Atropelo Cónego ao dragão. O Moreirense reservou um lugar entre os grandes na próxima época, vencendo na receção ao FC Porto (3-1) de forma atrevida e corajosa, conseguindo um triunfo histórico perante um dragão a ressacar pelo final do campeonato.

Bastava um triunfo ao Moreirense, a tarefa era hercúlea e batia num histórico sem triunfos diante da equipa da Invicta, mas valeu a valentia da equipa de Petit e uma dose considerável de astúcia para fazer frente a um FC Porto incaracterístico.

No derradeiro jogo da temporada, a jogar de forma descomprometida, Nuno Espírito Santo fez quatro alterações em relação à equipa que goleou o Paços de Ferreira. José Sá estreou-se na baliza, Danilo e Felipe regressaram à equipa e Otávio apareceu no corredor direito.

A exemplo do que aconteceu ao longo da época, mas com especial notoriedade em virtude da falta de efeitos práticos do encontro, faltou intensidade e fantasia ofensiva aos azuis e brancos. A maior ousadia de Otávio perdeu-se com o encostar do brasileiro à linha e o miolo perdeu criatividade ao pedir a Herrera que assumisse o estatuto de playmaker.

Foi, portanto, um FC Porto auto amordaçado e com problemas estruturais aquele que se apresentou em Moreira de Cónegos, esbarrando, em contraste, num Moreirense que não se escondeu perante a responsabilidade que advinha do desfecho do encontro.

Petit foi ousado, apostou num meio campo menos musculado e deu espaço a Boateng, que jogou mais solto ao lado da referência David Ramirez, montando um Moreirense destemido e, sobretudo, com mais querer. O triunfo era suficiente aos minhotos para se livrarem de quaisquer contas.

Foi este maior querer que fez o Moreirense chegar ao intervalo com uma vantagem e dois golos sobre o FC Porto. O conjunto de Petit agarrou-se à Liga, precisando apenas de um quarto de hora para abrir o ativo e registar a primeira explosão de alegria no Parque de Jogos Comendador Joaquim de Almeida Freitas.

Rebocho cruzou da esquerda e Boateng correspondeu com um golpe de cabeça irrepreensível a bater o estreante José Sá. Vinte minutos depois foi outro estreante, Frederic Maciel, a dar nas vistas. A jogar pela primeira vez a titular na Liga, o médio foi lançado por Boateng e na cara do guardião portista não desperdiçou a oportunidade de por os Cónego numa situação ainda mais confortável.

A génese dos dois golos do Moreirense está no lado esquerdo, ou seja no inoperante lado direito azul e branco. Nuno Espírito Santo fez duas alterações ao intervalo, trocando Otávio e Herrera por Corona e André Silva.

A meias com um desacelerar por parte da equipa de Petit, que tentou gerir a vantagem de dois golos, seguiu-se o melhor período dos dragões. Fase que foi acompanhada com um golo de Maxi Pereira. André André serviu o lateral direito que, em mais uma das suas incursões à área adversária rematou de forma acrobática, enquanto rodopiava, trazendo indefinição a Moreira de Cónegos.

Com a conjugação de resultados em Arouca e Tondela, sofrer um golo por parte do Moreirense seria fatídico, pelo que os Cónegos não resistiram à tentação e à tensão. Ouvido em Arouca e, principalmente em Tondela, e Bouba Saré no meio campo para reforçar o combate às investidas do FC Porto.

Mas ainda havia mais um fôlgo de Boateng. O extremo voltou a fazer o que quis no lado direito antes de servir Alex, lançado por Petit a partir do banco, com o canhoto a atirar de forma subtil para o fundo das redes e selar as contas da manutenção

Muitos pecados do FC porto em Moreira de Cónegos, a adensar o rol de erros cometidos ao longo da época pelos dragões, confirmando-se com números: com esta derrota o FC Porto perdeu o estatuto de melhor defesa da Liga, não conseguiu ultrapassar os encarnados em número de golos marcados e perdeu pela primeira vez com o Moreirense na Liga.

Muitos pecados, demasiados pecados na quarta época consecutiva sem conquistar títulos, fazendo da crença do Moreirense uma arma suficiente para derrubar o dragão na derradeira jornada do campeonato, acabando por dar tons de verde à bandeira axadrezada que assinala o final da época.

A festa foi do Moreirense, que consegue uma manutenção histórica. Os Cónegos garantem um lugar entre os grandes do futebol português na próxima época, pelo quarto ano consecutivo, o que ainda não tinha acontecido na sua história. Fizeram por merecer tal desidrato, juntando a este feito histórico a conquista da Taça da Liga.