de Manuel Neuer. A adaptação do lateral ao centro da defesa foi uma aposta falhada.

Saúl foi o escultor de uma obra de arte na reta final do encontro. O médio de 21 anos pegou na bola à frente da linha do meio-campo e foi por lá fora. Passou por um. Depois pelo meio de dois - Xabi Alonso e Bernat. Por fim, bailou à frente de David Alaba. que não atacou a bola. O suficiente para ganhar espaço e atirar em arco com o pé esquerdo, para o poste mais distante.

O irmão de Aaron (Sp. Braga) e Jony (ex-Rio Ave e Feirense) continua a demonstrar ser o menino-pródigo da família Níguez.

Estavam lançadas as bases para o jogo desejado pelo Atlético de Madrid. A postura defensiva assenta bem à equipa de Diego Simeone, demonstrando a habitual solidariedade perante um Bayern que sentiu dificuldades porventura inesperadas para criar grandes oportunidades de golo.

A melhor, como escrevemos acima, veio de um pontapé de Alaba do meio da rua, já ao minuto 54.

Artur Vidal teve um cabeceamento perigoso (12m), Douglas Costa atirou às malhas laterais (25m) e Jan Oblak brilhou após remate de Vidal (74m). Porém, com bem menos posse de bola, o Atlético criou um número interessante de ocasiões para chegar ao segundo.

Ainda na primeira parte, Griezmann conseguiu fugir a Javi Martínez e obrigou Manuel Neuer a defesa com os pés. Já na etapa complementar, foi Fernando Torres a surgir em contra-ataque para rematar de trivela ao poste, depois de beneficiar da falta de agressividade defensiva de Alaba.

Pep Guardiola lançou os pesos-pesados que tinha no banco de suplentes – Ribery e Thomas Muller -, embora para tal tenha optado por sacrificar o seu pensador de jogo: Thiago Alcântara. Já na reta final, após o remate de Torres ao poste, fez entrar Benatia para apagar o foco de perigo no centro da defesa.

O Atlético sentiu-se bem na pele habitual, de bloco sólido e solidário, com Diego Simeone a proporcionar o entusiasmante espetáculo no banco e o Vicente Calderón a projetar a imagem de uma família única, forte e invencível. Grande noite de Champions. Mais uma. Tem a palavra o Bayern, em Munique.