Notável. O Tondela venceu a Académica na derradeira ronda e, aproveitando a derrota do U. Madeira diante do Rio Ave, alcançou a tão desejada permanência, que chegou a parecer uma miragem.

« Tudo é impossível até acontecer». A mensagem que se leu numa das tarjas mostradas pelos adeptos tondelenses na entrada das equipas dava o mote. Porque lá diz o povo que só não há solução para a morte. E apesar de a morte do Tondela ter sido decretada várias vezes, os viseenses, ao melhor jeito de Mark Twain, escritor norte-americano, mostraram que as notícias da sua morte tinham sido «manifestamente exageradas».

O trajeto do Tondela no último terço do campeonato merece todos os elogios. Petit fez com que os seus jogadores acreditassem na velha história do «enquanto for matematicamente possível...», que, por si só, costuma ser um sinal de que as coisas não estão famosas.

FICHA DE JOGO E A PARTIDA AO MINUTO

E não estavam. As contas tondelenses eram tudo menos simpáticas. O clube chegou a estar 11 pontos abaixo da linha de água. Mas não se rendeu. Respirou fundo e começou a amealhar pontos. Apesar das vitórias que foi conseguindo, durante muito tempo esses pontos só serviram para diminuir o fosso para os adversários diretos, tal era a distância do lanterna-vermelha para os restantes.

  Só que o Tondela foi buscar pontos onde poucos pensavam ser possível: sendo o estádio do Dragão, onde venceram, o expoente máximo desse trajeto que se fez de vitórias também em Paços de Ferreira, Moreira de Cónegos e Setúbal.

A crença foi crescendo ao ritmo que outras equipas que lutavam pela sobrevivência foram tropeçando.

Serranos não lutaram para morrer na praia

No jogo de todas as decisões, os tondelenses sabiam que tudo o que fora feito ao longo desta recuperação não valeria de nada se não vencessem a Académica. E se a pressão podia ter feito com que os jogadores auriverdes entrassem nervosos, a verdade é que esta equipa não é a mesma a quem, em determinada altura da época, tudo parecia correr mal.

Este Tondela, além de confiante, tornou-se uma equipa adulta que sabe gerir momentos e emoções. E isso viu-se diante da Briosa. Os homens de Petit assumiram o jogo e encostaram os estudantes à sua defesa.

E a pressão surtiu efeito muito cedo: logo aos 12 minutos, Pica – o jogador talismã do Tondela – subiu à área contrária para dar a melhor sequência a um primeiro cabeceamento de Nathan.

Em vantagem, os tondelenses baixaram um pouco as linhas de pressão, mas não deixaram de manter domínio, mantendo segura a baliza de Cláudio Ramos, que só esteve em perigo num bom remate de Marinho aos 37 minutos.

Alegria do Rio Ave desagua em Tondela

A melhor forma de descrever a forma controlada como o Tondela foi gerindo o jogo na etapa complementar – perante uma Académica demasiado apática para o pergaminhos do clube, muito apesar da descida já estar consumada – é dizer que se o coração dos adeptos estava no estádio João Cardoso, os ouvidos estavam concentrados na Madeira, onde o Rio Ave tornava o sonho tondelense cada vez mais próximo de se tornar realidade.

Isto porque Luís Alberto fez o segundo do Tondela à entrada da segunda parte, respondendo a um bom trabalho de Hélder Tavares na direita, tento que foi tão festejado como os golos do Rio Ave na Madeira. Não que os tondelenses fizessem questão de ver os vila condenses na Europa, mas porque isso significava a ultrapassagem ao U. Madeira mesmo sobre a meta.

«Isto nunca foi esperado», dizia um adepto do Tondela com o seu melhor sorriso enquanto filmava a festa feita entre adeptos e jogadores, bem no centro do relvado. Notável.

Uma palavra final para a Académica que depois de 14 anos na I Liga, cai com estrondo na II Liga. A imagem que deixou nesta despedida foi triste. Talvez não se esperasse outra coisa de uma equipa já condenada, mas tivessem os jogadores mostrado metade da atitude dos seus adeptos, o desfecho poderia ter sido outro.

A equipa de Coimbra não mostrou qualquer encanto na hora da despedida.