Barcelona, Real Madrid e At. Madrid. PSG e Mónaco. FC Porto e Juventus. Três equipas espanholas, duas francesas, uma portuguesa e uma italiana. Só a presença – e que presença, senhores! - do Bayern de Munique impede que se fale já numa nova edição da Taça Latina a propósito desta Liga dos Campeões 2014/15. Mas até isso pode ser contestado, se considerarmos a influência de Pep Guardiola no atual modelo de jogo do colosso alemão. Desde que a prova tem fase de grupos nunca se tinha registado um ascendente tão claro das equipas latinas – e para isso muito contribuiu o eclipse da Premier League, oficializado nesta quarta-feira, com a esperada eliminação do Manchester City em Barcelona.



Pela segunda vez em três anos, o campeonato inglês não consegue pôr nenhuma das suas equipas de topo entre as oito melhores da Europa, depois de um eclipse semelhante em 2012/13. A prova definitiva de que a Liga espanhola – ou antes, as suas três melhores equipas – estão num patamar competitivo superior? Talvez ainda mais do que isso, porque se alargarmos a observação à Liga Europa, vemos que o Everton é, nesta altura, o último representante de uma Liga que, ainda há cinco anos era unanimemente apontada como a melhor do continente.

A noite em que se completou o lote de potenciais adversários do FC Porto no sorteio desta sexta-feira não trouxe surpresas: o grande 2-1 que o Barcelona trouxe de Inglaterra e o pequeno 2-1 que a Juventus levou para a Alemanha foram suficientes para sentenciar as eliminatórias. E se, em Dortmund, ainda havia pretextos para esperar um jogo emocionante, o grande golo de Carlos Tevez, ainda antes de completado o terceiro minuto, deixou bem claro de que lado soprava o vento. Isto, apesar da imponente coreografia com que os adeptos alemães tentaram dar asas à sua equipa.



Com dupla vantagem, os italianos puderam a partir daí fazer o seu ideal de jogo: agrupados em redor da área de Buffon, obrigaram o Dortmund a um ataque posicional, privando-o das transições que Klopp tanto aprecia. Assim, mesmo com a lesão de Pogba a complicar um pouco o cenário, a Juventus, liderada por um Tevez em estado de graça, teve sempre a eliminatória controlada, bem antes de Morata o argentino fixarem um 3-0 inapelável. Depois da meia-final da Liga Europa perdida para o Benfica, há um ano, esta presença nos quartos da Champions assinala o regresso definitivo da «Juve» à elite – e também da série A que, na época passada, também não tinha tido qualquer equipa nesta fase da prova.



Messi e Hart em mano a mano

Se Tevez foi rei incontestado em Dortmund, outro argentino – sim, esse mesmo em que estão a pensar... - teve protagonismo repartido no Camp Nou. Sob o olhar atento de Pep Guardiola, que voltou ao seu antigo estádio, desta vez em missão de espionagem ao serviço do Bayern, Lionel Messi deu um autêntico recital de futebol. E isto mesmo sem marcar, o que mantém num impasse o seu ombro a ombro com Cristiano Ronaldo pelo título de melhor marcador de sempre na competição.



A quatro dias do clássico para a Liga espanhola, o «show» de Messi teve expressão mais visível na fantástica assistência que permitiu a Rakitic marcar o único golo do jogo – selando, à passagem, um apuramento catalão que a equipa inglesa nunca pareceu capaz de pôr em causa. Mas as subtilezas da «pulga» foram muito para além da contabilidade e estatística, sendo capaz de arrancar expressões do mais incontido espanto, mesmo a quem trabalhou com ele anos a fio:



Dito isto, Messi não foi o único herói da noite: num jogo com 37 remates, dos quais 17 foram à baliza ou aos ferros, a portentosa exibição de Joe Hart foi a única coisa a separar o Manchester City da goleada. É verdade que, a dez minutos do fim, Agüero falhou um penálti (ou melhor, Ter Stegen brilhou ao defendê-lo) que poderia ter dado um suplemento de emoção aos minutos finais. Mas o desequilíbrio de forças foi sempre bem mais evidente do que sugeria o marcador, confirmando a ideia que, ao contrário de um Manchester City que parece cada vez mais necessitado de um novo ciclo, o Barcelona chega à fase decisiva da temporada com as suas estrelas em muito bom momento. Em especial Messi, cuja exibição provocou em especialistas como Gary Lineker o maior e mais incontido dos elogios.
 


A conversa promete continuar, claro. Mas pelo que se tem visto para já, é difícil não pôr, para o sorteio de sexta-feira Champions, Bayern e Barcelona um pouco à frente da restante concorrência. Depois, há seis equipas que conquistaram o direito a sonhar – e entre elas, claro, o FC Porto, um dos cinco ex-campeões ainda em prova, neste regresso à elite seis anos depois.