Sérgio tirou o curso de treinador, mas sem o saber terá também o direito a operar uma empresa de demolições, pelo menos quando joga em casa, sobretudo quando a empreitada é interna.

Nos afazeres domésticos este FC Porto tem sido demolidor. Depois de derrubar Estoril (4-0), Moreirense (3-0) e Chaves (3-0), voltou ao Dragão para ganhar balanço para um salto para a liderança à condição da Liga, com 21 pontos – mais três do que Sporting e mais oito do que Benfica, que só jogam este sábado –, acentuando mais um arranque que ficará para a história, ao golear de forma convincente o Portimonense por 5-2.  

Nesta noite de sexta, o FC Porto meteu a sétima vitória consecutiva num arranque de Liga que neste século só viu melhor em uma ocasião – só o FC Porto de Jesualdo Ferreira, em 2007/08, iniciou o campeonato com oito vitórias seguidas.

Em vésperas de uma importante deslocação ao Mónaco e na jornada que antecede o clássico em Alvalade, Conceição não mexeu muito no onze. Otávio saltou da titularidade para a bancada, devido a fadiga muscular, Alex Telles, que treinou condicionado ao longo da semana, manteve-se na equipa, tal como Herrera, que voltou a relegar Óliver para o banco.

Em casa, não há conceções, e o técnico portista voltou a apostar num 4-4-2 ofensivo com o duo africano (Marega-Aboubakar) em cunha lá na frente a desgastar a defesa algarvia. Não é por acaso que no Dragão este FC Porto é um bulldozer. Esta noite destruiu o adversário em cinco minutos. Mesmo. Não é força de expressão.

FC PORTO-PORTIMONENSE, 5-2: FILME DO JOGO

Aos 20’, Marcano concretizou a ameaça velada que tinha deixado aos 13’ e subiu à área para, após um canto de Alex Telles, rematar picado para o fundo da baliza.

Com o marcador inaugurado o FC Porto podia finalmente respirar? Nada disso. Este dragão sufoca o adversário e continuou a cuspir fogo. Dois minutos passados já aparecia Aboubakar na área em zona de tiro. Corona cruzou, o camaronês cabeceou contra o corpo de Ricardo Pessoa, e esteve lá na recarga, a atirar para o golo.

Quando não era à primeira, era à segunda. E o terceiro estava mesmo ali ao virar da esquina. Escassos minutos depois, de novo Corona na assistência, mas desta vez era Marega a aparecer na cara do golo. Isolado, o franco-maliano picou ligeiramente a bola à entrada da área. A força e velocidade de Marega têm largamente compensado eventuais debilidades técnicas, a ponto de Moussa se tornar num jogador fundamental no onze e numa das figuras do FC Porto neste arranque de época. Há uns tempos, quem arriscaria esta previsão?

Cinco minutos à FC Porto ajudaram a resolver o jogo. Mas houve muito mais dos 25 minutos em diante.

Se esta noite houve um grande espetáculo de futebol é também por culpa do Portimonense, uma equipa que joga um futebol desinibido, olhos nos olhos com qualquer adversário.

Os algarvios bem mereceram que Shoya Nakajima reduzisse ainda antes do intervalo, num lance que revela bem a qualidade técnica do japonês, que rematou de trivela na cara de Casillas. Shoya é um craque em potência, tal como é Paulinho.

FC PORTO-PORTIMONENSE, 5-2: DESTAQUES

Mas do outro lado, havia um caterpillar pintado de azul e branco, que entrou na segunda parte de novo capaz de derrubar qualquer barreira que lhe aparecesse pela frente. E aos 48’ lá estava Brahimi a aparecer na área, servido por Marega, a rematar para o quarto.

Este FC Porto, porém, não é apenas força bruta. Tem também muita arte. Que melhor exemplo do que o quinto golo?

Toque de calcanhar de Aboubakar, Herrera abre as pernas e deixa passar para Brahimi, que recolhe a bola, dribla à entrada da área e remata cruzado, fazendo-a entrar junto ao poste.

A única nota negativa neste jogo para os dragões terá sido o facto de terem sofrido pela primeira vez dois golos numa competição interna, já que aos 72’ Rúben Fernandes reduziu de novo para os algarvios que, pela atitude e qualidade futebolística, mereceram sair do Porto com um resultado ligeiramente mais leve.

Terminadas de momento as demolições internas, agora, em vésperas da deslocação ao Mónaco, o FC Porto ganha embalo e estofo para recuperar o tempo perdido na Europa. Para já, fica a ideia de que à medida que vai demolindo os adversários, Sérgio vai construindo uma equipa com os seus rapazes.

Não estranhe se num próximo jogo no Dragão o técnico azul e branco tirar a carteira ao bolso para lhe entregar o seu cartão: «Conceição & Filhos, C.ª Lda. – Empresa de demolições».