O tubo de ensaio explodiu no laboratório do professor Nuno. Nas mãos do treinador. A raiz quadrada elevada ao cubo, X por Y é igual à soma dos catetos da hipotenusa… Tudo errado nos cálculos feitos para a visita ao Tondela, mistura perigosa e potencialmente transmissível.

Cabelos em pé, olhos esbugalhados, o FC Porto deixa dois pontos importantíssimos na casa de um brioso oponente.

A engenhoca pensada por Nuno não passa nos testes do controlo, tolhida por um evidente primarismo. 4x4x2 a lembrar outros tempos, experiência a pensar na potência e efetividade de um futebol direto mal executado e mal gerido durante 90 minutos.

Dois pontas de lança em dia não – André Silva terrivelmente desinspirado, Depoitre uma verdadeira nulidade -, dois alas que não chegam uma vez à linha de fundo e não fazem um cruzamento (o que seria um dos princípios fundamentais desta experiência falhada de Nuno).

OS DESTAQUES DO JOGO: Otávio e dois bons guarda-redes

Otávio e Brahimi são homens de bola no pé, de busca constante de zonas interiores; Rúben Neves e André André são médios que jogam sobretudo de forma lateralizada. Conclusão: as bolas lançadas para os avançados chegavam essencialmente dos laterais (Layún e Telles) ou, vejam só, de um dos próprios pontas-de-lança, quando caía para um dos flancos.

Tudo isto de uma forma absolutamente previsível e lenta durante uns bons 75 minutos. Nem um remate enquadrado, nem um lance de sufoco para Cláudio Ramos, nem um lampejo de génio ou excelência, apesar das tentativas nobres de Otávio (o melhor dos dragões, com Casillas) e de Brahimi, empenhado e comprometido.

Ora, falávamos em primarismo. Vamos a ele. No futebol moderno, onde se pede velocidade e qualidade para desbloquear blocos duros e baixos, este tipo de poção criada por Nuno teria sempre muitas dificuldades em dar certo.

A FICHA DO JOGO E O FILME DA PARTIDA

Não há planos infalíveis, mas há convicções e ideias firmes, melhores ou piores. E o que é grave é que, chegados a setembro, não conseguimos identificar a fórmula-NES nesta equipa do FC Porto, apenas um destroço de rascunhos num caderno já sujo e gasto, com dois meses de competições oficiais.

Quem não tem culpa nenhuma de tamanha incompetência é o Tondela, claro. Agressivo no comportamento defensivo, ameaçador nas saídas por Wagner e Murillo (o extremo cedido pelo Benfica falhou no um para um com Casillas aos 72 minutos) e concentrado em tudo o que foram duelos físicos.

O ponto fica muito bem à equipa de Petit, apesar da reta final do FC Porto, num assombro de orgulho e amor próprio. Os dragões podiam ter ganho nesse assalto final, mas se o golo surgisse – e podia ter surgido, não estivesse André Silva numa tarde horrenda – arruinaria a lógica de tudo o que tinha ficado para trás.

Nuno Espírito Santo tem muito para refletir e decisões importantes a tomar. A começar, provavelmente, no rumo que pretende abraçar. Que FC Porto quer o técnico? Ainda não percebemos, honestamente.

Vociferar o ‘Somos Porto’ e o ‘não temos metas nem limites’ não bate certo com os ensaios práticos desta equipa. Isto só torna profundamente embaraçosas as invenções de um laboratório sem certificado nem marca registada.