Há um campeão do mundo de seleções a jogar no Feirense. Antonio Briseño, 24 anos, avança para a segunda época em Portugal e transporta jogo após jogo a adrenalina que sentia no enduro. 

Sim, o mexicano da Feira chegou a ser vice-campeão nessa categoria de motociclismo, quando ainda se dividia entre duas paixões. 

O futebol triunfou e trouxe-o para o Velho Continente, um sonho de criança. Na primeira temporada em Portugal acabou a titular e a marcar golos decisivos. 

Antonio Pollo Briseño parte para o segundo ano carregado de ambição e a pensar já em 2022. É nesse ano que se joga o Mundial do Qatar e o central azteca pretende marcar uma posição desde agora. 

Numa conversa com o Maisfutebol no Estádio Marcolino de Castro, Briseño revela episódios surpreendentes do passado, fala da profunda amizade com Miguel Layún, das dificuldades em lidar com o rótulo de menino rico e da felicidade inigualável que o nascimento da pequena Alessandra lhe trouxe. 

Em discurso direto, as confissões de Antonio Briseño, um dos bons centrais da liga portuguesa.


Maisfutebol - 11 de julho de 2011. Onde estava o Antonio nesse dia?
Antonio Briseño – A ganhar uma final (risos). Fui campeão do mundo de sub17 no Estádio Azteca nesse dia. Um dia inesquecível. Para mim, para a minha família, para todo o México. 120 mil pessoas nas bancadas, 3-2 ao Uruguai. É quase impossível que se repita um quadro destes: ser campeão pelo México a jogar no Azteca. Lindo, lindo.

MF – Jogar uma final dessas com 17 anos… as pernas tremem?
AB – Treme tudo (risos). Mas não foi a primeira vez. Nesse torneio jogámos sempre em estádios enormes e cheios. Jogámos no estádio do Morelia, no estádio do Tigres, no estádio do Pachuca, por exemplo. Mas o Azteca é o ícone do futebol mexicano, sim. Encerrar esse ciclo num palco desses é muito forte.

MF – O México vence 3-2 e o Antonio marca o primeiro golo. Tudo perfeito, não?
AB – Fiz um grande torneio e esse jogo saiu-me especialmente bem. Aproveitei um passe de cabeça do Fierro, depois de um canto, e acertei na bola com o pé direito. Até lhe peguei mal, mas entrou (risos).

MF – Nas meias-finais jogou contra a Alemanha. E na baliza estava Vlachodimos, o novo guarda-redes do Benfica. Lembra-se disso?
AB –
O Vlachodimos? O do Benfica, a sério? O mundo é mesmo pequeno. Não sabia que era ele. Lembro-me que era um guarda-redes não muito corpulento, bastante ágil. Não sabia que era o tipo que veio agora para o Benfica. Sofreu três golos nossos (risos).

Briseño em ação contra o Benfica

MF – Sete anos depois, o Antonio está onde imaginava estar?
AB –
Imaginava estar no futebol europeu. Esse era o meu desejo máximo. E estou feliz no Feirense. Não me interpretem mal: sim, quero jogar a Liga dos Campeões, em equipas de grande dimensão. Mas o Feirense é um clube organizado e um excelente primeiro passo para estar na Europa. Estou a ser muito ajudado e a crescer aqui.

MF – Voltemos ao passado. Com que idade começou a jogar futebol?
AB –
Bem, a sério comecei aos 12 anos, no Atlas. Mas antes já estava nas equipas do colégio. Estudei no Instituto Alpes y Cumbres, em Guadalajara. É uma escola católica, dos Legionários de Cristo. Fazíamos retiros espirituais, aprendíamos valores importantes. Não me dou por vencido muito, sou otimista e acho que aprendi isso no colégio. E com os meus pais, claro.

MF – Mas o futebol não era a sua única paixão.
AB –
É verdade. Também fui apaixonado por motociclismo até à adolescência. O meu pai passou-me essa paixão. Ele foi piloto de motos e teve um grave acidente aos 20 anos. Esteve perto da morte, em coma. Recuperou, seguiu em frente, mas nunca mais voltou a correr. Passou esse amor ao filho. Enduro, motocross… Comecei aos sete anos e fui vice-campeão nacional mexicano. Era bom, muito bom. Se não fosse futebolista, tinha sido motociclista.  

MF – É possível ter a adrenalina do motociclismo num relvado de futebol?
AB –
Sim, sim (risos). Mas é menos perigoso. As motos deram-me muita coragem. Às vezes apanhava subidas e pensava que ia cair. Tinha de me segurar e ir a fundo. E as descidas… era bom, mas duro. Por isso não sou um jogador que se queixa facilmente. No Feirense jogo com essa adrenalina que o enduro me dava.

MF – Ainda anda de moto nos tempos livres?
AB –
Não, não, nem tenho moto agora. Não posso, sou profissional de futebol. Mas no futuro espero andar de moto com o meu filho.

MF – Voltemos ao futebol. Já era defesa aos 12 anos?
AB –
Antes disso jogava mais atrás. Eu era guarda-redes. E acho que era muito bom. Era um guerreiro na baliza. Depois é que passei para o meio-campo e mais tarde para a defesa.

MF – E foi como defesa que defrontou o Ronaldinho Gaúcho no México?
AB –
Pois é, que craque! Ele estava no Queretaro, já a acabar a carreira. Há vídeos onde dizem que ele me fez um túnel, mas a bola passou-me ao lado e não pelo meio das pernas. Vejam com atenção (risos). Ganhámos esse jogo 1-0 e o Ronaldinho falhou um penálti. Um jogador incrível. Lembro-me de uma jogada em que ele estava no lado direito e sem olhar fez um passe perfeito para a esquerda. Ficámos desorientados.

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