Incrível, parte II. O Tondela volta a fazer história e a salvar-se no último suspiro. A vitória por 2-0 frente ao Sp. Braga, aliada à derrota do Arouca (4-2) levou à explosão de alegria em Tondela, com direito a invasão de campo e toda uma cidade a celebrar no relvado do Estádio João Cardoso.

Heliardo e Kaká marcaram os golos tondelenses, num jogo em que a equipa «auriverde» fez por ser feliz.

O Tondela entrou nesta finalíssima com «a corda na garganta» conforme referira Pepa na antevisão à partida. De forma consciente ou não, o técnico dos «auriverdes» citava um dos mais ilustres adeptos tondelenses, Samuel Úria, que sem saber escrevera, há muito, uma canção que antecipava um pouco da história de um dos jogos mais importantes do clube da sua terra.

Com o público tondelense aperaltado, a encher as bancadas do Estádio João Cardoso, e sem alternativa a não ser a vitória, sentia-se o fascínio de uma equipa que aspirava a repetir o feito travestido de milagre que operara na época passada.

As circunstâncias absolutamente decisivas desta partida fizeram os jogadores beirões entrarem nervosos na partida. Com dificuldade em construir jogo ofensivo nos primeiros dez minutos, foi valendo ao Tondela algum desacerto dos arsenalisatas na hora de rematar.

Cláudio Ramos foi segurando o nulo e os adeptos empurrando a equipa que começou depois a soltar-se, sobretudo através de iniciativas de Pedro Nuno. O médio «talismã» da vitória em Arouca na jornada anterior voltou a entrar com vontade de brilhar para encaminhar a sua equipa para mais um triunfo.

Moreirense obriga a dar corda aos sapatos

Se em Tondela, aos 35 minutos, havia pouco para contar, noutro campo onde se jogava a permanência, o Moreirense fazia pela vida e já vencia por dois golos o FC Porto.

E esse segundo golo dos cónegos sentiu-se e de que maneira em Tondela. O apoio forte que se fizera sentir de forma intensa até então, esmoreceu nesse momento. Porém, isso aconteceu apenas nas bancadas.

No relvado, o Tondela sentiu que era hora de dar corda aos sapatos para andar para a frente, rumo ao sonho, cujo caminho tinha de ser feito pelo próprio pé.

E aí, surgiu o suspeito do costume: Pedro Nuno. O médio ofensivo descobriu Miguel Cardoso na esquerda do ataque, o extremo cruzou para o coração da área onde surgiu Heliardo, cheio de alma, a empurrar para o golo.

Explosão de alegria aos 41', e a chama da esperança a reacender-se pouco antes do intervalo.

Manter a fé e o bom combate do camisola 17

Fé e alma. A segunda parte pedia que os onze «auriverdes» no relvado mantivessem tudo aquilo que tinham mostrado até então, mas isso podia não chegar.

Num jogo que passou a ser mais combativo e com disputas de bola mais acesas, voltou a ser o pequeno operário Pedro Nuno a carregar a equipa para a frente.

Aos 64', num livre que até tinha a cara do camisola 17, foi Murilo a assumir a marcação e a atirar a bola ao poste da baliza bracarense. Só que quando ainda se lamentava essa falta de sorte, Pedro Nuno voltou à carga, colocando a bola na cabeça do capitão Kaká, que não perdoou e fez o segundo golo auriverde.

Se nesse momento, faltava um golo ao Tondela, ele acabaria por chegar via... António Coimbra da Mota. Tocantins, um nome pouco provável a dar o último passo do sonho tondelense. Depois foi sofrer, sofrer e festejar.

Uma equipa reservada para o lado que no fim se ri

Uma palavra obrigatória para Pepa. O técnico chegou a Tondela em janeiro, quando a equipa tinha apenas 10 pontos, a uma jornada do fim da primeira volta. Nas 12 jornadas que se seguiram levou a equipa à conquista de sete pontos, fruto de um triunfo e quatro empates.

Ate que, já na reta da meta para o final do campeonato, somou 12 pontos em cinco jogos. Chegou a este jogo a precisar de vencer e conduziu a equipa a essa vitória.

Se no ano passado a permanência do Tondela soou a milagre, este ano o relâmpago voltou a cair no mesmo local. Mas foi Pepa quem ajudou a fazer equipa acreditar e brilhar ao ponto de conseguir este feito. Sublime.

Um ano volvido, e depois de passar uma época inteira abaixo da linha de água o Tondela volta a mostrar que, como canta Samuel Úria, está reservada para o lado que no fim se ri.