Tratados de paz rasgados, convenções de Genebra desrespeitadas, protocolos pró-climáticos lançados para longe. O FC Porto de Conceição é uma máquina impiedosa, não quer saber de mais nada.

É anarca, está somente interessado em subjugar, em esmagar, em ganhar: exibição fantástica na abertura da Liga, quatro golos ao Estoril, 90 minutos de avalanche ofensiva.

Futebol de ataque desvairado, movimentações constantes, 11 homens a irradiar energia. O ritmo é incessante, cada cena promete sangue, mais sangue, como se Tarantino pegasse na câmara e gargalhasse maquiavélico. Mais, mais e mais.

FILME DA PARTIDA E FICHA DO JOGO

Ao analisar este Porto, percebe-se rapidamente o quão insuficiente era o futebol pensado por Lopetegui e Nuno Espírito Santo. A mansidão desapareceu das profundezas do dragão, agora a labareda é uma arma de destruição massiva. Uma equipa de comandos fundamentalistas.

O mais religioso dos seguidores destes ditames de Sérgio Conceição foi Brahimi. Atuação impressionante a do argelino, absolutamente impressionante. Marcou um golo, fintou, rodopiou, recuperou bolas, contagiou colegas e bancadas com o seu serpentear esgazeado. Nota cinco.

Curiosamente, e apesar de um domínio massacrante, o FC Porto fez os dois primeiros golos em lances quase acidentais.

Marega – lançado no primeiro tempo para o lugar do lesionado Soares – sorriu ao ver a bola passada por Mano ficar a meio caminho entre o lateral e o guarda-redes; só teve de rematar para a baliza deserta.

Brahimi, no arranque do segundo tempo, beneficiou de um ressalto feliz para se isolar e colocar a bola onde queria. Com a classe dos eleitos e a serenidade dos bem intencionados.

DESTAQUES DO JOGO: Brahimi, mas também Óliver e Marega

E o Porto queria mais. O Estoril era um edifício em chamas, de portas e janelas escancaradas, sem fuga possível das garras e amarras do draconiano dragão. E lá vieram mais dois golos, assinados por assistências de Óliver Torres, o assassino de mãos e pés imaculados: primeiro a cruzar para o bis de Moussa Marega e depois num livre para o cabeceamento de Marcano.

Os dragões tiveram dois golos bem anulados e este seria, de resto, o terceiro, não fosse a intervenção do vídeo-árbitro. Ivan Marcano estava em posição legal, o árbitro Hugo Miguel voltou atrás e validou o festejo. 4-0, pois então.

O Estoril teve uma bola no ferro a acabar (Jorman Aguilar) e pouco mais. É uma equipa recheada de bons executantes, a prometer uma boa temporada, mas absolutamente inofensiva no Dragão, incapaz de parar os comanches de cara pintada e coração palpitante.

Com este FC Porto não há diálogo possível. Apenas sangue.