O Benfica recuperou a liderança da Liga, lambendo as feridas de Dortmund com uma vitória confortável sobre o Belenenses (4-0), mas não tanto quanto o marcador sugere. André Almeida, no papel do lesionado Nélson Semedo, foi o primeiro protagonista da uma noite a dois tempos, que prosseguiu após o intervalo, quando o Belenenses aceitou partir o jogo, com Salvio a reencontrar as boas exibições e o regressado Jonas a reencontrar os golos.

Lembram-se do mais velho lugar-comum da história do futebol, acerca de um jogo com duas partes distintas? Nada a ver, esqueçam: este foi um jogo com apenas uma parte distinta, a segunda. A primeira, essa foi anónima, banal e burocrática, e pode ser resumida em meia dúzia de ideias.

Como alguém com pressa de virar a página-Champions o Benfica teve uma entrada forte, inclinando o jogo para a direita, onde Salvio arrastava Florent e abria espaço para as entradas de André Almeida, mais solto do que é habitual. Numa das vezes em que acompanhou a subida do lateral-direito, Miguel Rosa teve uma desatenção crítica: ao tentar dominar de peito uma abertura de Pizzi, deixou o seu antigo colega na cara de Cristiano (12 minutos). André Almeida aproveitou para marcar, de pé esquerdo, aquele que foi apenas o segundo golo da carreira na equipa principal do Benfica. E foi quanto bastou para o Benfica varrer as memórias de Dortmund.

Nos minutos seguintes a intensidade baixou, em boa parte por mérito da organização defensiva do Belenenses, que acertando marcações e fechando espaços no meio impedia as transições rápidas encarnadas. Assim, o Benfica optou por manter o jogo em bases lentas, tentando chamar o adversário para uma pressão mais adiantada. E como o Belenenses não aceitou o presente envenenado, o jogo caiu numa terra de ninguém, um equilíbrio tático quase absoluto, entrecortado apenas por algumas manifestações de impaciência das bancadas.

Estatísticas

Com 70% de posse de bola para o Benfica, mas sem situações de golo dignas desse nome até ao intervalo, o jogo entrou num novo regime logo após o recomeço: a outra entrada forte do Benfica respondeu desta vez o Belenenses com um posicionamento mais subido. Assim, nos primeiros minutos do recomeço o jogo esticou-se às duas áreas e o Belenenses esteve muito, muito perto do empate, numa bomba de Miguel Rosa ao poste (51 minutos), que quase apagava o seu erro da primeira parte.

Mas a ousadia de aceitar partir o jogo pagou-se cara no lance imediato: permitindo ao Benfica a primeira transição rápida, o Belenenses foi apanhado de surpresa quando Salvio, fletindo para o meio, serviu Mitroglou na meia-lua (52 minutos). Depois de dois jogos em branco, o grego recuperou facilmente o estado de graça, com um remate em arco na gaveta. Golpe duro na ousadia recém-nascida do Belenenses, que apenas sete minutos mais tarde recebeu o KO definitivo: enquanto a equipa azul parou a reclamar uma falta sobre Camará, Eliseu marcou o livre rapidamente e Zivkovic chegou à área com espaço para servir Salvio. Em posição central, o argentino fez as pazes com o golo para a Liga, que lhe escapava desde o jogo com o Sporting, em dezembro.

Comparar jogadores:

Com o jogo decidido, é justo dizer que o Belenenses decidiu dar luta até ao fim, desperdiçando por Maurides e Miguel Rosa mais duas boas situações para bater Ederson. Do lado do Benfica, com a liderança da Liga recuperada, a última meia hora transformou-se num exercício de gestão por parte de Rui Vitória, poupando Salvio, Zivkovic e Pizzi, e num contra-relógio do regressado Jonas para o reencontro com o golo, adiado desde o jogo com o Nacional. Depois de várias tentativas falhadas, que lhe iam acentuando uma frustração bem visível nos gestos, a cereja no topo do bolo chegou mesmo em cima do último minuto, com Mitroglou na entrega de luxo.

Foi o final perfeito para os adeptos encarnados, castigo demasiado pesado para um Belenenses que conseguiu manter as coisas adormecidas até ao intervalo e levou com a fatura de Dortmund a partir do momento em que ousou esticar o jogo até à área de Ederson.

Distribuição no terreno