O futebol é um jogo coletivo. É, por isso, um jogo de comunicação verbal e não-verbal. E quando os artistas não se entendem, o pior a fazer é insistir. Sobretudo quando a margem de manobra é nula.

E o Benfica entrou para o jogo na Luz com o Sp. Braga sem margem para errar. Pela exigência do adversário, pelas vitórias frescas dos rivais FC Porto e Sporting e pela péssima sequência de resultados pós-Barcelona.

Contra o Sp. Braga, o tribunal da Luz exigiu uma resposta à altura. E Jesus, ciente de que a comunicação verbal é essencial para uma resposta à altura, desfez a dupla Darwin-Yaremchuk um dia depois de assumir que os dois não se entendiam linguisticamente.

Mas nem o treinador do Benfica poderia adivinhar que o substituto do uruguaio (Everton) teria a melhor noite em quase ano e meio com a camisola encarnada, nem o mais otimista dos adeptos esperaria que o jogo escalasse para uma goleada à equipa que a havia superado em quatro dos últimos cinco duelos.

Não esperaria nem mesmo depois do golo madrugador de Grimaldo. Porque o momento não era dado a isso e porque os arsenalistas agarraram no jogo a partir do momento em que João Mário quebrou fisicamente ainda nos minutos iniciais. Durante esse período, os visitantes empataram por Ricardo Horta e a pressão alta do conjunto de Carvalhal funcionava, com Musrati e Castro quase a encostarem ao trio da frente.

A mística Lei de Murphy pairou sobre a Luz até aos últimos dez minutos da primeira parte. Depois da lesão de João Mário, Lucas Veríssimo (aparemente grave) também foi forçado a sair. Quase tudo parecia fugir ao controlo das águias.

Só que o domínio territorial do Sp. Braga, sustentado pela pressão alta dos dois médios, teve um lado perverso que, sobretudo, Everton e Rafa exploraram de forma exímia quando o meio-campo estabilizou com Paulo Bernardo ao lado de Weigl. Quando a bola entrava num dos dois, havia muitos metros para embalar, mas esse engodo ficou mais evidente após o 2-1 de Darwin ao minuto 37.

O Sp. Braga, que forçou muitas vezes o Benfica a ser uma equipa de transição na sua própria casa, acabou por ser vítima da própria ambição. Rafa é um perigo com espaço para disparar e nesta noite a linha média dos visitantes, talvez fatigada pelo jogo de quinta-feira para a Europa, deu-lhe isso. E Everton voltou a ser o Cebolinha do Grêmio em espaços curtos. Foi assim, perante a incapacidade de controlar os espaços entrelinhas e a profundidade dos encarnados, que o resultado escalou, com um bis de Rafa - e comunicação perfeita do ataque - para um impensável 4-1 ao intervalo.

O Sp. Braga, que perdeu também Sequeira por lesão na jogada que originou o quarto golo do Benfica, voltou para a segunda parte com caras novas. Yan Couto e Vitinha foram a jogo, mas o argumento do jogo manteve-se inalterado. Nos descuidos da equipa de Carvalhal na transição defensiva, na forma como os encarnados construíram as jogadas e nos protagonistas delas.

À hora de jogo, a Luz abria a boca de espanto perante o 6-1 que os ecrãs gigantes mostravam após dois golos do inspiradíssimo Everton.

Os arsenalistas estavam entregues e Jesus deu-se ao luxo de esgotar as substituições ainda com quase meia-hora por jogar. Mais do que isso: depois de fazê-lo, e mesmo já sem Everton e Darwin, continuou a ser a equipa mais perigosa no jogo e o resultado poderia ter atingido contornos mais pesados para um Sp. Braga que é muito mais do que o que mostrou neste domingo.