Rejeição? Nada como combatê-la com um novo amor, uma nova paixão, um novo 5-0. Se a Europa renega o dragão, o dragão recupera as forças em banhos de espuma, flutes de champanhe e os braços de uma companheira fiel. A Liga portuguesa. Parece ter sido essa a decisão inteligente e imediata de Sérgio Conceição.

Escrevemo-lo na antevisão e repetimo-lo agora. Depois de tamanha provação (humilhação até) contra o Liverpool, o FC Porto só tinha uma saída: relativizar a dor, como se nunca tivesse estado interessado na rainha do recreio da escola. Ou como se jamais se tenha entregue a um refrão dos Beatles, já que falamos do gigante de Anfield.

Relativizar pois. Ultrapassar a mágoa e agarrar novos objetivos. Para isto, nada melhor do que um meigo Rio Ave, onde a ideologia do treinador parece prevalecer sobre os interesses práticos da equipa no relvado.

FICHA DE JOGO DO FC PORTO-RIO AVE: 5-0

Sem necessitar de carregar no acelerador, o FC Porto já vencia aos dois minutos e ao intervalo afundava-se tranquilamente sobre um pacato 3-0. Viram gotas de suor nos azuis e brancos? Quase juraríamos que não.

Num dos jogos mais fáceis da época, com o mérito do dragão a entrelaçar-se no poético hara-kiri do oponente, o FC Porto fez as pazes com a vida e agarrou pelo braço o objetivo maior da época.

Para isso voltou a ter na baliza Iker Casillas, quatro meses depois do último jogo do espanhol no campeonato. Uma reparação de Conceição que peca por tardia, mas que repõe a lógica e a justiça na guarda das redes portistas.

O melhor deve jogar sempre e Casillas, por muito respeito que José Sá nos mereça (e merece), é infinitamente superior ao português, seja qual for o ponto de vista em análise. Iker teve um jogo tranquilo e mostrou mãos sólidas em dois livres de João Novais. O FC Porto está bem entregue.

DESTAQUES NO DRAGÃO: a ressurreição de Iker e a aparição de Dalot

O resto foi, como dizer, um fio argumentativo demasiado previsível. O Rio Ave a querer ter bola e a ser incapaz de incomodar; o FC Porto a agradecer as perdas rioavistas e a cavalgar quase sempre com perigo, com Sérgio Oliveira a assumir as transições e Brahimi/Corona a procurarem desequilíbrios nas alas. No meio, Soares e Marega.

Ora, foi precisamente Sérgio Oliveira a abrir hostilidades, ainda o jogo despertava. Brahimi para Telles na esquerda, cruzamento rasteiro, passe atrasado de Soares e pontapé do médio.

O conforto do primeiro beijo. Do primeiro golo. Tiquinho Soares fez o segundo num belo cabeceamento após canto de Telles (mais duas assistências esta noite) e Marega, naquele estilo de quem não sabe muito bem o que vai fazer, aproveitou um ressalto no corpo de Marcelo para o 3-0.

Daí até ao fim, o FC Porto geriu, entregou em vários momentos a posse de bola ao Rio Ave e percebeu que continuaria em primeiro lugar na Liga, com a possibilidade importantíssima de alargar a distância para os perseguidores na próxima quarta-feira.

Nota final para a estreia do menino Diogo Dalot no campeonato – no lugar de Telles na esquerda –,para o quarto golo dos dragões, num cabeceamento de Moussa Marega (depois da tal segunda assistência de Alex Telles) e para o 5-0 (tinha mesmo de ser este o resultado para apagar o de quarta-feira) novamente de Soares. Este após consulta de Jorge Sousa ao VAR.

Liverpool? Beatles? O FC Porto nunca ouviu falar deles. Só assim pode abraçar a Liga como gosta.