Há muitos elementos que podem desequilibrar um jogo de futebol e o talento de um jogador há de ser o mais belo de todos. A forma como Daniel Podence se desenvencilhou de Talocha e assistiu Fábio Coentrão ou o instinto que leva Bas Dost a estar quase sempre no sítio certo deram cor verde ao duelo do Bessa, um jogo que foi do menos ao mais e que terminou com uma vitória justa dos leões, por 1-3, sobretudo pelo segundo tempo.

Muitas vezes é assim: marcar antes de o merecer não é sinal de que a vitória sai manchada. Se o resultado ao intervalo não traduzia o que foram os primeiros 45 minutos, os segundos trataram de confirmar que esta história teria um vencedor justo e claro. Sobretudo em quatro minutos frenéticos, com três golos e o duelo decidido.

Mas já lá vamos. Qualquer amante da bola gostaria de passar por cima do primeiro tempo para se debruçar, unicamente, no segundo, onde o futebol foi mais colorido, enérgico, atrativo e vivo. Foi, enfim, mais futebol. Mas o primeiro tempo faz parte deste filme. Matemo-lo, então, num parágrafo.

Os dois conjuntos encaixaram bem no terreno de jogo e o choque foi tão frontal que ficou muito difícil mexer. O Sporting tentava sem furar, o Boavista controlava e resistia, sem incomodar muito. Teve um desvio de Rochinha, ao lado, quase aos vinte minutos, naquele que foi o primeiro remate do jogo. O Sporting viu Coentrão, logo a seguir, atirar por cima e o lateral do flanco oposto, Piccini, tentar a sorte após arrancada individual. Após tudo isto, o golo, então. E esse já merece parágrafo só para si.

Lembram-se da introdução em que falámos do talento que resolve jogos? Pois bem, o de Podence estava muito bem escondido até servir de abre-latas. O português, que jogou em apoio a Bas Dost num onze em que Jorge Jesus voltou à «fórmula Liga» depois da experiência de Camp Nou – a exceção foi Bruno César no lugar de Acuña -, deixou a sua marca no jogo com a assistência primorosa para Coentrão marcar, de cabeça. O primeiro golo do lateral pelo Sporting e, também, o primeiro no espaço de quase dois anos: o último fora em janeiro de 2016.

Como se disse, o Sporting saiu para o intervalo na frente sem ter feito muito por isso, mas a confiança ganha serviu para arrumar a questão na segunda parte.

Jorge Simão insistiu na mesma ideia para a equipa, sem uma referência na área, algo que, sobretudo, Kuca mostrou sentir falta. De que adiantam pormenores de génio a deixar os laterais rivais para trás, se não há ninguém no meio para emendar? A verdade é que quando Rui Pedro, um dos dois pontas de lança que Simão tinha no banco, entrou, já o resultado estava feito.

E fechado de bola parada, que Jesus gosta de chamar o «quinto momento» do jogo. Foram duas e ambas com impacto imediato, traduzido em franco-holandês. Bas Dost e Mathieu formaram uma dupla improvável que acabou com o jogo a dois tempos, com um sobressalto pelo meio.

Aos 63 minutos, o holandês fez o segundo do jogo, na recarga a um cabeceamento ao poste de Mathieu. Aos 67, atirou para o terceiro, fuzilando Vagner na pequena área, após nova bola parada ganha nas alturas pelo central francês. Pelo meio, aos 65, foi o Boavista que marcou, reacendendo por instantes a chama da esperança. Mateus, a primeira solução vinda do banco da casa, empurrou uma interessante jogada ofensiva, com centro de Vítor Bruno. O Sporting pediu fora de jogo, aguardou-se pela opinião do VAR e Luís Godinho apontou, bem, para o centro do terreno.

O 3-1 acabou com o jogo. O Boavista já não tinha pernas para incomodar, o Sporting, com dois de avanço, não precisava correr muito mais. Até porque Jesus já tinha reforçado o miolo com Battaglia, antes da chuva de golos, e refrescado o ataque com Acuña. Bryan Ruiz seria a última opção, já em cima da hora.

Os três pontos vão para Lisboa e o Sporting passa a bola ao FC Porto: fazem o mesmo em Setúbal? Se não fizerem, os leões serão líderes isolados.