A tradição diz que nesta década o FC Porto vence sempre na última jornada antes do final do ano civil. A tradição diz também que em 37 jogos para o campeonato o Marítimo nunca venceu no reduto portista.
Nesta quadra natalícia, propensa a tradições, este dragão não quis deixar nenhuma por cumprir e no encerramento da 15.ª jornada venceu os madeirenses por 3-1 vai comer o bolo-rei e as rabanadas na frente do campeonato, numa liderança partilhada com o Sporting, deixando o Benfica a três pontos em vésperas de poder capitalizar com o dérbi lisboeta – caso vença fora o Feirense, a 3 de janeiro.
Esta consoada antecipada não foi, porém, um banquete para um dragão habitualmente insaciável sempre que janta em casa.
Na antevisão do jogo, Daniel Ramos disse que para travar este FC Porto precisava de jogar com mais quatro defesas. Na verdade, jogou com mais um. Diney entrou para terceiro central. O Marítimo apresentou-se com uma linha recuada de cinco homens, mais quatro na zona intermédia e Everton solto lá na frente (Rodrigo Pinho foi sacrificado por ser um avançado mais posicional).
O onze madeirense mais parecia um harmónio, esticava por vezes, mas logo se reagrupava, com toda a equipa confinada a 15 metros, também por culpa do FC Porto – Marcano e Reyes muitas vezes apareciam no meio-campo maritimista para encostar o adversário às cordas.
Com espaços reduzidos, o FC Porto teve dificuldades em penetrar de bola corrida, mesmo com Aboubakar e Marega em cunha e Brahimi e Ricardo bem apoiados pelos laterais. Ao centro, Danilo e Herrera dominavam o meio-campo.
FC PORTO-MARÍTIMO: FICHA E JOGO AO MINUTO
A equipa de Conceição teve, porém, paciência para flanquear. O jogo saía fluído, embora esbarrasse no muro insular. Seria, portanto, de bola parada que surgiria o perigo concreto: canto de Telles e cabeça de Reyes. 1-0 aos 19’ e o primeiro golo pela equipa principal do FC Porto do mexicano, que voltou a sentar no banco Felipe.
O mais difícil estava feito? Parecia.
O Marítimo acusou o toque e lá no fundo descobriu que havia uma baliza azul e branca. Everton tentou visá-la, Sá defendeu, mas na sequência do lance nada pôde fazer para evitar o empate dos madeirenses. Fábio Pacheco rematou forte e o toque de Reyes enganou o guarda-redes portista.
A quadra é natalícia, mas a noite era de Reyes, com tudo o que isso tem de bom ou mau.
Nada imbuído do espírito, Gamboa não foi nada meigo ao agarrar Aboubakar, primeiro, e depois a entrar às pernas de Herrera. Resultado: dois amarelos em dois minutos (37’ e 39’), bem mostrados por Manuel Mota, e uma brecha no muro madeirense, que não tardaria a ser aproveitada. Ainda antes do intervalo, Marega surgiu decidido a estabelecer diferenças e, bem servido por Brahimi, na cara de Charles, encheu o pé para fazer o 2-1.
Estava feito o mais difícil? De novo, parecia.
Com mais um golo no marcador e mais um jogador em campo, o FC Porto foi gerindo o segundo tempo com intensidade não muito elevada. De novo, um jogo de paciência. Até porque Daniel Ramos sabe organizar os parcos recursos que tem e fazer desta equipa um bloco.
Só a entrada de Corona para o lugar de Maxi, aos 63’, e o respetivo recuo de Ricardo, espevitou o FC Porto, que depois de muito rondar, lá acabou por cravar as garras na presa de novo pelo instinto felino de Marega: Brahimi voltou a colocar o franco-maliano na cara de Charles e… golo. 3-1, resultado mais condizente com o domínio azul e branco e a liderança como presente natalício na última jornada de 2017.
Não fossem os erros (próprios e alheios) na deslocação às Aves e na receção às águias e este dragão já voaria a grande altitude, com quatro pontos de vantagem sobre leões e oito sobre as águias. A crueza dos números, porém, traduz-se numa igualdade pontual com o Sporting e em três pontos de vantagem para o Benfica, em vésperas de dérbi de Lisboa.
Nesta noite de Reyes e Marega (mas também de Danilo, que fez mais uma exibição categórica), os descobridores do caminho Marítimo para chegar a bom Porto, os dragões reencontraram-se com a liderança, que é sua desde o início da temporada.
FC Porto-Marítimo: veja aqui o resumo do jogo
