Recém-saído de um passado recente com más memórias e antecipando um futuro imediato com inquietações –Dortmund e Braga – o Benfica conseguiu o que procurava em sexta-feira de eclipse: prolongar o oásis de tranquilidade encontrado nos 3-0 ao Nacional e garantir por antecipação a liderança no final da jornada, faça o FC Porto o que fizer em Guimarães.

A vitória clara sobre o Arouca (3-0) foi pontuada por golos bonitos e uma sensação de controlo nunca posta em causa. A complicá-la, apenas a expulsão de Ederson, que assim falha o jogo na Pedreira. Mas o esforço extra de jogar 50 minutos com um homem a menos não foi muito extremado por um Arouca limitado nos argumentos de ataque.

Quando, aos 49 minutos, Carrillo - a meia-surpresa de Vitória para o onze – concluiu para o 3-0 a jogada mais bonita da noite ficou claro que o clímax emocional antes do intervalo estava ultrapassado e o jogo ia ser diligentemente metido no congelador, em sintonia com a noite gelada.

FILME E FICHA DE JOGO

Até à expulsão de Ederson, aos 41 minutos, o jogo tinha sido uma sucessão de boas noticias para o Benfica. Nas alas, enquanto Zivkovic confirmava a qualidade de um pé esquerdo de classe, o intermitente Carrillo dava sinais de justificar a confiança, com a exibição mais consistente de vermelho. A meio-campo, como o triângulo do Arouca era curto, os espaços entre a dupla Fejsa-Pizzi, ponto de inquietação em noites mais exigentes, raramente eram explorados. E, por fim, o crescendo de forma de Jonas consolidou-se com o passar dos minutos, desenhando uma sociedade cada vez mais competente na ameaça à baliza de Bolat.

A partir dos 15 minutos, quando o Arouca deixou de ser capaz de sair com a bola dominada, o golo foi-se aproximando: ora um desvio de Nuno Coelho contra a própria trave (18 min), ora um festejo invalidado a Mitroglou por fora de jogo de Jonas (22) ora uma boa defesa de Bolat a negar o golo a Luisão (24).

No minuto seguinte, o inevitável aconteceu, com Jonas a cruzar para a cabeça de Mitroglou e a Luz a festejar uma noite que prometia tranquilidade. Apesar dos esforços de Kuca – um caso à parte na sua equipa – só uma saída em falso de Ederson (28 minutos) ameaçou introduzir um elemento inesperado no guião. Mas, sete minutos depois, Eliseu, bem lançado por Carrillo, explorou as costas do estreante Vargas e assistiu Mitroglou para o segundo da noite.

Com o jogo posto em sossego, veio então o lance que mudou a face dos acontecimentos: depois de Eliseu reclamar penalti na área do Arouca (pareceu-nos que Jubal cortou a bola com o peito), Kuca fez um excelente lançamento para a velocidade de Mateus. Ederson saiu da área e chegou primeiro à bola e, num primeiro momento, Manuel Mota considerou casual o choque entre os dois. Depois, por indicação do seu auxiliar, mudou de ideias: considerou que o corte de Ederson foi feito com uma entrada de sola, atingindo Mateus com os pitons, mostrando-lhe o vermelho direto, numa interpretação rigorosa mas que os replays tornam aceitável.

Júlio César entrou para o lugar do sacrificado Mitroglou, e a sucessão de lances deixou os 46 mil espectadores da Luz à beira de um ataque de nervos. Mas não a sua equipa: o Benfica entrou sereno na segunda parte, e fechou as contas do marcador com um belíssimo contra-ataque desenhado por Nélson Semedo, com a cumplicidade de Jonas e Pizzi e a conclusão virtuosa de Carrillo, a selar uma noite feliz.

A partir daí, como dissemos, o jogo foi parar ao congelador, com o Arouca – na provável despedida de Lito Vidigal, de saída para Israel - a tentar ir além das suas limitações e o Benfica – com Filipe Augusto e Jimenez a entrarem no carrocel - a gerir jogadores, bola e esforços de forma competente, fechando a noite com a liderança no bolso e um sorriso nos lábios antes das dificuldades da próxima semana.