No topo do desencanto, no nirvana da humilhação. O FC Porto ensaiara já quase todas as versões (e posições) de submissão e vexame na presente época. Faltava perder em casa contra o último da Liga, o condenado (será?) Tondela.

Aconteceu à 28ª tentativa e afasta em definitivo o emblema azul e branco da luta pelo título.

Em bom rigor, o FC Porto abdicou dessa corrida há muito. Pela sucessão de tragédias desportivas, pelas escolhas incompreensíveis na formação do plantel – não corrigidas, antes aprofundadas, em janeiro – pela incapacidade de traçar um plano e executá-lo em campo.

Frente ao corajoso Tondela, José Peseiro voltou a montar uma equipa incompleta. Em todos os itens de possível avaliação e em todos os momentos.

FICHA DE JOGO E A PARTIDA VISTA AO MINUTO

Se um jogador (Corona, por exemplo) faz a sua parte na direita e cruza, então a bola atravessa a área sem ninguém lhe tocar; se Danilo recupera e arranca, então depois o passe vertical (para Aboubakar) é mal rececionado e a jogada acaba a bater num muro – o pé direito do camaronês – e a saltar para longe; se Maxi Pereira faz um corte em esforço e aparenta salvar um lance de aperto, então não surge um segundo homem a completar e o lance continua a ser incómodo.

O FC Porto dança quando não tem voz para cantar e canta sem ter jogo de ancas para a música. Ou é Madonna e desafina; ou é Montserrat Caballé e não arrisca um movimento brusco.     

Mas, pior do que esta reprovação competitiva, é a indiferença generalizada. Dos adeptos, naturalmente, desgastados por três anos consecutivos de equívocos constrangedores e triunfos do principal rival. 16 mil estiveram no Dragão, incrédulos.

DESTAQUES DO JOGO: Luís Alberto matou o dragão

É importante, porém, sublinhar que o Tondela não marcou num lance de sorte. Não, a equipa de Petit marcou aos 59 minutos, num período em que mandava no jogo. Pontapé de Luís Alberto de fora da área, bola mais em jeito do que em força, Iker Casillas a voar e a nada poder fazer.

A jogar com dois médios naquela zona – Danilo e Sérgio Oliveira -, o FC Porto não teve ninguém que se aproximasse e bloqueasse o pontapé do médio que cumpria no Dragão o jogo 100 na Liga portuguesa.

Até esse instante, e isto também é revelador, o Tondela estivera confortável na partida, apesar dos dragões terem atacado muito no primeiro tempo, quase sempre mal e com precipitação.

Cláudio Ramos esteve sublime na baliza (a defesa na cara de Corona, aos 63 minutos, é um milagre), o quarteto defensivo praticamente não cometeu erros, os três guerreiros do meio campo encararam cada lance como se fosse o último e os três avançados foram sempre incómodos.

Três pontos para o Tondela, 17 pontos, a oito dos lugares de salvação. O FC Porto fica a nove do Benfica mas, mais vergonhoso do que essa distância pontual, é a constatação de que o desnorte e o pânico são a política vigente na SAD e na equipa de futebol.