«Cheira bem, cheira a fogaça!» Quem acompanha os jogos do Feirense está habituado a ouvir o cântico que, originalmente, recorrer à canção que enaltece Lisboa, mas que, neste caso, homenageia o pão doce tradicional de Santa Maria da Feira. E mais do que nunca, diante do Moreirense, esse cântico fez todo o sentido, ou não se tivesse assinalado ontem a Festa das Fogaceiras, uma das mais tradicionais da localidade do distrito de Aveiro.

Talvez inspirados pela comemoração da véspera, que até se estendeu ao relvado com pequenas “fogaceiras” a subirem ao relvado de mão dada com os jogadores (e a outra a segurar a fogaça que levavam à cabeça), os homens de Santa Maria da Feira conquistaram um triunfo (1-0) que tem tanto de sofrido como de saboroso.

Certo, é que depois um dia de oferendas, S. Sebastião foi generoso também com o clube da terra, que sai do jogo com o Moreirense com importantes três pontos e vantagem no confronto direto com uma equipa que também luta pelo objetivo da permanência.

Mas convém explicar o porquê de S. Sebastião ser chamado a isto das lides futebolísticas. E é a história que o justifica. Uma história que se escreve há 513 anos consecutivos e que espalha o cheiro a fogaça por Santa Maria da Feira a cada dia 20 de Janeiro.

É que a razão para a festa que parou o concelho na véspera e que ainda se fazia notar neste domingo, é uma promessa feita ao Mártir S. Sebastião, na Idade Média, numa época em que a população da região foi dizimada por um surto de peste.

Conta a lenda que o santo terá ajudado a resolver esse problema de saúde em troca das oferendas de pão doce. No fundo, uma troca de fogaça por saúde. E o que representa esta vitória da equipa de Nuno Manta, se não uma boa dose de saúde pontual?

João Silva madrugou antes da gestão

Mas se a equipa feirense se deixou inspirar pela festa, não parece que os jogadores a tenham vivido até altas horas. É que foi um João Silva madrugador aquele que, aos 3 minutos, marcou o golo que valeu o triunfo à equipa de Nuno Manta.

Depois de rodar para a baliza, o avançado que marcou pela segunda jornada consecutiva tentou o remate de longe, beneficiou de um desvio em Rúben Lima - S. Sebastião, lembram-se? - e levou a bola  a entrar juntinho ao poste, impossibilitando a defesa de Jhonatan.

Em desvantagem, a equipa do Moreirense que tinha entrado em campo preparada para uma luta feroz, com um setor intermediário muito musculado - Boubacar, Alfa Semedo e Neto - foi à procura do empate mas não o fez com a receita certa.

O futebol direto prevalecia na equipa de Sérgio Vieira que perante um Feirense confortável a travar as investidas dos cónegos, mudou de estratégia, trocando o músculo de Boubacar pelo cérebro de Tozé, ainda na 1.ª parte.

E a verdade é que a troca surtiu efeito quase de imediato. Com a bola a ser jogada à flor da relva pela batuta do médio criativo português, o Moreirense aproximou-se da área contrária e teve mesmo a melhor oportunidade no pé direito de Tozé que, com um remate à entrada da área, obrigou Caio Secco a defesa vistosa para canto, mesmo a fechar os primeiros 45 minutos.

A pior notícia para o Moreirense é que essa seria mesmo a grande oportunidade do jogo. Na 2.ª parte, e a correr contra o tempo, faltou discernimento à equipa minhota para incomodar verdadeiramente Caio Secco, que só passou por um pequeno calafrio aos 90+1, quando alfa Semedo surgiu em boa posição para cabecear direto para as mãos do guardião brasileiro.

O Feirense também foi gerindo a vantagem, explorando sempre as saídas rápidas de Hugo Seco, mas preocupou-se mais em defender - com muita garra, diga-se - e a festejar cada corte como se fosse um golo.

Pudera, a fome de pontos era muita e os três somados diante do Moreirense dão algum conforto aos fogaceiros. E em caso de dúvida, é continuar a pagar em pão doce a S. Sebastião.