Viena, Sevilha, Gelsenkirchen, Dublin. A Europa pode ter outros amantes, mas reserva uma atenção especial ao F.C. Porto. De cidade em cidade, qual peregrino imbuído da mais sagrada das convicções, os dragões somam conquistas, espalham temor e recolhem respeito. A Liga Europa acaba nas mãos certas, nas mais hábeis e venturosas.

Em Dublin tudo começou devagar, devagarinho. Como quem chega a casa tarde, a tactear o escuro, com medo de acordar quem não pode. O Porto sentiu o espartilho apertado do Braga, foi incapaz de se soltar e submeteu-se a uma vigília dolorosa. Dolorosa e dormente. Só em cima do intervalo, através do 17º voo triunfal de Radamel Falcao na prova, a história mudou de rumo e a letra passou a ser azul.

O cruzamento de Freddy Guarín é perfeito, a movimentação do compatriota colombiano ainda melhor e o cabeceamento absolutamente mortal. A Rep. Irlanda foi a Colômbia europeia naqueles três segundos de magia. Artur Moraes nada podia fazer, Alberto Rodríguez e Paulão sim. Podiam e deviam. Rodríguez perdeu a bola, Paulão perdeu a noção de tempo e espaço, olhou para trás e Falcao já lá não estava.

Como diria James Joyce, autor maior da literatura irlandesa, imagem omnipresente nas ruas de Dublin, os erros são os portais da descoberta. Uma verdade incontestável no raio de percepção do F.C. Porto.

O empate perdido nos pés de Mossoró

Liberto do medo de errar, pois o mal estava feito, o Sp. Braga desapertou a alma e lançou-se na discussão. O jogo ficou a ganhar, as bancadas aplaudiram e Fernando tremeu como nunca antes tremera. Esse pode muito bem ter sido o momento do jogo. Perda de bola irreparável do médio do F.C. Porto, Mossoró (lançado ao intervalo por Domingos) completamente isolado perante Helton e o lance a morrer esmagado pela bota direita do guarda-redes.

Sem complexos, os minhotos alcançaram o patamar exibicional do F.C. Porto. A segunda parte foi toda passada olhos nos olhos. Sem presa, nem caçador, apenas duas equipas plenas de desejo. O bom futebol é, sempre será, o primeiro atalho, o primeiro caminho. É certo que os bons propósitos não eliminam totalmente a possibilidade de fracasso, mas asseguram a felicidade do viajante.

FICHA DE JOGO

Sem oportunidades claras de golo, a intensidade aumentou, o ritmo foi muito mais forte, o equilíbrio jorrou imparável, minuto atrás de minuto. O Sp. Braga já não foi a tempo de remediar uma primeira parte temerosa e toldada por um erro de um atleta que, possivelmente, não estaria em condições físicas de jogar.

A maquilhagem diz-nos mais que o rosto, exclamou um dia o excêntrico Oscar Wilde, autor de Dublin. A frase pode bem aplicar-se à opção de Domingos pelo central peruano. Camuflou a defesa com um atleta limitado fisicamente e retirou expressão à equipa.

Manter a identidade é a maior vitória do dragão

A consagração do F.C. Porto é um passo mais na aproximação aos gigantes do Velho Continente. O mérito maior desta equipa é a recusa total em abdicar da sua identidade. Seja qual for o adversário. Um hábito inculcado pela forma peculiar de André Villas-Boas olhar para o jogo. A manter 90 por cento deste grupo na próxima época, os dragões podem sonhar com coisas muito bonitas na Liga dos Campeões.

O Sp. Braga só pode ser elogiado pelo venerável percurso. Fez das fraquezas, armas e chegou ao inimaginável. Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor é a mensagem possível na hora da derrota.

As palavras são de Samuel Beckett, um génio brotado nas ruas esconsas de Dublin. A quarta estação da glória azul e branca na Europa.

Uma palavra para a arbitragem do espanhol Velasco Carballo: medíocre.
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