A Liga passou a duelo.

O treinador do Sporting, Jorge Jesus, concedeu que será muito difícil ao leão estar na luta pelo campeonato depois de mais um empate.

Com Benfica e FC Porto nos dois primeiros lugares e a distância dos restantes, as palavras do técnico são a análise mais óbvia, embora haja na história recente recuperações que permitem ao leão não perder a esperança.

Ainda assim, o campeonato parece inclinado para mais um duelo entre águias e dragões. A rivalidade entre os dois clubes é centenária, mas ardeu intensamente durante os anos de 80 e 90 e nunca mais se apagou.

Ironicamente, a Liga 2016/17 leva Benfica e FC Porto para o lugar da História em que essa grande rivalidade se reacendeu fortemente e que colocou águias e dragões por 12 vezes num mano a mano como aquele que parece que vamos presenciar.

Nelson Semedo e Diogo Jota: rostos novos de uma rivalidade antiga

Tal como agora, o Benfica era tricampeão em 1977/78. Já o FC Porto tentava, mais uma vez, sair da maior crise de títulos da História.

A segunda volta arrancou e o Benfica, líder, deixou o Sporting no quinto lugar a nove pontos (a vitória valia dois pontos, portanto os leões estavam a cinco resultados de distância). As águias nunca tinham estado em situação tão boa para chegar ao tetracampeonato no início da segunda metade do campeonato.

Porém, havia o FC Porto. A diferença era menor do que aquela que se regista agora. Os dragões estavam a dois pontos dos encarnados e dependiam apenas de si próprios para chegarem ao título.

O ombro a ombro entre as duas equipas é forte, tão forte que o Benfica chega ao final do campeonato sem qualquer derrota! E perde o título.

José Maria Pedroto era o treinador do FC Porto

Com três jornadas disputadas na segunda metade, o FC Porto apanha o Benfica nos 32 pontos: empates no Restelo e na Póvoa do Varzim fazem as águias escorregar.

À 22ª ronda, os azuis e brancos isolam-se (38 pontos vs 37) e à 25ª aumentam para dois pontos a diferença: o Benfica precisa que o FC Porto perca um jogo para o apanhar.

Na jornada 27, escorrega o dragão em Portimão. O empate permite-lhe, mesmo assim, ser líder, mas há clássico com o rival na jornada seguinte: a pontuação lê FC Porto 47, Benfica 46.

Carlos Simões marca um golo na própria baliza logo aos três minutos e durante mais 80 as águias são líderes: faltam sete minutos e mais dois jogos com o Feirense em casa e o Riopele fora, os dois últimos da classificação.

No entanto, Ademir marca aos 83 minutos, num remate de fora da área, como mostram as imagens da RTP. O FC Porto de Pedroto empata com o Benfica de Mortimore e fica um ponto à frente. O tetracampeonato começa a escapar ao Benfica.

Os azuis e brancos quebram logo a seguir, porém. E saem de Coimbra com um nulo, pelo que o campeonato segue mesmo até à última jornada: FC Porto 49 pontos, Benfica também. Ambos vencem na ronda 30 e terminam com 51. Os resultados dos clássicos são dois empates (0-0 na Luz e 1-1 nas Antas) e, portanto, decide o campeão a diferença de golos: +60 para o FC Porto, +45 para as águias. Os 25 golos de Fernando Gomes e os 19 de António Oliveira fazem diferença para o dragão.

As outras 11 vezes do duelo

Nem todas as épocas desde essa de 1977/78 foram uma contenda entre Benfica e FC Porto. Há a era José Mourinho, há os campeonatos de Sporting e Boavista, há lutas a três e o primeiro título de Jorge Jesus no Benfica, disputado com o Sp. Braga.

No entanto, depois de reacendida, a grande rivalidade entre águias e dragões passa por quase toda a década de 80 e só no final da seguinte ela deixa de ser tão visível em campo. Nos últimos anos, porém, reanimou-se e muito.

FC Porto e Benfica discutiram até ao final o campeonato de 1978/79. O seguinte àquele que foi descrito. O bicampeonato portista eleva a pressão na Luz, que ainda por cima vê o Sporting campeão em 1979/80.

Ora, depois de três temporadas sem vencer, a águia bate o FC Porto em 1980/81: dois pontos separaram as duas equipas no final do campeonato, com o Sporting a 13. A meio da temporada, o leão ia a 11 pontos do líder.

Há nova luta a dois em 1982/83, ainda que a diferença no final seja de quatro pontos a favor do Benfica de Eriksson. Que também vence na época seguinte 1983/84, com três pontos de diferença no final. O leão termina a nove e a dez do primeiro e no início da segunda volta já estava sete e a nove nesses anos.

As duas passagens de Eriksson na Luz foram marcadas por grandes duelos pelo título com o FC Porto

O duelo volta apenas em 1986/87, ano em que o FC Porto é campeão europeu. O Benfica inicia a segunda volta com 27 pontos, mais um que FC Porto e V. Guimarães e mais sete que o leão. Apesar de o terceiro lugar confirmar a boa época dos minhotos, o campeonato é outra vez para ser discutido pelos do costume: ganha desta vez o Benfica, por 48-46 em pontos.

Em 1989/90, é a vez de o FC Porto sair por cima: com o Sporting já a cinco pontos (ou seja, a pelo menos três jogos de distância), o dragão lidera a meio, por dois pontos, um campeonato que vence por quatro de diferença.

Em 1990/91, a história inverte-se. O Sporting até dobra mais próximo dos rivais, mas acaba por perder-se na corrida que faz das águias campeãs: Benfica 69 pontos, FC Porto 67.

Os dragões recuperam o título na época seguinte sem grandes problemas e atiram-se ao bicampeonato. Mas em 1992/93 o Benfica faz suar os azuis e brancos. O Sporting volta a dobrar perto, mas de novo perdeu-se no caminho e termina a nove pontos do campeão FC Porto: o Benfica ficou a uma vitória de distância.

O jejum do Benfica de 11 anos atira para o novo milénio outros duelos em campo com o FC Porto. Em 2004/05, o campeonato foi discutido a três, embora na última jornada apenas águias e dragões possam chegar ao troféu. No entanto, as épocas de 2011/12, 2012/13 e 2014/15 são disputadas entre ambos.

Portanto, nesta contabilidade, das 12 vezes em que houve duelo Benfica-FC Porto pelo título, uns venceram seis e os outros também.

O Sporting tem esperança?

Foi Jorge Jesus quem o disse. Que a situação do leão é complicada. Diga-se já que nunca uma equipa recuperou tamanha desvantagem após a primeira volta e ser campeã. Por aí, o Sporting terá de fazer o que nunca foi feito.

No entanto, há dois campeonatos relativamente recentes que relançaram duas equipas para uma luta que parecia perdida após a primeira metade e os de Alvalade estão envolvidos. Comecemos pela mais recente com uma nota prévia: o Benfica da época passada estava a dois pontos do líder por esta altura.

O Benfica 2006/07 virou a Liga a oito pontos do FC Porto e chegou ao clássico a um

O Benfica de Fernando Santos, em 2006/07 chegou ao último dia do campeonato com possibilidades de ser campeão ao lado de FC Porto e Sporting. Ganhou o dragão, como se sabe, mas as águias recuperaram de uma desvantagem que chegou a ser de 11 pontos na Liga: a meio era de oito. Menor que a do leão, certo, mas ainda assim significativa.

O facto de terem adiado o primeiro encontro do campeonato significou que a diferença para o FC Porto era de mais de uma dezena de pontos em dezembro. A vitória sobre o Belenenses no reacerto levou-a para oito a meio da temporada, mas quando o dragão visitou a Luz, na ronda 23, o Benfica estava a um ponto e podia ser líder isolado: deu 1-1, já agora, e falhou no objetivo.

A recuperação do Sporting terminou num golo de Jorginho

O Sporting da época anterior, ou seja, 2005/06, fez algo semelhante. Estava a sete pontos do líder FC Porto já em janeiro (jornada 18 de 34), mas quando recebeu o rival em Alvalade a quatro jogos do final, uma vitória significava ser lider isolado. Um golo de Jorginho deu o triunfo ao FC Porto. 

A Liga parece um duelo de dois, mas ninguém pode afirmar que o é com total certeza.