Há uma máxima do boxe que diz que quando o adversário está perfeitamente à mercê convém tentar o KO para evitar que recupere as forças e o cenário vire. Foi mais ou menos o que aconteceu ao Tondela esta manhã, num jogo com as clássicas partes distintas, em que a equipa de Pepa foi bem melhor na primeira, mas, sem marcar, deu força ao rival que cresceu até ganhar o jogo.

É verdade que o empate até seria mais aceitável face ao que se viu, pois o Tondela foi bem melhor no primeiro tempo e o Feirense, crescendo, nunca conseguiu o mesmo domínio no segundo.

A diferença foi o golo, numa grande penalidade cometida já na reta final por Rafael Amorim. Tiago Silva saltou do banco para tudo decidir: sofreu o penálti e converteu-o, com toda a calma do mundo.

Mas isto foi ao minuto 82. Havia praticamente um jogo inteiro para trás. E convém entende-lo.

Com uma entrada personalizada, apoiada no perfume de Pedro Nuno, o Tondela começou bem cedo a ser melhor. A bola, de resto, foi quase sempre sua ao longo de uma primeira metade quase de sentido único. Não fossem alguns minutos, por volta da meia hora, em que o Feirense cresceu e rondou a baliza de Cláudio Ramos e seria Tondela de início ao fim.

A melhor oportunidade, de resto, até foi logo a primeira, com um desvio de Pedro Nuno a toque de cabeça de Heliardo, que Vaná defendeu por instinto. Depois ainda houve Murilo isolado a atirar ao lado e o guardião visitante a aplicar-se mais duas vezes: primeiro num remate de longe de Pedro Nuno, que estava em todas por esta altura, depois num desvio bem mais de perto, mas menos forte, de Murilo.

O Feirense, como se disse, teve quase sempre dificuldades em segurar a vontade da equipa da casa. Nas bancadas há uma tarja que diz «Acredita» e transita da época passada, quando a fé e o querer fizeram o que quase todos julgavam impossível.

À equipa de Pepa faltou, então, outro acerto na hora de atirar à baliza. À de Nuno Manta, crescer em campo e libertar-se das amarras provocadas pelo rival. Haveria tempo para isso. O erro do Tondela é que não dava para corrigir.

Sem Pedro Nuno não há arte

O segundo tempo foi bem diferente. O Tondela nunca conseguiu o domínio do primeiro, o Feirense nunca mais voltou a adotar a postura de expectativa. Cresceu no jogo e no campo. Ganhou metros e, com isso, ficou, mais vezes, perto da baliza. O que, ainda assim, é diferente de dizer que ficou mais vezes perto de marcar. Rondou a área, mas furar foi difícil.

A melhor oportunidade até foi desperdiçada num contra-ataque, quando Tiago Silva, entrado há poucos minutos para o lugar de Fabinho (antes já Hugo Seco rendera Cris), tentou o chapéu, mas Cláudio Ramos não se deixou enganar.

Depois veio, então, o golo de grande penalidade e apetece, então, perguntar: o que aconteceu ao Tondela? Não evaporou, mas quase. As substituições não ajudaram, é certo. Pedro Nuno não tinha a mesma arte do primeiro tempo mas continuava a ser o principal dinamizador ofensivo da equipa. Batista é bem menos corpulento do que Heliardo e, com isso, os centrais do Feirense descansaram mais um pouco.

Pepa queria ganhar a partir do banco, mas perdeu a equipa e, depois, também o jogo. Para o Feirense ficou só a nota negativa da expulsão desnecessária de Flávio, por agressão a Jaílson, já perto do fim.

Mas na bagagem vão três pontos, que deixam a equipa de Nuno Manta com 25 e cada vez mais perto da barreira que dará algo inédito na história do clube: a manutenção. O Tondela, se não mudar, vai precisar de outro milagre. E nem sempre basta acreditar.