Um FC Porto artístico, formoso e pontualmente inseguro, bastou para superar a curta oposição do Nacional da Madeira. A entrada vistosa, entusiasmando os adeptos, e a pincelada genial de Brahimi bastaram para manter os dragões no segundo lugar, com o Benfica a um ponto (2-0).

À 9ª jornada, a equipa portista é a única sem derrotas na Liga. 

Leia os destaques do FC Porto-Nacional. 
 
Um duplo salto mortal encarpado atrás e uma pirueta. Depois, um parafuso. O FC Porto no limiar do risco, entre a incrível sedução pela nota artística e a falta de clarividência no processo.
 
Foi assim, com ‘souplesse’, que a equipa de Julen Lopetegui deu continuidade a uma mensagem de união em torno do lema: não assobiarás os teus. 
 
Era o momento ideal para transmitir a sensação de harmonia, antes de um ‘até mais logo’. O FC Porto parte para três jogos consecutivos longe do Estádio do Dragão, regressando apenas no final de novembro.
 
Athletic Bilbao, Estoril e BATE Borisov. Desafios de exigência máxima a largos quilómetros da Invicta.
 
O Nacional da Madeira a abrir o mês. Triunfos de Benfica e Vitória de Guimarães, este frente ao Sporting, a justificar resposta à medida do FC Porto.
 
Julen Lopetegui igual a si mesmo, sem ceder à pressão para seguir em linha reta. Três mudanças no onze, uma por setor. Ainda assim, uma lógica mais compreensível, sem abalar a estrutura.
 
Entraram Maicon, Óliver e Ricardo Quaresma, saíram Marcano, Herrera e Tello.
 
Escrito assim, de forma simples, o leitor seria levado a pensar que pouco mudou no FC Porto. Afinal, havia ali qualidade comparável entre os dois grupos.
 
Para além disso, o Nacional entrara em campo sem capacidade de resposta para um Dragão acutilante, avassalador até nos primeiros minutos. O golo chegou com naturalidade, com Óliver e Quaresma na história. Passe do espanhol, cruzamento do português. Jackson a cabecear para defesa de Rui Silva e Danilo, em grande momento de forma, a marcar o primeiro golo da época.
 
A vantagem em oito minutos e a promessa de um salto rendilhado, entusiasmante e relativamente seguro. Os condimentos estavam lá, Lopetegui reunira os artistas todos de uma vez só: Óliver, Quintero, Quaresma, Brahimi. Um luxo.
 
Faltava, porém, o futebol direto de Cristian Tello e – sobretudo - o músculo de Héctor Herrera. Casemiro viu o cartão amarelo ao minuto 19 e por essa altura o Nacional já saía da concha e prometia inquietar os espíritos.
 
Rui Silva teve mais trabalho que Fabiano, sempre, mas o FC Porto passou por uma fase complicada até ao intervalo. A formação insular ganhava a batalha no setor intermediário e conseguia explorar alguma falta de cobertura azul e branca nas laterais.
 
A equipa de Manuel Machado tinha perdido os quatro jogos realizados fora de casa mas Julen Lopetegui percebia que a falta de agressividade comportava riscos desnecessários. O Nacional, recorde-se, havia roubado cinco pontos ao FC Porto na época passada.

Perto da hora de jogo, com a entrada de Herrera para o lugar de Quintero, tudo mudou. Até porque, na mesma altura, o técnico visitante trocou um defesa por uma unidade ofensiva, mexendo na sua estrutura central. Decisivo.
 
Os dragões recuperaram a sensação de harmonia e avançaram com confiança para o melhor movimento da noite. Brahimi, que se preparava para sair, insistiu naquilo que o distingue. Foi duplo salto, pirueta e parafuso, tudo num só. Finta de corpo, toque para a esquerda, depois para a direita. O objetivo à vista. E o golo. A queda perfeita na água.
 
Afinal, é isso que distingue o salto genial de um esboço com excesso de risco: o desfecho.
 
O FC Porto terminou a noite com uma vitória convincente, num quadro de conciliação maioritária com as suas gentes. O topo da Liga a um ponto de distância e a Liga dos Campeões no horizonte, com boas perspetivas de apuramento para a próxima fase.
 
Não é perfeito, mas está bem longe de ser mau.