Derrota com o Arouca, Benfica a seis pontos e o Sporting com hipóteses de ficar a oito... Em vésperas de visita à Luz é difícil encontrar um ambiente mais difícil no Dragão, que entre assobios e gritos de «uma vergonha» para a equipa praticamente se despediu do título esta noite, quando ainda faltam jogar longas 13 jornadas.

Tudo pode resumir-se a uma simples pergunta: o que é que ainda não tinha acontecido ao FC Porto?

Perder pontos com o Arouca? Sofrer um golo aos dez segundos? Ter um golo limpo anulado num momento crucial da partida? Ver o capitão de equipa – Maicon – a receber uma das maiores vaias de que há memória no estádio?

Vamos por partes, mas tudo isso se viu hoje numa exibição que fez lembrar o triste epílogo da era Lopetegui.

Em pouco mais de um mês, os azuis e brancos passaram de líderes da Liga a um quase adeus precoce à luta pelo título.

Que o dragão está deprimido desde os últimos tempos de Lopetegui já se sabia, o que ainda alguns desconheciam é que aquele animal voraz que parecia ter recuperado a chama com Peseiro está à deriva, cambaleante, moribundo…

Hoje, nem foi preciso esperar para verificar esse triste espetáculo. O FC Porto ainda nem havia tocado na bola e já estava a perder.

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Logo aos 10 segundos já o esférico entrava na baliza de Casillas. Adilson fez uma abertura sobre a direita, Zequinha ganhou o flanco a Ángel – deficiente na marcação e previsível no ataque, como sempre – e cruzou para Walter González fazer o golo mais rápido da Liga.

O dragão tremeu, mas não caiu logo. Aos poucos recompôs-se e Aboubakar, de cabeça, testou Bracali, antes de o desfeitear no lance seguinte, num canto de Layún, que fez a 12.ª assistência para golo nesta Liga.

Com o empate alcançado ainda antes do primeiro quarto de hora de jogo seria de esperar que o FC Porto se tornasse avassalador daí em diante. Puro engano! Os dragões dominavam (Corona aos 25' teve o segundo na cabeça), mas eram postos em sentido pelo veneno do contra-ataque arouquense.

Os calafrios sucediam-se à medida que se percebia que a transição defensiva estava enferrujada e a defesa em linha nas bolas paradas era um suicídio.

Valeu Casillas quando Nuno Coelho (21’) e Mateus (40’) surpreenderam a linha defensiva portista e apareceram na cara do guarda-redes prontos a rematar para o golo.

À falta de ideias na frente, os dragões somavam uma gritante insegurança defensiva e, já agora, um meio-campo que era segurado por pontas apenas por Danilo – Herrera foi particularmente mau no dia em que completou o 100.º jogo pelo FC Porto.

Não é de estranhar que se ouvissem assobios no Dragão. Não em coro, mas a espaços… Foi um sinal, apenas, para o que viria no segundo tempo, que começou com Aboubakar a falhar, como tantas vezes tem falhado, só com o guarda-redes pela frente.

Estava dado o mote para que daí em diante se aplicasse com cada vez mais propriedade a Lei de Murphy. Tudo o que está mal, pode ficar ainda pior. E ficou... bastante.

Brahimi ainda introduziu a bola na baliza, num golo limpo anulado por fora de jogo mal tirado a André André, antes de o descalabro começar.

DESTAQUES: Dragão ficou a conhecer Walter "Speedy" González

Uma equipa a implodir, desabando sobre si mesma. A imagem é coletiva, embora tudo possa ser individualizado em Maicon, o capitão de equipa do FC Porto.

Aos 65’, ele tem uma entrada muito dura, que podia até ser merecedora de cartão vermelho. Escapou com um amarelo e no minuto seguinte falha um corte e tenta sair a jogar, colocando a bola nos pés de Walter González, que aproveitou para enfrentar Casillas e fazer o golo da vitória histórica do Arouca – o seu segundo golo esta noite.

Maicon alegou lesão, pediu substituição e alheou-se do jogo antes de poder efetivamente ceder o lugar a Rúben Neves. Uma cena inacreditável, com o capitão portista a levar uma assobiadela do tamanho do estádio. 

Maicon é a mais perfeita imagem de um dragão deprimido. Ele saiu do campo a vinte minutos do final. A equipa continuou lá, mas foi como se não estivesse, apesar de um lance, aos 87', em que Marega e Aboubakar falharam à boca da baliza o golo do empate.

Seria um prémio injusto. O Arouca mereceu vencer, pelo coletivo e pelas excelentes exibições de Walter González, que tinha feito apenas um golo antes do «bis» de hoje, e de Bracali, ex-guardião do FC Porto, que fez uma mão cheia de grandes defesas.

Resumindo: o dragão de Peseiro, que parecia ter recuperado a chama, não tem asas para os altos voos que aí vêm.

Depois do trauma de hoje, há agruras bem maiores em perspetiva com o ciclo infernal que se aproxima; e que antes da viagem a Dortmund começa já na próxima sexta-feira com um clássico na Luz.

O que é que ainda irá acontecer a este FC Porto?