É possível começar uma crónica a falar do cronista? Não convém, de todo, mas quando serve de exemplo para a trave mestra de um jogo, por que não? Ora, este foi um duelo difícil até para quem apenas teve de escrever sobre ele. Ou assistir, falando dos que estiveram no Dragão. Não que tenha sido mau o jogo. Nada disso. O problema é que acima de qualquer nuance tática ou referência técnica, um fator externo pesou: o calor. O intenso calor que se fez sentir ao longo dos 90 minutos e marcou, de forma indiscutível, a vitória, também ela inatacável, do FC Porto sobre o Moreirense.

Num cenário em que os termómetros andaram sempre acima dos 30 graus (no apito inicial estavam, até, mais de 35), a prudência aconselhava resolver cedo, antes que o desgaste inevitável fizesse das suas. Foi o que fez o FC Porto. E fez bem. Depois, viveu dos rendimentos, tentando animar um pouco as bancadas novamente repletas da sua casa e compensar os mais de 46 mil que trocaram a praia pela bola.

Contou com um Moreirense que não incomodou muito, jogou quase sempre em cima da área contrária e depois permitiu, apenas, que se fizesse o jogo das apostas: o FC Porto vai ganhar por quanto?

Aos 21 minutos já vencia por 2-0, com bis de Aboubakar, concretizado no espaço de três. Primeiro desviou de forma fulminante um centro brilhante de Alex Telles. Uma bola que parecia uma bala. Depois, corrigiu o que Marega e Óliver tentaram, no aproveitamento sagaz de um erro de Aberhoune na saída de bola. Jhonatan evitou uma vez, os companheiros a segunda, mas à terceira festejou-se de novo no Dragão.

Tudo isto com Sérgio Conceição a lançar praticamente o onze esperado. Não foi o mesmo de Tondela porque Maxi Pereira entrou no lugar de Ricardo, que nem foi ao banco (algo que merecerá ainda uma explicação, certamente). Do lado contrário, Manuel Machado colocou Ernest a fazer de Boateng, baixa confirmada esta semana quando assinou pelo Levante. E preferiu Ronaldo Peña a Cádiz, embora ao intervalo, e já a perder, tenha tentado ver o que dava se tivesse os dois lá dentro. Pouco mudou.

Um golo por cada ponto somado

O jogo não foi só os golos, claro, mas o sumo é esse. Tivesse outra eficácia e, mesmo em ritmo claramente inferior a partir do 2-0 (lembram-se do calor que estava?) e estaríamos a falar de um FC Porto que imitava as goleadas dos rivais.

Jhonatan negou golos a Felipe e Danilo, no primeiro tempo. A trave evitou que Marega entrasse na disputa para golo da jornada já no segundo.

E o Moreirense? Defendia como podia. Em abono da verdade, não fez muito mais. O lance mais perigoso acabou por ser um cruzamento que ninguém desviou, aqueles lances clássicos do «se ele lá chega...». O ele era Ronaldo Peña e não, não chegou. Isto em cima do intervalo, numa altura em que todos ansiavam um refresco. Jogadores e adeptos, certamente.

No segundo tempo, Machado mudou duas peças de uma assentada, lançando, então, Cádiz e também Neto, Conceição apostou em Otávio no lugar de Brahimi que não esteve nos seus dias e deu a ideia que a gestão de esforço que fez durante a semana era mesmo necessária.

O FC Porto, porque não precisava, não foi tão incisivo. O Moreirense, porque não conseguia, não foi sequer perigoso.

Mas deu para o terceiro, já com Hernâni em vez de Corona, num lance simples, em que a bola foi da cabeça de Marcano para os pés de Aboubakar com o avançado a encarar a baliza e a rematar rasteiro para o hat-trick que o deixa ao lado de Jonas no topo da tabela dos marcadores.

Um golo por cada ponto somado, já que Jhonatan não deixou Hernâni fazer o quarto e confirmou-se como o melhor do Moreirense no Dragão.

Em três jogos, o FC Porto faz o pleno, marca oito golos e não sofre nenhum. Ganha confiança para a batalha de Braga, na próxima jornada, que pode dar, de uma vez por todas, o tom para este início de época. Para já, era difícil pedir melhor.