Ai, Jesús! Corona, na hora da salvação, a pegar na cruz e a abençoar o FC Porto. Golo do mexicano, a três minutos do fim, pontapé no sofrimento, na malapata, nos erros e nas limitações. Três pontos mais do que sofridos, numa história com muito para contar.

Há um jogo até aos 60 minutos, um conto cor de rosa, próprio para adormecer fantasmas e enterrar demónios. E há outro, assustador, daí até à redenção de Corona. Ai, Jesús, final feliz para o dragão.  

Um sopro e o dragão encolheu-se. Outro sopro e o dragão caiu. Não precisou de muito o União para perturbar o FC Porto. Dois ou três remates, um par de ameaças e o dono da casa, em pânico, fugiu para longe.

Nessa fase da segunda parte, nem ordem, nem progresso. Foram tempos de medo e pobreza, tempos de vergonha para os azuis e brancos.

FICHA DE JOGO E AO MINUTO DO FC PORTO-U. MADEIRA

Nos dias atuais, março de 2016, qualquer equipa, por mais modesta que seja, tem uma grande probabilidade de roubar um ou mais pontos a este grupo de rapazes gerido por José Peseiro.

Nada a apontar ao União da Madeira, atenção. Defendeu, defendeu, defendeu e sofreu 60 minutos, ameaçando Iker Casillas num só remate (Amilton, 34 minutos). Reagiu, depois, de uma forma fantástica às duas mudanças de Norton de Matos, quando perdia por 2-0.

Dois movimentos verticais, a defesa do FC Porto mal posicionada, cruzamentos rasteiros e finalizações simples, na cara de Casillas. Dragão estilhaçado, em pânico, engolido por defeitos incompatíveis com uma candidatura forte ao título.

Valeu Corona, até aí um dos menos inspirados, a manter o Sporting a quatro pontos e o Benfica, por ora, a três. E tudo podia ter sido mais simples, tivessem os portistas uma estrutura condizente com a dimensão histórica do clube.

Até aos dois golos de Danilo Dias, de facto, pouco ou nada há a apontar ao FC Porto. Pedaços de excelente futebol, intensidade, pressão feita em bloco, movimentações fluídas e harmoniosas.

É fantástico o passe de Sérgio Oliveira a lançar Maxi para o primeiro golo, encostado por Aboubakar (25 minutos), como é soberba a execução de Héctor Herrera (51) no segundo.

Tudo lógico, tudo simples, tudo aparentemente decidido.

OS DESTAQUES DO JOGO: Herrera, pinceladas de garra e qualidade

No primeiro tempo, e nas raras vezes em que se aventurara, o União já expusera as limitações da defesa do FC Porto, mas a vantagem de dois golos parecia suficiente para, por uma vez, a noite ser tranquila. Nada feito, a atração pelo perigo é uma imagem de marca desta equipa.

Problemas evidentes na defesa – descoordenação, hesitações, complexos – e também na frente. No FC Porto, o que o meio campo fez bem, Aboubakar desperdiçou. Receções horríveis, passes defeituosos, movimentos errados, enfim, um quadro negro e apenas atenuado pelo golo.

José Peseiro está a desenhar uma equipa capaz de jogar bom futebol, sim. E capaz de atraiçoar esse bom futebol rapidamente, enquanto o diabo esfrega um olho e o processo defensivo compromete. Ai, Jesús!