Três pontos de orgulho, sacados da alma de um campeão que, ao intervalo, estava de mãos na cabeça perante a forte corrente que tinha de contrariar e que acabou a desaguar numa foz luzidia, como a do Tejo e como os 5-1 finais ao Rio Ave.

O Benfica ajustou contas com os vila-condenses, mas precisou de ir ao balneário buscar forças e discernimento para alcançar 50 pontos na Liga e pressionar os rivais. O 1-0 ao intervalo assustou a Luz, deixou-a nervosa. A goleada foi uma vingança fria, e até pesada demais, para o empate do campeonato em Vila do Conde e eliminação da Taça no mesmo palco.

Não há croata, tenta-se o sérvio

Há quem diga que a História não serve para nada quando se jogam 90 minutos. Há quem diga que ela demonstra tendências. Por ela, o resultado ao intervalo era uma surpresa do tamanho de uma catedral. O Rio Ave nunca venceu na Luz, tinha pontuado pela última vez em 2005 e o Benfica não perde com uma equipa portuguesa, em casa, desde o clássico de 2015/16 com o FC Porto. São 723 dias.

Depois, lá está, há o jogo. E por aí, o 1-0 entendia-se melhor. O Benfica não entrou mal. Pelo contrário. Pressionou o Rio Ave, cortou-lhe as saídas, mas quando se pensava que o cenário estava definido, Francisco Geraldes apanhou a bola.

O camisola 12 do Rio Ave merece um parágrafo para ele. Não só pelo caminho que abriu na defesa da casa para o golo de Guedes, como por aquilo que fez durante muito tempo. Ele foi o ponto de encontro dos vila-condenses e surgiu de frente para o Benfica demasiadas vezes. Fejsa teve de vigiá-lo de mais perto a determinada altura.

O Rio Ave conseguiu quebrar linhas encarnadas em várias ocasiões, depois daquele salto de Guedes, por cima de Rúben Dias, que deixou o Benfica atarantado.

Enquanto Geraldes pagava na bola para levar os visitantes para a frente, a águia procurava-se. A ela própria, pois. A ideia do sérvio Zivkovic no lugar do croata Krovinovic fazia sentido, mas uma equipa também tem estados de espírito e o do Benfica foi abaixo com o golo. Só não ficou de rastos porque um remate de João Novais encontrou o poste.

Ainda assim, no primeiro tempo, a águia teve com ocasiões para empatar. Cássio e os defesas impediram que um Benfica menos lúcido e mais direto na abordagem chegasse ao golo.

Uma segunda parte em velocidade, mas golos de bola parada

Rafa tinha rendido Salvio ainda no primeiro tempo e, por isso, o Benfica perdia algum drible no flanco, mas ganhava rapidez. Curiosamente, chegou ao golo quando a bola parou.

O 1-1 de Jardel chegou na melhor altura, pois deixou em aberto quase 45 minutos para se chegar ao segundo. Alavancado no golo do central, o Benfica partiu em direção à baliza de Cássio.

Com muita alma e mais discernimento que no primeiro tempo, a bola começou a rodar melhor entre os encarnados, ainda que a velocidade imprimida nalguns lances se tivesse revelado, inclusive, imprudente na abordagem de alguns lances que podiam ter resultado em cartões caros para os da Luz.

Ainda assim, o caminho do jogo era agora mais notório e rumava para a baliza de Cássio. O 2-1 de Pizzi foi catártico para equipa e adeptos, que descansaram no 3-1 de Jonas. O 10 já tinha estado no lance que virou o marcador e com aquele golo virou o jogo de vez.

O Benfica respirou fundo, ganhou fôlego e chegou a uma goleada que, vista bem a primeira parte, parecia longe de acontecer, mas que as bolas paradas mudaram.

A goleada sucedeu mesmo, vale três pontos igualmente e deixa a águia já a pensar no que aí vem: o Portimonense.