No último suspiro, e com recurso à tecnologia. O Feirense conquistou a primeira vitória, fruto de um golo que surgiu já nos descontos, através de uma grande penalidade convertida por Tiago Silva, e que foi confirmada com o recurso às imagens, depois de o árbitro assistente ter dado a indicação do castigo máximo.

Num jogo que valeu, sobretudo pelos primeiros 45 minutos, fica a certeza de que o futebol só tem a ganhar... se deixar os artistas brilhar. A equipa de Vasco Seabra regressa a Paços de Ferreira sem pontos somados - algo que é recorrente nas visitas a Santa Maria da Feira, onde somou o 11.º desaire em 17 jogos -, mas com a certeza de que a equipa sai fortalecida pela presença de Whelton em campo.

Porque o futebol pode ser uma coisa muito simples. Basta libertar os artistas e deixá-los brilhar. Mesmo quando as amarras impostas pelo oponente parecem bem apertadas, se há alguém que pode as desatar é quem tem dentro de si um génio.

E se forem precisas provas daquilo que aqui se afirma, basta que se assista à partida que encerrou a 3.ª jornada da Liga. Num tabuleiro em que Feirense e P. Ferreira montaram as suas estruturas de forma bem organizada – porque somar um ponto é sempre melhor do que não somar nenhum, como bem lembrou Nuno Manta Santos na antevisão à partida –, ambas as formações tiveram de recorrer aos seus “reis” para tentar desequilibrar a contenda a seu favor.

Claro que sem os peões de trabalho, dificilmente os génios podem aparecer, mas num jogo morno, ainda que bem disputado a espaços – sobretudo na primeira parte – só mesmo quem tem aquela magia que faz do futebol um desporto de paixões, podia agitar as águas.

Welthon e Etebo. É deles que se fala aqui. E da liberdade que lhes foi dada nesta partida, e que não acontecera nas jornadas anteriores.

O camisola 7 dos pacenses fez a sua estreia a titular. Sim, apenas à 3.ª jornada, houve oportunidade para o brasileiro, autor de 16 golos em 34 partidas na época passada, surgir no onze.

E se aos 12 minutos já mostrava que não perdera a intensidade e capacidade técnica demonstrada na época de estreia na Liga – com um excelente trabalho no interior da área -, dois minutos depois assinalava com golo este regresso ao jogo, que fica tão melhor tendo-o como protagonista.

Depois, voltou para as tarefas de jogador de equipa e deu o que a equipa lhe pedia. Luta, sacrifício e entrega. Essa nunca faltou, que o digam os centrais do Feirense que tiveram de correr muitos quilómetros para o acompanhar.

E se os «castores» não levam três pontos para casa, devem-no ao facto de, do outro lado do campo, haver um outro artista que teve liberdade para brilhar, e um peão - Tiago Silva - que fez muito para dar o seu contributo.

Depois de duas jornadas em que andou preso de movimentos, como referência principal do ataque da formação da Feira, foi dada a liberdade que faz de Etebo outro jogador.

A jogar sobre a esquerda do ataque, o nigeriano pode explorar a técnica que delicia os adeptos fogaceiros e que transporta a qualidade de jogo da equipa para outro patamar.

Isto, sem perder a sua importante presença na área, como mostra o golo que empatou a partida, ainda antes do intervalo, e uma outra aparição junto à baliza, que só o poste impediu de dar uma dimensão maior à sua influência do camisola 10 na história da partida.

A tecnologia não deixa espaço para a ditadura

Isso, e aquilo a que vamos chamar de «ditadura do ponto». Aquela sombra que paira sobre as equipas que lutam para sobreviver entre os maiores do futebol português e que fez com, na segunda parte, ambas as equipas surgissem, novamente, amarradas ao instinto de sobrevivência.

Os segundos 45 minutos tiveram muito pouco futebol, e a decisão da partida surgiu... com recurso à tecnologia, que, já no período de descontos, surgiu para confirmar uma primeira indicação de grande penalidade dada pelo árbitro assistente a Carlos Xistra.

O vídeo-árbitro confirmou e Tiago Silva encarregou-se de escrever um último capítulo de uma contenda em que os génios, antes de voltarem a ser presos, lutaram pela liberdade do futebol.