Reviravolta, remontada, chamem-lhe o que quiserem. Aquilo que o Feirense fez esta tarde, depois de estar a perder por duas bolas a zero, indo ganhar 3-2, é todos os níveis fantástico. Tal como foi o futebol apresentado por Feirense e Desp. Chaves, que serviram uma hora e meia de futebol intenso, sem amarras e de procura de uma vitória que, de forma justa, acabou por cair para a equipa da casa.

O conjunto fogaceiro ganhou um fôlego que pode vir a ser decisivo, e soprou as velas do seu aniversário com uma vitória épica que a deixa com 32 pontos.

Ricardo Soares é que continua sem saber o que é vencer fora de portas, mas a sua equipa voltou a deixar uma imagem positiva.

Que bela prenda, este jogo

Emoção embrulhada em bom futebol. Foi essa a prenda dada por Feirense e Desp. Chaves, na tarde deste domingo que, além de ser o Dia do Pai, acordou após o 99.º aniversário do Feirense.

Como presente, os fogaceiros queriam três pontos que podiam ser muito importantes para que o clube de Santa Maria da Feira viva o ano do centenário no convívio com os grandes do futebol nacional.

E Nuno Manta Santos deixou desde cedo clara a ideia de que era a vitória que a sua equipa procurava. Montada num 4-4-2 em que Etebo surgia a jogar em dupla com Karamanos na frente, os fogaceiros assumiram a iniciativa do jogo, perante um Desp. Chaves que pareceu surpreendido com a mudança tática do adversário.

Com isto, durante os primeiros 25 minutos, só deu Feirense. Etebo esteve perto do golo, Luís Machado também tentou, mas o nulo teimava em manter-se. Com a passagem do tempo, e depois de Ricardo Soares chamar algumas vezes os seus jogadores ao banco para lhes explicar como atuar perante o adversário, passou a haver mais Desp. Chaves no jogo.

Bressan pegou no jogo dos transmontanos, levou a equipa para a frente e, com Fábio Martins a querer mostrar-se também, os flavienses passaram a ser mais perigosos.

E quando tudo apontava para que o descanso chegasse com 0-0 no marcador, Bressan trocou as voltas a toda a gente e, num livre direto executado de forma exímia, deu vantagem à sua equipa, mesmo a terminar a primeira parte.

O golo parecia um castigo demasiado severo para a exibição do conjunto feirense, mas prometia mais animação para a partida.

Sete minutos eletrizantes e jogo aberto

Se os primeiros minutos já tinham sido intensos e muito interessantes de seguir, a etapa complementar ia multiplicar a intensidade e o interesse por dez.

Mas vamos por partes. Aos 49', numa arrancada que já é imagem de marca de Fábio Martins, o extremo flaviense levou tudo à frente, já dentro da área sentou Flávio Ramos, e aumentou a vantagem do Desp. Chaves, perante um Feirense incrédulo perante o que acontecia.

Só que em vez de baixar os braços, os homens de Nuno Manta Santos decidiram mostrar de que fibra são feitos os homens deste clube quase centenário e foram em busca da história que ambicionavam escrever.

Na resposta, aos 53', Luís Machado, que já tinha sido o melhor dos fogaceiros na primeira parte, surgiu dentro da área em posição frontal e foi derrubado por Pedro Queirós, numa falta para grande penalidade. Tiago Silva assumiu a responsabilidade, pareceu hesitante na corrida para a bola, permitindo a defesa de Ricardo, mas depois foi decidido para a recarga e marcou mesmo, reduzindo a desvantagem.

E quando ainda se celebrava esse golo – sob gritos de «para cima deles» que vinham das bancadas – o Feirense foi com tudo em busca do empate, que demorou apenas um minuto a aparecer. Mais uma vez, seria Luís Machado o homem decisivo, a aproveitar uma segunda bola à entrada da área para fazer a equipa e os adeptos numa reviravolta incrível.

E isso não aconteceu logo depois, porque Karamanos deslumbrou-se quando tinha tudo para marcar, falhando o cabeceamento num lance em que estava isolado.

História dourada escrita a azul

Após sete minutos em que o jogo esteve ligado à corrente, ambas as equipas optaram por reduzir a velocidade do jogo, percebendo que a vitória podia cair para qualquer lado.

Só que o Feirense queria escrever uma página histórica. E isso não combina com meias medidas. Ciente disso, Luís Machado - sempre ele - pegou na equipa e levou-a para a frente. E depois, numa bandeja, serviu Etebo para o golo da remontada, que surgiu aos 81 minutos, com o estádio Marcolino de Castro a «ir abaixo» com a festa dos adeptos.

Num dia que já era especial para o clube de Santa Maria da Feira, a reação flaviense não foi capaz de impedir que os homens de Nuno Manta Santos tenham escrito um episódio dourado da vida do Feirense.

Ainda falta lacrar a permanência, é certo, mas o envelope já está selado e diz «Feirense na I Liga, época 2017/18». Está perto.