70 minutos de autoridade, 12 de sofrimento e mais oito de gestão. Os três lados da vitória complexa, embora justíssima, do FC Porto em Vila do Conde.

Tarefa cumprida, sim senhor, num campo de exigência máxima, mas novamente com a imagem predominante – qualidade, segurança e criatividade - a ser turvada por uma quebra inexplicável de corpo e espírito no período entre os golos de Tarantini e Hernâni.   

Não veio daí grande mal ao mundo e azul e branco, porém, já depois de se saber que o Benfica não escorregara na receção à Académica.

Talento de artista, paciência de contabilista, prontidão de bombeiro voluntário. Teve tudo isto e muito mais o FC Porto durante três quartos do jogo. Mandão, pressionante, a limitar toda e qualquer ação do Rio Ave.

A vencer por 0-2 e com o jogo aparentemente controlado, a equipa tremeu por culpa própria e só acalmou com o terceiro golo.

FICHA DE JOGO E NOTAS AOS ATLETAS

Motivos do súbito desassossego? Mérito do Rio Ave, naturalmente, até aí (minuto 71) profundamente inofensivo, mas também alguma descompressão do Porto, como se o jogo estivesse ganho antes de Vasco Santos apitar para o final.

E já que se fala do árbitro, vale a pena dizer que foi atraiçoado duas vezes por um dos árbitros assistentes. Primeiro ao anular mal, muito mal, um golo a Brahimi (não existe qualquer fora de jogo) e depois ao não assinalar um fora-de-jogo a Danilo antes deste sofrer falta (clara) de Marvin Zegelaar para penálti.

Quaresma aproveitou esse lance para inaugurar o marcador – aos 25 minutos – e aplicar enorme dose de justiça à entrada francamente boa do FC Porto em jogo.

Até ao intervalo, de resto, os dragões mostraram a sua melhor versão. A jogar contra o vento, o FC Porto não se precipitou, apostou no futebol apoiado, na progressão em tabelas e triangulações, e criou vários lances para golo.

Chegou à vantagem na tal grande penalidade de Quaresma e ao 0-2 num remate muito bem colocado de Danilo, à entrada da área e na saída para o intervalo.
 

Hernâni matou todas as dúvidas

Sempre mais forte e convincente, o FC Porto permitiu só um cabeceamento perigoso a William Jebor – o substituto do lesionado Hassan na posição nove do Rio Ave – e provou ter conseguido afastar do pensamento a iminente chegada do Bayern Munique.

Até, lá está, Tarantini reduzir a distância e colocar um enorme ponto de interrogação sobre o jogo. E nessa altura, o pior FC Porto apareceu. O FC Porto que se fecha em casa e se pune com um silício no escuro, como se sentisse culpado por ser feliz e viver de sorriso nos lábios.

Uma dor dissipada a tempo e horas por Hernâni, no primeiro golo do ex-Vitória Guimarães de dragão ao peito. Lopetegui percebeu o perigo e eliminou-o com a colocação de Rúben Neves no meio-campo e a colocação de Óliver na esquerda, sacrificando Brahimi - antes já trocara Quaresma por Hernâni.

Resultou, resultou bem e o Benfica continua a três pontos. Há seis jornadas por disputar. O FC Porto venceu onde as águias perderam no dia 21 de março. E vêm aí os poderosos alemães de Pep Guardiola.

Bom jogo em Vila do Conde, três pontos acertadíssimos para a contabilidade dos dragões, dois erros graves da equipa de arbitragem, a dividir o mal pelos dois clubes. Tanta emoção.