«The Champioooons…» Está de volta a Liga dos Campeões, o hino a embalar o ambiente enquanto a elite do futebol entra em campo na luta pelo troféu mais cobiçado. A 69ª edição da competição será especial por várias razões. É a última no atual formato, antes de uma remodelação que trará mais jogos e, claro, mais dinheiro. Além disso tem três equipas portuguesas, o que não se repetirá pelo menos nos tempos mais próximos. E é também a primeira em 20 anos que não terá em campo nem Cristiano Ronaldo nem Messi, os fenómenos que ao longo de duas décadas construíram uma narrativa irrepetível. Em 10 números, dados e curiosidades que resumem a história e a edição que agora começa, com o pontapé de saída da fase de grupos nesta terça-feira.

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Equipas Portuguesas

Depois das «Big 4», Portugal é o país mais representado na fase de grupos da Champions 2023/24. Benfica e FC Porto já tinham lugar garantido, o Sp. Braga passou duas eliminatórias e assegurou também a presença na fase de grupos. É a nona vez que estão três equipas portuguesas em competição, a terceira consecutiva. Mas é aproveitar enquanto dura, porque este é um cenário que dificilmente se repetirá nos próximos anos. A prestação das equipas nacionais nas últimas épocas já ditou a queda de Portugal para o sétimo lugar do ranking a partir de 2024/25, o que significa que na próxima edição apenas terá entrada direta na competição o campeão nacional, com o segundo classificado a partir da terceira pré-eliminatória. As perspetivas portuguesas a curto prazo não são boas. Os pontos que somarem as três equipas na Champions, mais o Sporting na Liga Europa, terão de ser divididos por seis, o número de equipas portuguesas à partida, depois de V. Guimarães e Arouca terem caído nas pré-eliminatórias da Liga Conferência, à semelhança do que tinha acontecido com as outras equipas portuguesas nas duas edições anteriores da nova competição da UEFA. Se isso diz muito sobre o fosso que separa as equipas de topo da «classe média» da Liga portuguesa, a notícia menos má é que a partir de 2024/25 os pontos que cada clube somar dividem por menos um, porque Portugal passa a ter apenas cinco equipas nas competições europeias.

O calendário das equipas portuguesas

20

anos depois, sem Cristiano nem Messi

Nem um nem outro. É preciso recuar a 2002/03 para encontrar a última fase de grupos da Liga dos Campeões sem nenhum dos dois fenómenos que se despediram agora do futebol europeu, depois de arrebatarem o jogo nas últimas duas décadas. Cristiano Ronaldo tinha-se apresentado ao mundo em agosto de 2002 precisamente numa fase preliminar da Champions, lançado para a última meia-hora ainda no velho Estádio de Alvalade no nulo frente ao Inter da terceira pré-eliminatória, antes de uma vitória italiana por 2-0 na segunda mão. A partir da época seguinte, já com a camisola do Manchester United, Cristiano começou a escrever a lenda. E que lenda. A Champions foi o palco favorito da máquina goleadora em que se tornou o internacional português, o primeiro a vencer a competição na nova era por cinco vezes, uma com o United e quatro com o Real Madrid. Seguiu-se a Juventus, para um percurso de 19 épocas em que o internacional português deixou a fasquia em números incríveis: 183 jogos (contando apenas a partir da fase de grupos; tem mais quatro em pré-eliminatórias), 140 golos (141 no total), seis vezes melhor marcador, recordista de golos numa só época, com os 17 que apontou em 2013/14. Em 2002, Messi ainda crescia em La Masia. Tinha 16 anos quando em novembro de 2003 se estreou pela equipa principal do Barcelona, em pleno Estádio do Dragão. Estreou-se na Liga dos Campeões pouco mais de um ano depois e em 19 temporadas levantou quatro vezes o troféu. É o terceiro com mais jogos de sempre, atrás de Cristiano e também de Iker Casillas. E o segundo com mais golos, 129. Messi também foi seis vezes melhor marcador da Liga dos Campeões, alternando com CR a conquista de um troféu que foi exclusivo deles no ciclo de ouro entre 2008 e 2019. Nenhum outro jogador tem 100 golos na prova. O mais próximo, ainda com oportunidade de aumentar a conta, é Robert Lewandowski. O avançado polaco que há um ano trocou o Bayern Munique pelo Barcelona soma 91 golos. Nas últimas temporadas já houve outros a assumir o palco e já é possível antever que fenómenos como Haaland, que tem 35 golos em 30 jogos na Champions e foi duas vezes melhor marcador em três anos, ou Mbappé, com 61 jogos e 40 golos aos 24 anos, possam vir a ameaçar os recordes. Mas, no momento em que começa em definitivo a era pós-Ronaldo e Messi na Champions, não restam muitas dúvidas de que uma história como a que protagonizaram os dois não se repete.

15

países

Entre os 32 participantes na edição deste ano há representantes de 15 países, mas mais de metade vêm das quatro principais Ligas – cinco de Espanha, com o Sevilha aumentar a quota graças ao triunfo na Liga Europa, mais quatro de Inglaterra e outras tantas da Alemanha e de Itália. Portugal é o quinto país mais representado, com três equipas, à frente de França e Países Baixos. Nenhum outro país tem mais de uma equipa e a predominância dos grandes da Europa continua evidente na edição que assinala precisamente 20 anos do FC Porto campeão europeu. Desde 2004, quando os dragões venceram o Mónaco na final de Gelsenkirchen, nunca mais uma equipa fora das «Big 4» levantou a Taça. E, tirando o PSG em 2020, mais nenhuma chegou sequer à final.

O calendário e os grupos da Liga dos Campeões

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Estreia

É a primeira vez absoluta do Union Berlim na primeira competição da UEFA, mas há mais novidades na edição deste ano. Também é virtualmente uma estreia para o Antuérpia, campeão da Bélgica ao fim de 66 anos, que nunca jogou uma fase de grupos da Liga dos Campeões até hoje só tinha uma presença na então Taça dos Campeões Europeus, no longínquo ano de 1957. O agora adversário do FC Porto foi então cilindrado pelo Real Madrid, com um resultado agregado de 8-1 na primeira ronda. Outro passageiro muito pouco frequente destas andanças é o Lens, que tinha até aqui uma presença na fase de grupos, em 2002/03. Foi exatamente nessa época que esteve também pela última vez nesta fase o agora regressado e renovado Newcastle. Também estão de volta após longas ausências equipas como o Sp. Braga – na terceira participação, a primeira desde 2012/13 – e Real Sociedad, um dos adversários do Benfica, de volta à fase de grupos da Champions ao fim de 10 anos. Ou o Arsenal, de volta ao fim de seis anos de ausência. Estão em prova de resto a grande maioria dos favoritos, mas há baixas de peso. Não estão históricos como o Liverpool, na Liga Europa depois do quinto lugar na Liga inglesa na época passada, ou Chelsea, 12º na Premier League apesar da chuva de milhões gastos. Nem a Juventus, excluída da Europa por irregularidades financeiras, ou o Ajax, terceiro na Eredivisie e que estará também na Liga Europa.

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Títulos do Real Madrid

Não há quem chegue sequer perto. O Real Madrid conquistou o dobro de troféus do que o segundo da lista, o Milan. A Taça dos Campeões Europeus começou a pintar-se de branco desde o primeiro dia, com as cinco conquistas consecutivas do Real nas primeiras edições. O Benfica, bicampeão em 1961 e 1962, foi o primeiro clube a quebrar essa hegemonia. Seguiram-se vários ciclos de domínio de outros clubes, também vitórias isoladas e um longo jejum do gigante espanhol, que entre 1960 e 1998 só voltou a vencer por uma vez. Foi na segunda década do século XXI que o Real Madrid aumentou a sua lenda na competição, reforçada com as três vitórias consecutivas entre 2016 e 2018, quando quebrou de caminho uma espécie de maldição do campeão – foi a primeira equipa a revalidar o título na era Liga dos Campeões, que começou em 1992/93. Ao Real Madrid de novo campeão em 2022 sucedeu o Manchester City, que conseguiu em 2023 vencer o troféu pela primeira vez. Tornou-se o 23º clube a vencer a competição em 68 edições. Depois do Milan, com sete títulos, Bayern Munique e Liverpool dividem o último lugar do pódio, ambos com seis conquistas. Segue-se o Ajax, com quatro, depois Inter e Manchester United com três e depois cinco clubes com dois troféus, entre eles Benfica e FC Porto, campeão em 1987 e 2004, acompanhados de Juventus, Nottingham Forest e Chelsea. A Juve é recordista de finais perdidas, um «título» indesejado que pertenceu durante muito tempo ao Benfica – as águias perderam cinco finais, contra sete da «Vecchia Signora».

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Presenças do FC Porto

Só Barcelona e Real Madrid estiveram mais vezes na fase de grupos do que o FC Porto. Ambos iniciam agora a 28ª presença, mais uma dos que os dragões, que dividem o segundo lugar com o Bayern Munique. O FC Porto, que conquistou o troféu em 2003/04, só falhou a presença em cinco edições da Liga dos Campeões, desde 1992/93 – sendo que em duas dessas temporadas, 2002/03 e 2010/11, venceu a Liga Europa. O Benfica soma 18 presenças, a maioria delas na última década, enquanto o Sp. Braga vai para a terceira aparição nesta fase. Em Portugal, a lista de clubes que já participaram na competição é curta – cinco no total, com o Boavista a juntar-se aos tradicionais três «grandes» e ao Sp. Braga. Muito longe de países como a Alemanha, que já teve 15 clubes diferentes na prova na era Liga dos Campeões, ou da Espanha, com 13. Falando ainda de presenças, se contabilizarmos a competição desde a sua criação, em 1955, o Real Madrid lidera isolado a lista, com 53. O Benfica é segundo, com 42. Seguem-se Bayern Munique, Ajax e Dínamo Kyev, todos com 39, seguidos de perto pelo FC Porto, com 37.

65

Portugueses

Além dos jogadores que representam Benfica, FC Porto e Sp. Braga, há muito talento português para seguir na atual edição da Liga dos Campeões. São 65 portugueses ao todo, 25 em equipas estrangeiras. Uma lista que começa desde logo no campeão em título, com três jogadores lusos. No Manchester City estão Bernardo Silva, Rúben Dias e agora também Matheus Nunes. O PSG é o clube estrangeiro com mais portugueses, quatro no total. Pode ver a lista completa aqui. Em contraste, os treinadores portugueses praticamente desapareceram do mapa da Champions. Sérgio Conceição e Artur Jorge são os únicos representantes da classe, sem nenhum português no banco de equipas estrangeiras. Nos últimos 20 anos foi frequente a presença de treinadores portugueses, liderados por José Mourinho, vencedor em 2004 ainda com o FC Porto e depois em 2010 com o Inter, com 19 temporadas de Champions e centena e meia de jogos no banco. O agora treinador da Roma, o quinto técnico com mais partidas na Liga dos Campeões, não voltou à competição desde 2019/20 e o vazio acentuou-se a partir daí, sem qualquer treinador português em equipas estrangeiras nas últimas três temporadas.

8

Finais em Wembley

É de longe o palco mais repetido, ainda que em bom rigor sejam dois palcos. A final da Liga dos Campeões está marcada para 1 de junho, em Wembley. Será a oitava decisão no recinto londrino, somando o estádio original e o atual. O velho Wembley, que foi demolido no início do século, recebeu cinco finais. No lugar dele nasceu o novo estádio, com capacidade para 90 mil espectadores e que já recebeu duas finais, em 2011 e 2013. Nenhum outro estádio recebeu mais de quatro finais. Portugal já acolheu a decisão em quatro ocasiões. A primeira foi no Estádio Nacional, quando em 1967 o Celtic venceu o Inter para conquistar a única Taça dos Campeões Europeus da sua história. Passaram muitos anos até o Estádio da Luz receber a final seguinte, em 2014, uma final espanhola que viu o Real Madrid levar a melhor sobre o Atlético. Depois, em circunstâncias especiais ditadas pela pandemia, a Luz voltou a acolher uma final sem espectadores em 2020, quando o Bayern Munique venceu o PSG. E na época seguinte, ainda com assistência reduzida, foi o Estádio do Dragão a receber nova final entre dois clubes do mesmo país, com o Chelsea a vencer o Manchester City. Para a memória ficam ainda os palcos das conquistas portuguesas: em 1961 o Benfica festejou no antigo Estádio Wankdorf, em Berna, antes de repetir a conquista um ano mais tarde no Olímpico de Amesterdão. Em 1987 o FC Porto levantou o seu primeiro troféu no Prater, em Viena. E em 2004 foi Gelsenkirchen o cenário da nova conquista dos dragões.

3.5

Mil milhões

É o valor da receita bruta estimada pela UEFA para as competições europeias em 2023/24, semelhante à da última temporada. Desse bolo, 2.002 mil milhões são distribuídos pelos clubes que participam na Liga dos Campeões. Como termo de comparação, o valor total a distribuir na Liga Europa é de 465 milhões, mais de quatro vezes menor, enquanto a Liga Conferência distribui metade disso, 235 milhões no total. Os prémios aos clubes dividem-se por quatro parcelas. A presença na fase de grupos garante 15.64 milhões a cada clube, a que se juntam os prémios de jogo – 2.8 milhões por vitória e 930 mil por empate. Depois, a qualificação para os oitavos rende 9.6 milhões, que sobem para 10.6 nos quartos, mais 12.5 pela presença nas meias-finais e 15.5 milhões para cada um dos finalistas. O campeão europeu recebe ainda mais 4.5 milhões. A terceira parcela dos prémios diz respeito ao coeficiente de cada clube a 10 anos – o líder Real Madrid recebe 36.38 milhões e por aí abaixo, subtraindo 1.137 milhões por cada posição no ranking. O que é que isto quer dizer para os clubes portugueses? O FC Porto, 13º nesta lista mas que sobe para 10º na atual temporada face às ausências de equipas mais cotadas, garante desde logo 26.151 milhões através deste ranking a 10 anos, o que somado ao prémio de presença dá 41.791 milhões garantidos ainda antes de entrar em campo. O Benfica, 12º no ranking esta época, já soma 39.517 milhões, enquanto o Sp. Braga, que ocupa a 22ª posição, garantiu à cabeça 28.147 milhões. A tudo isto soma-se a quarta parcela, correspondente ao market pool, um bolo de 300.3 milhões distribuído em função do valor de cada mercado televisivo, em duas parcelas: metade tendo em conta a classificação nacional da época anterior (no caso português são 45 por cento para o campeão Benfica, 35 por cento para o FC Porto e 20 por cento para o Sp. Braga) e a outra metade o número de jogos de cada clube na atual edição da Champions.

36

Clubes na nova Champions

Esta é a última edição da Liga dos Campeões como a conhecemos. O formato mais ou menos estável que se manteve ao longo de duas décadas vai dar lugar a outra coisa a partir de 2024/25. A resposta da UEFA à ameaça da Superliga foi uma reformulação que teve várias versões, teve avanços e recuos e se fixou finalmente em mudanças que começam num alargamento e muito mais jogos. Passam a entrar 36 equipas, mais quatro do que habitualmente – mais uma equipa do quinto classificado do ranking, outra vinda do caminho dos campeões nacionais na qualificação e mais duas oriundas dos dois países com melhor performance coletiva na Europa na época anterior. Deixa de haver fase de grupos e joga-se num formato de Liga, naquele a que se chama «modelo suíço». Cada clube faz oito jogos, mais dois do que atualmente, quatro em casa e quatro fora. Os oito primeiros apuram-se diretamente para os oitavos de final e os clubes classificados entre o 9º e o 24º lugar disputam um play-off para apurar os restantes oito apurados. Tudo somado, isto representa um enorme aumento de jogos, dos atuais 125 para 189. E, claro, um aumento de receitas, que a UEFA estima seja na ordem dos 33 por cento em relação aos atuais 3.5 mil milhões.