Jonas o arquiteto, Jonas o cérebro. Jonas o profeta. Cabe outro onde houve Isaías? Não foi por Jonas que construíram uma nova catedral ao lado de onde existiu outra, mas ele é, em pleno relvado, o ícone maior do futebol encarnado.

O Benfica-Sp. Braga foi igual a muitos outros encontros das águias. Pode dizer-se, até, igual a alguns encontros com os minhotos. Mas o resultado acabou para o mesmo lado. Aquele em que joga Jonas.

O Sp. Braga apareceu na Luz como tem sido habitual nos últimos anos: a tentar surpreender logo de início para chegar ao golo. Mais uma vez, teve ocasião para desferir o primeiro golo. Acabou, de novo, a sangrar primeiro devido às armas letais que são os avançados do Benfica.

Durante os minutos iniciais, a águia abanou com a progressão de Fransérgio no miolo. Mas afastou esse perigo e na primeira jogada em que Jonas teve oportunidade para criar alguma coisa, chegou ao 1-0.

O golo é um poema do brasileiro. Descaído na esquerda, esperou até que os colegas se posicionassem e depois visionou a jogada. Imagine-se na mente do 10 do Benfica: bola para o segundo poste, onde ninguém espera, a não ser o instinto de Seferovic, já a caminhar para lá.

Passe perfeito, bola no fundo das redes, com estocada letal do suíço.

Os bons minutos iniciais do Sp. Braga esbarraram na eficácia encarnada, que a partir daí começou a justificar a vantagem.

Não houve, nem há, surpresas para Rui Vitória. O Benfica que se viu na Luz nesta noite era o Benfica esperado. Saiu Grimaldo, entrou Eliseu. Mais do que isso, foi uma equipa com dinâmica muito idêntica àquela que se viu na Supertaça com o V. Guimarães. Inclusive no modo como insiste em dar mais uma vida aos adversários.

Mas o Benfica, dizia-se, foi igual a si próprio. Pizzi começou a tocar bola no miolo, Fejsa a encostar rápido na perda; um lateral-direito a subir q.b.. E equilibrado quase sempre, apesar de estar a defrontar o Sp. Braga que também tem argumentos.

Ou seja, Rui Vitória não deve ser um treinador muito preocupado no momento, embora haja sempre melhorias a fazer (é para isso que serve o mercado, também).

E sem grandes pressas, os encarnados somaram alguns lances antes do 2-0.  Seferovic, Jonas, Salvio. Três tentativas, até que o brasileiro ressurgiu.

O 2-0 é sintomático do que é o 10 do Benfica. Há lances que nem valem a pena, mas enquanto outro ia na raça, Jonas usou outra arma: a inteligência. Deixou-se ficar à espera do erro de Raúl Silva e disparou. Letal, como fora Seferovic.

O 2-0 trazia vislumbres de Aveiro. O 2-1 confirmou-os. Porque este Benfica também peca. E peca habitualmente porque não consegue estancar investidas opostas. Ou seja, ter controlo absoluto do encontro. Pecou, nesta noite, numa jogada de Esgaio que deixou visíveis algumas afinações a fazer: entre Jardel e Bruno Varela, Hassan relançou o encontro. 

Jonas, arquiteto do terceiro

Antes do primeiro tempo terminar, Pizzi fez um passe de génio que Salvio iria desperdiçar. Porque o Benfica também vive entre estes dois mundos. O de Jonas e Pizzi, inteligência pura, e o de Salvio. Raça pura, talento sempre em bruto, mais alma do que discernimento.

O argentino atirou ao lado nessa vez, mas o nome do 18 estaria inscrito na história desta primeira partida na Luz, um estádio que esteve 89 dias sem futebol. Dois meses e 28 dias, portanto. Festejou um título na última ocasião e levantou-se das cadeiras algumas vezes no segundo tempo deste encontro.

O Benfica reentrou com nova oportunidade, mas os adeptos estiveram em suspenso para ver o que diziam ao ouvido do árbitro, quando aos 54 minutos Hassan colocou a bola na baliza das águias. Foi o primeiro de dois golos anulados a um Sp. Braga - mais tarde surgiria outro, a Ricardo Horta, contestado pelos «arsenalistas» - que teimava em incursões rápidas no terreno defendido pelo Benfica, mas que viria a provar desse veneno.

Como? Jonas, lá está. Desta vez a arquitetar um lance para Cervi, que ficou sozinho para cruzar. Salvio confirmou o 3-1 e a partir daí é fácil perceber quem esteve mais perto do golo novamente. Basta clicar aqui e ver as três ocasiões de que se fala.

Se está preguiçoso, dizemos-lhe. Uma Diogo Gonçalves, duas Jonas. O maior ícone do tetra encarnado atirou-se ao penta com exibição de luxo. E ainda por cima, o Benfica deu-lhe armas para o fazer. Armas como Seferovic, que traz mais profundidade do que Mitroglou, o pontapé de esquerda de Cardozo e um toque de primeira que Jonas, há quase certeza disso, tão bem vai aproveitar.

O Benfica vale muito pelo conjunto que continua a ser. Mas sobretudo porque tem um jogador que insiste em estar muito acima da média de todos os outros. O Benfica, tetracampeão em título, puxou dos galões porque Jonas puxou por ele. E porque por cada golpe que sofre, tem sempre mais um para dar.