Quem tem Dybala, Higuaín, Cuadrado, Mandzukic ou Pjanic arrisca-se quase sempre a vencer, mesmo que esta seja uma orquestra pouco oleada. Ter estes jogadores coloca a Juventus mais perto do triunfo e esta época tem sido os golos do génio argentino a disfarçar um conjunto de Allegri a anos-luz do que fez na última época.

O Sporting chegará a Turim para defrontar uma Juventus ferida, que não ganha há dois jogos para a Serie A e que já está a cinco pontos do líder Nápoles. Depois de um empate em Bérgamo, com a Atalanta, a Vecchia Signora perdeu com a Lazio, em casa, quebrando uma série de 41 jogos consecutivos sem perder para o campeonato no seu estádio. Olhando para jogos de Liga dos Campeões, a Juventus não perde como anfitriã desde 2013, nos quartos de finais da prova com o Bayern Munique.

Estes condimentos complicam a partida aos leões, mas Jorge Jesus saberá que há pontos que pode explorar para surpreender esta Juventus.

Massimiliano Allegri deixou o modelo de três centrais e esta época assume o 4-2-3-1. As perdas de Bonucci e Dani Alves não permitem que o sistema anterior seja tão efetivo, até porque tem menos soluções, e por isso mudou, privilegiando Dybala, que está mais liberto de tarefas defensivas e joga solto atrás do avançado. Para já, a campeã italiana conseguiu marcar 25 golos em 11 jogos, mas já encaixou 13, apenas dois deles em casa.

Onze provável, sendo que Pjanic está em dúvida e Sturaro deverá ser a hipótese mais forte para lateral direito. Há ainda a possibilidade de Barzagli fazer a posição e Benatia ou Rugani serem o central direito.

A Juve privilegia a bola no chão, com uma saída pelos centrais e com um dos médios do duplo pivot a recuar para definir depois o jogo. É quase sempre Pjanic (que deve voltar à equipa após lesão que o afasta desde 23 de setembro) o homem da batuta, que começa e empurra a equipa até à área rival.

Os laterais projetados, sobretudo Alex Sandro à esquerda, já que Mandzukic é o falso extremo-esquerdo e pisa muito terrenos centrais (ver abaixo).

Pjanic procura os avançados/extremos entre linhas, que normalmente vão depois tentar explorar a profundidade e a largura do campo para chegar a terrenos de finalização.

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Pjanic a recuar para organizar. O outro médio ao lado, um pouco mais avançado, a dar linha de passe para a transição.
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Aqui é Matuidi a fazer esse papel (Pjanic não jogou por lesão). Bentancur, o outro médio, uns metros mais à frente.

Só que quando não dá para ir por fases até ao ataque, a Juventus é muito forte a avançar passos e a chegar na mesma com perigo. Pjanic ou um dos centrais procuram pelo ar Higuaín ou Mandzukic, sobretudo este já que normalmente não perde um duelo aéreo. Se a bola for ganha cabe aos colegas ficar com a segunda bola em terrenos adiantados e daí atacar a baliza rival.

Defensivamente, Allegri constrói duas linhas de quatro com Dybala e Higuaín lado a lado na primeira linha de pressão.

A Juventus pressiona muito alto, com os dois médios bem subidos no terreno e, por vezes, até com um dos centrais bem avançado.

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Os dois médios a pressionarem bem alto, junto aos avançados, e com sucesso. Pjanic roubou e a Juventus depois ficou em superioridade. Dybala ficou com a bola e fez golo.
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Benatia (central), destacado com um círculo preto, bem avançado, de olho no avançado que recuou. Pjanic, assinalado a vermelho, junto aos avançados a impedir a saída de bola do médio do Torino e a «obrigar» a bola longa.
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Avançados a pressionar, médio, no caso Bentancur, a acompanhar o médio da Atalanta para anular linhas de passe. Mandzukic compensa dentro do lado esquerdo.

A maior parte das vezes tem resultado e a Juventus não permite que a equipa adversária tenha muito tempo a bola. Só que como manta que estica de um lado, destapa do outro, a Vecchia Signora tem tido problemas devido a esta pressão e o último jogo com a Lazio é exemplo disso. Quando o adversário consegue sair da pressão, fica com muito espaço para jogar e rumar à baliza de Buffon. O espaço entre os médios e os defesas é enorme e se a bola entra lá os pupilos de JJ podem incomodar. É por aqui que o Sporting pode criar mossa.

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Bentancur, assinalado a vermelho, subiu no terreno para pressão, Matuidi, também a vermelho, estava do lado esquerdo a compensar subida de Alex Sandro. Bernardeschi, extremo-direito, não compensou dentro, manteve-se aberto e criou-se um buraco no meio-campo da Juventus. Acontece frequentemente, sobretudo sem Pjanic em campo.

Há ainda um défice posicional dos médios da Juventus, que pouco ajudam dentro de área. Quando enfrentam uma equipa em que os médios aparecem na área, os centrais da Juventus perdem a superioridade numérica.

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Aqui a Atalanta até tem mais homens na área que a Juventus. Vai dar golo do homem que está à entrada da área (Cristante), que ganhou nas alturas. Matuidi e Bentancur estão fora da área, um colado ao lateral direito, sem que nenhum deles faça pressão, e o outro perto da meia-lua, mas sem saber o que se passa nas costas.

Quando não opta pela pressão elevada, a Juventus é uma equipa que joga com as linhas muito juntas, não tendo problemas em jogar com os onzes jogadores muito perto da área. Esta é uma postura utilizada sobretudo fora de casa.

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11 jogadores da Juventus bem perto da área, numa altura em que a Atalanta dominava o jogo

DANI ALVES sai, a JUVENTUS não inscreve Lichtsteiner e o lado direito fica «manco»

Um dos grandes problemas da Juventus está no lado direito e foi criado pelo próprio clube. Dani Alves rumou a Paris e a Juventus foi buscar De Sciglio ao AC Milan para se juntar a Lichtsteiner na lateral direita do plantel.

Só que…o suíço ficou fora dos eleitos para a Liga dos Campeões. Para piorar o cenário De Sciglio lesionou-se na estreia frente ao Barcelona e, por isso, Allegri está obrigado a improvisar nesta prova desde então. Sturaro, médio centro, tem sido opção, mas sem sucesso, quer ofensivo quer defensivo.

Pela direita a Juventus sai menos: se de um lado Alex Sandro está sempre bem projetado e a ajudar o ataque, sem Lichtsteiner nos eleitos cabe ao extremo Cuadrado assumir esse papel. O colombiano joga bem junto à linha, compensando a falta de profundidade e de conhecimento na posição de Sturaro. Barzagli pode também ser opção para jogar como defesa direito. Acuña terá um oponente sem rotinas e o Sporting deve aproveitar isso.

Para piorar o cenário da lateral direita, Bonucci saiu e o parceiro de Chiellini, central pela esquerda, ainda não está definido. Rugani, Benatia ou Barzagli tem rodado no lugar, mas Allegri ainda não definiu a titularidade. Por isso, as rotinas são poucas e a Juventus tem sofrido com isso. O espaço entre lateral e central tem sido explorado com sucesso pelos adversários.

A importância de Mandzukic

O croata não é um portento técnico e nem sequer é um extremo, mas é tremendamente competente em qualquer lado em que joga e Allegri sabe disso. Colocou o ponta de lança no lado esquerdo para conseguir juntá-lo na equipa com Dybala e Higuaín. E, surpreendentemente, deu resultado.

Mandzukic comprometeu-se com a causa da equipa e ajuda Alex Sandro como nem sequer Cuadrado o faz com o lateral contrário. Quanto a golos são menos, mas lá vai fazendo. Esta época já leva três, menos um apenas que o segundo melhor marcador Gonzalo Higuaín, que ocupa a posição 9.

Como Alex Sandro dá profundidade ao lado esquerdo, Mandzukic pisa muito os terrenos centrais criando superioridade nesses terrenos e ajudando a dupla da frente a desequilibrar os centrais. Piccini e Gelson terão muito trabalho e os médios terão de dar uma boa ajuda quando o croata se aproximar de Higuaín.

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Mandzukic a vir dentro e a finalizar cruzamento da direita. Deu golo!
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Corredor para Alex Sandro, Manduzkic assinalado na imagem a jogar bem dentro para confundir marcações.
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Aqui o croata a desequilibrar marcações e a isolar Cuadrado.

Este movimento de Manduzkic para o centro do terreno cria a superioridade já mencionada. Com a subida dos médios, apenas um ou os dois em simultâneo, a Juventus coloca muita gente em zona de finalização e canaliza por terrenos centrais muito do seu jogo. Dos 25 golos, 14 foram marcados por lances criados no centro do terreno, como aquele que está na imagem anterior, resultante de um passe de Mandzukic para Cuadrado.

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Os dois avançados, os dois médios e os dois extremos muito próximos.
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Dois avançados, dois extremos e um dos médios dentro de área.

A Allegri não faltam soluções, já que tem ainda Khedira (poucos minutos esta época devido a lesão), Douglas Costa, Bernardeschi ou Bentancur (jovem uruguaio que está a ganhar espaço), tudo jogadores que podem ser excelentes soluções. Marchisio, De Sciglio e Howedes falham o jogo por lesão.

A FIGURA: DYBALA, toque de génio

A orquestra de Turim não está afinada, mas o mesmo não se pode dizer de Dybala. O argentino tem 12 dos 25 golos marcados (e ainda falhou dois penáltis nos últimos dois jogos) pela Juventus e nunca pede licença para (re)matar. Se há espaço, Dybala fuzila e por isso qualquer descuido pode ser letal. À semelhança de Messi no Barcelona, o avançado não tem uma posição bem definida, sendo um vagabundo no ataque. Prefere terrenos mais descaídos para a direita, para beneficiar do pé esquerdo. Jorge Jesus deverá voltar a usar o plano defensivo que escolheu para o duelo com o Barcelona, com Battaglia e Mathieu, alternadamente e conforme o momento do jogo, de olho em Dybala. Se conseguir anular a influência do argentino muito do bom da Juventus estará anulado.