O talento prolifera nas equipas B de Benfica, FC Porto e Sporting e tem rendido não só bom dinheiro, como também proveito desportivo.

No primeiro aspeto, basta perceber que os três crónicos candidatos ao título venderam neste defeso jogadores que cresceram nas respetivas equipas secundárias: Lindelof, André Silva e Ruben Semedo.

Quando a análise é alargada a mais temporadas, encontram-se outros nomes, fáceis de identificar. No entanto, estes três jogadores tiveram também rendimento desportivo nas equipas principais, ao contrário, por exemplo, de Bernardo Silva ou João Cancelo, no Benfica, que foram transferidos sem terem uma dezena de jogos pela formação principal.

O Maisfutebol já olhou para o modo como as equipas B mudaram o panorama do futebol nacional e agora debruça-se sobre como elas podem voltar a dar talento às equipas maiores dos três habituais candidatos ao título. Ou seja, que jogadores estão mais perto de chegar à primeira equipa. 

São, assim, uma espécie de autorreforços dos clubes, um pouco como os emprestados, que também aqui referenciamos neste exercício porque, muitas vezes, uns dependem do que acontece a outros.

Benfica: questão central

Seis jogadores do Benfica fizeram pelo menos 10 jogos na equipa B e outros tantos na principal desde 2012/13: André Gomes, Gonçalo Guedes, Ivan Cavaleiro, Nelson Semedo, Renato Sanches e Victor-Nilsson Lindelof.

A saída deste último abriu uma vaga no quarteto de centrais do plantel principal. E ela será, quase de certeza, ocupada por alguém proveniente da B.

Branimir Kalaica estreou-se na última temporada, marcou um golo no Bessa e estará na linha da frente. O croata treinou quase sempre com Rui Vitória e jogou quase sempre por Hélder Cristóvão.

Obviamente, não é descabido que Rúben Dias entre na luta, até porque a época é longa e a forma e a evolução dos jogadores muda. É firme dizer, porém, que um dos dois vai completar o quarteto dos centrais, se não houver mais nenhuma saída.

Subindo um pouco no terreno, Pedro Rodrigues. Natural de Sátão, no distrito de Viseu, Pêpê tem-se apresentado como um jogador fiável, com regularidade no meio-campo defensivo.

Fejsa é indiscutível no onze e Samaris a alternativa. Ainda assim, fruto das lesões do sérvio e da disciplina do grego, Pêpê pode espreitar um lugar no plantel e minutos em campo.

Da formação que terminou a II Liga 2016/17, outro nome destaca-se dos demais. Tal como Ruben Dias e Pêpê, Diogo Gonçalves esteve no Mundial sub-20 neste verão e foi uma das figuras do torneio.

Dotado de velocidade, técnica e bom remate, o problema de Diogo Gonçalves estará mais na concorrência existente para os lugares que ocupa. Mas é bom lembrar que Gonçalo Guedes também a tinha…

Apesar de ter estado emprestado na segunda metade da época, João Carvalho parece ter sido a aposta mais consistente dos encarnados.

A cedência ao V. Setúbal indicou um pouco isso. O Benfica quis dar-lhe tempo de Liga, experiência de primeiro escalão, para que Carvalho queimasse essa etapa e pudesse estar mais próximo do nível exigido pelo tetracampeão nacional.

Não há, ainda assim, certezas quanto ao futuro de João Carvalho, porque o próprio disse, em conferência com a seleção sub-21, que deve fazer a pré-época com Rui Vitória. Sem mais nenhumas garantias.

Quanto ao rol de emprestados, poucos terão sérias hipóteses de regressar à Luz. Isto apesar dos insistentes apelos de Marçal, lateral-esquerdo brasileiro que esteve cedido ao Guingamp. Se Grimaldo ficar e Eliseu também, dificilmente voltará um jogador que, ao fim e ao cabo, tem bastante mercado.

FC Porto: posições extremas

O dilema no FC Porto passa muito por perceber o que quererá Sérgio Conceição. Enquanto no Benfica e no Sporting são conhecidas ideias gerais de Rui Vitória e Jesus sobre o plantel, no clube portuense isso é mais difícil de prever.

A saída de André Silva deixou o FC Porto outra vez com um problema por resolver na frente de ataque. Os dragões ficaram apenas com um jogador no plantel para o lugar de avançado centro. Depoitre faz parte dos quadros, mas deve sair; Aboubakar faz parte dos quadros e não deve voltar.

Ainda assim, André Silva abre uma oportunidade para Rui Pedro assumir-se, ele que já fez mais de uma dezena de jogos pela formação principal e que portanto é um caso diferente. Outros há que se destacaram na equipa B portista, campeã nacional há duas temporadas.

Joris Kayembe foi confirmado na pré-época azul e branca, mas esteve envolvido nas notícias da contratação de Sérgio Conceição. O belga seguiria para Nantes, o que está por confirmar.

Assim, Wenderson Galeno afigura-se como o extremo com mais possibilidades. Rápido e com golo, o brasileiro foi o melhor marcador da equipa na II Liga 2016/17. Para além disso, ocupa uma posição em que o FC Porto esteve deficitário.

Na última temporada, Brahimi e Corona foram, praticamente, os únicos extremos portistas. Otávio passou por lá, Diogo Jota também, mas Galeno até pode surgir como opção válida para o flanco. Com espaço, o brasileiro desequilibra e seria interessante vê-lo também num dragão maior, de ataque organizado na maior parte do tempo, e com a pressão do relógio.

Há uma posição em que parece que o FC Porto não terá de contratar. Pelo contrário, até terá qualidade para ceder. Maxi Pereira foi dono da lateral-direita, mas é aí que reside uma das maiores interrogações portistas. Se o uruguaio fica, poderá haver lugar apenas para um, se Maxi sair, podem abrir-se duas vagas.

Fernando Fonseca parece partir na frente de Diogo Dalot, embora este tenha feito um grande mundial sub-20. Neste ponto, é preciso sublinhar, pode estar a ser equacionado o regresso de um dos emprestados: Ricardo Pereira. De qualquer maneira, a lateral-direita parece ser a última das preocupações do FC Porto.

Um ponto breve sobre o lado esquerdo: Alex Telles é indiscutível e desconhece-se se Layun continua, o que pode ter algumas implicações à direita também. Ainda assim, se os portistas optarem por um «autorreforço», um nome sobressai: Rafa Soares, que esteve cedido ao Rio Ave. O brasileiro Inácio, é bom lembrar, estreou-se na formação principal na última temporada.

A população do meio-campo do Dragão era maior do que noutro setor. À partida, pode haver pouco espaço, mas se existir uma nesga, pode ser ocupada ou por Omar Govea ou por Fede Varela. Aqui dependerá, porém, da necessidade entre alguém mais ofensivo ou de contenção.

Como se referiu, o dilema no FC Porto é maior, até porque há vários casos de emprestados que podem regressar e limitar o acesso dos jogadores da B à equipa principal.

Não se sabe, por exemplo, o que quer Sérgio Conceição fazer com Marega, Diego Reyes, Bruno Martins Indi ou até Hernâni.

Sporting: oportunidades a abrir

O Sporting vai ser o primeiro dos três grandes a começar a trabalhar. Jorge Jesus terá poucos jogadores à disposição, fruto das provas de seleções e, por isso mesmo, pode haver oportunidades logo a abrir a época para alguns jogadores da B.

Gelson Dala está confirmado na pré-temporada e há expectativa para vê-lo na equipa principal. O angolano chegou a Alcochete e causou impacto imediato. Tornou-se, também, no melhor marcador da equipa com 13 golos na II Liga.

A temporada leonina mostrou que Jesus esteve várias vezes à procura de companhia para Bas Dost. As opções que testou não estarão, porém, disponíveis no arranque dos trabalhos. Assim, pode haver uma possibilidade para alguém como Leonardo Ruiz. Isto, claro, se o Sporting o adquirir em definitivo, como era intenção do clube de Alvalade.

O colombiano fez 12 golos na II Liga, menos um que Gelson Dala e foi um dos destaques da equipa B, depois de ter passado, na época anterior a esta, pelo FC Porto B. Convém sublinhar, de resto, que este seria um reforço com investimento no passe.

Ao longo do tempo no Sporting, Jorge Jesus foi retocando a defesa. Fê-lo, inclusive, com as temporadas a decorrer. E o Sporting já reforçou esse setor com Piccini e André Pinto.

Com Jefferson e Esgaio na porta de saída, há ainda muitas dúvidas sobre o que sucede com Douglas, André Geraldes ou Zeegelar ou ainda Ewerton e Tobias Figueiredo. O leão pode sempre proporcionar o regresso de um destes ou de Domingos Duarte. Ou fazer subir Demiral, o central turco proveniente do Alcanenense, uma vez que a lateral direita já foi reforçada e a esquerda vai contar com o regresso de Jonathan Silva – e, muito provavelmente, Fábio Coentrão, que o leão negoceia. 

Há muitas dúvidas sobre outros jogadores dos quadros leoninos. O nome de Teo Gutierrez surge à cabeça pelo rendimento que o colombiano teve em Alvalade, mas não se sabe também o que sucederá com Castaignos ou Spalvis, por exemplo. Por outro lado, parece mais certo que dos que estiveram emprestados até final de 2016/17, Iuri Medeiros é o único que tem pré-temporada certa com a equipa orientada por Jorge Jesus.

Impossível num dia, normal no outro

O mercado dita a lei até 31 de agosto e tudo pode mudar até lá. Há negócios que num dia são impossíveis e no seguinte acontecem naturalmente. Tanto como entradas ou saídas, o que pode alterar planos. A necessidade, a emergência, podem levar a que Benfica, FC Porto e Sporting tenham de reforçar-se dentro dos próprios quadros e, nesse sentido, estes parecem ser os nomes que estarão mais próximos de uma sbida às equipas principais dos três crónicos candidatos ao título.