*por Rui Marques Simões

«Sentes que um tempo acabou / primavera de flor adormecida / qualquer coisa que não volta, que voou / que foi um rio, um ar, na tua vida»: o tom é de fim de ciclo, há lágrimas nos rostos, o desfecho é incontornável. A Académica despediu-se este sábado da Liga, ao empatar 0-0 em casa com o Sp. Braga.

A Balada da Despedida do 5.º ano Jurídico de 1988/89 - com que se inicia esta crónica - é a música mais emblemática da serenata que todos os anos marca um fim de ciclo na vida de muitos estudantes, celebrado na Queima das Fitas de Coimbra.

Este sábado, em pleno período da festa estudantil, foi o seu tom lúgubre que marcou o adeus da Briosa à Liga, 14 anos depois. O Sp. Braga nem precisou de fazer uma exibição excepcional para conquistar um ponto e confirmar virtualmente o 4.º lugar, que lhe vale o apuramento para a fase de grupos da Liga Europa, mesmo que não vença a final da Taça de Portugal.

O destino tem destas coisas. Calhou que a Académica se despedisse da Liga contra a única equipa que somava mais épocas seguidas do que ela no primeiro escalão do futebol português, além dos totalistas Benfica, FC Porto e Sporting, Ao fim de 14 épocas seguidas na divisão principal, a Briosa regressa à II Liga (de onde saíra em 2002). A certidão de despromoção foi traçada num fim de tarde sem golos.

A primeira parte valeu pela meia hora inicial. A Académica entrou com vontade de contornar o destino que já parecia traçado: logo aos dois minutos, Nii Plange falhou o desvio a um cruzamento perigoso de Aderlan.

No entanto, a iniciativa de jogo e a posse de bola logo passaram para o Sp. Braga. Wilson Eduardo e Josué cedo ameaçaram as redes de Pedro Trigueira. E, no lance mais perigoso dos minhotos no primeiro tempo, aos 19’, Wilson Eduardo (antigo jogador dos estudantes) aproveitou uma desatenção da defesa da casa, isolou-se diante da baliza e só uma grande defesa do guarda-redes da Briosa evitou o 0-1.

Minutos depois, Pedro Nuno e Gonçalo Paciência comandaram a reação dos rapazes de preto, com um remate por cima e para defesa apertada de Marafona. A partir daí, a Briosa estancou o ascendente bracarense. Mas, com o jogo mais emaranhado no meio-campo, não se viram novas ocasiões até ao intervalo.

A emoção regressou no início da segunda parte, com um remate ao lado de Josué, seguido de um tiro ao poste de Gonçalo Paciência (47’). Oito minutos depois, o avançado emprestado pelo FC Porto forçou Marafona a mais uma defesa aparatosa com as pernas, num remate de longe.

O Sp. Braga não se acomodou com o 0-0 que o deixa virtualmente (mas não matematicamente) no 4.º lugar - tem seis pontos de avanço sobre o Arouca, igualdade no confronto direto, mas muito melhor diferença de golos. Primeiro, Pedro Trigueira teve de se esticar para desviar para canto um livre perigosíssimo de Josué (76’). Depois, no seguimento do novo lance de bola parada, Hassan cabeceou à barra.

Ainda assim, a Briosa lutou até ao fim. Gonçalo Paciência voltou a ameaçar o golo (84’), num remate que Marafona desviou para a barra. E, empurrados pelo público, ainda com coração mas já sem razão, os estudantes lutaram até ao fim. Isso não bastou: em 2016/17, a Balada de Coimbra será ouvida na II Liga.