Um Estoril ainda a refazer-se de uma chicotada deu água pela barba ao Benfica, que talvez não esperasse tantas dificuldades numa deslocação a um reduto onde tinha a oportunidade de garantir desde já o pouco mais do que simbólico título de campeão de inverno.

Uma águia pouco real e pouco incisiva no último terço permitiu à equipa da linha alimentar a incerteza no marcador e quase estragar os planos do campeão nacional, que volta a sair de um jogo com motivos para agradecer a Ederson.

FILME E FICHA DE JOGO

Primeira parte com os encarnados a sentirem muitas dificuldades em libertar-se das amarras de um Estoril que se apresentou com um bloco muito compacto.

Ainda que se tenha dado a conhecer como um apologista de futebol artístico, o novo técnico da equipa da linha sabia que neste sábado dificilmente poderia dar-se a esse luxo. Optou por uma estratégia conservadora, com Afonso Taira atento às movimentações entre linhas dos homens mais adiantados do Benfica e Diogo Amado e Eduardo a limitarem a influência de Pizzi, quase sempre com pouco tempo para pensar o jogo.

Ainda que conseguissem sair em transições rápidas após recuperações de bola, os encarnados mostravam poucas ideias em ataque organizado. Futebol lento, previsível, quase como se esperassem por uma desatenção dos defesas estorilistas.

Foram poucas as brechas que a muralha da Amoreira abriu, mas aconteceram. Numa saída para o ataque, um erro de Diakhité quase terminou com Guedes a festejar.

Na baliza do Estoril morava um paladino competente. Sempre muito atento aos lançamentos longos para as costas dos centrais, Moreira punha em prática muita da sabedoria adquirida nos 12 anos de águia ao peito e ia apagando um ou outro foco de incêndio.

A jogar para entrar em 2017 na liderança, a equipa de Rui Vitória tardava em encontrar a solução para se desembaraçar da teia montada pelos homens de Pedro Gómez Carmona, cada vez mais adaptados às movimentações constantes dos quatro homens mais adiantados do campeão nacional. Pior: a águia ainda esteve em vias de ir para o descanso em desvantagem após um remate de Bruno Gomes ao poste esquerdo.

A versão encarnada na segunda parte estava longe de constituir um upgrade até ao momento que acabou por decidir o jogo. Numa altura em que Mitroglou já esperava junto ao centro do terreno para ser lançado em jogo, um desequilíbrio de Cervi terminou com a bola no braço de Ailton, que deslizava junto ao solo. Chamado a bater, Raúl Jiménez bateu o castigo máximo com frieza e fez o 1-0 à passagem da hora de jogo.

O golo tardou, mas parecia constituir o paliativo ideal para um fim de jogo tranquilo dos encarnados perante um Estoril que teria obrigatoriamente de romper com o protocolo e começar a expor-se mais a partir daquele momento.

Só que os encarnados, que entretanto renovaram a frente de ataque com Mitroglou e Jonas (brasileiro entrou aos 79 minutos para a ovação da noite e ainda esteve perto do golo em duas ocasiões) continuavam a demonstrar pouco acerto no ataque.

Mais do que isso, não conseguiam suster as manobras ofensivas da equipa da casa, que encheu o peito de ousadia após as entradas de Alisson e Tocantins. Pouco protegido pelo setor defensivo, Ederson foi chamado a vestir a capa de super-homem pela segunda vez no espaço de uma semana. Aos 71’ ganhou no mano a mano com Tocantins e depois brilhou a remate de Alisson num remate de meia-distância. Quem diria?

Já nos descontos, Tocantins quase ia dando corpo ao atrevimento do Estoril, mas não conseguiu emendar ao segundo poste.

A águia voou baixinho no Estoril. Esteve longe de convencer, obrigou os adeptos a imprevisíveis momentos de sofrimento e deixou transparecer alguns sinais preocupantes, mas cumpriu os requisitos mínimos.

Passa o ano na liderança do campeonato. É satisfatório?