O FC Porto reage. É a sua principal caraterística neste início da época, a par da inércia em jogos recentes, como os empates frente a Copenhaga e Tondela. Quando se vê a perder, o Dragão responde com autoridade e orgulho. Na raça, a suar a camisola, a honrar o seu estatuto. Sobretudo pelas ações de Otávio e André Silva, dois jovens que vão alimentando o futebol ofensivo da formação azul e branco.

Três golos na resposta à vantagem inicial e pouco justificada do Boavista (3-1). Desfecho natural neste dérbi da Invicta. O 4-1-3-2 (ou 4-4-2, como preferirem) de Nuno Espírito Santo, porém, não permite sono descansado aos adeptos do clube. A obra está inacabada. E, sobretudo, os adeptos pedem ação antes da reação.

Sem surpresa, Nuno avançou para o nono jogo da época com mais uma dose de mudanças no onze. Desta feita foram quatro, passando Rúben Neves de titular a não-convocado, Herrera novamente no banco, Brahimi de novo por lá, Adrián López a substituir Depoitre.

André André envergou a braçadeira de capitão e fez tripla com Óliver e Otávio. O espanhol surgia pelo centro, no apoio mais direto a Danilo Pereira. O português pendia para a direita, o brasileiro para a esquerda. Davam criatividade no eixo mas não se desdobravam para chegar aos flancos.

O Boavista, vindo de duas derrotas consecutivas, procurava igualmente uma nova fórmula para atingir o sucesso. Erwin Sánchez mudava cinco unidades, da baliza à frente de ataque, estreando por exemplo o guarda-redes Kamram Aghayev e o criativo Iuri Medeiros. Seria um dos repetentes, ainda assim, a causar surpresa no Dragão.

Grande mérito de Henrique após livre cobrado por Fábio Espinho. O central axadrezado surgiu entre André Silva e Felipe, parecendo estar ligeiramente adiantado. Cabeceamento sem hipóteses para Iker Casillas.

O FC Porto sofria novo golo de bola parada, trazendo à memória os primeiros jogos da época. Um tento de Marcelo e um autogolo de Felipe permitiram vantagens de Rio Ave, em Vila do Conde (1-3), e AS Roma no Estádio do Dragão (1-1). Nos dois casos, a equipa de Nuno reagiu.

A capacidade de resposta é de facto a melhor notícia da ronda para a formação e branca.

O FC Porto denota capacidade de reação à perda, ao sentimento de injustiça clara do marcador. Quando sofre primeiro, aumenta os níveis de intensidade e corre como se não houvesse amanhã. Em Alvalade, por outro lado, começou a ganhar. Quando caiu sentiu-se sem argumentos.

Foi então uma equipa de resposta, de combate à adversidade precoce, em cima de um adversário com linhas recuadas desde cedo. O Boavista passou largos períodos longe da baliza de Iker Casillas. Quando a voltou a procurar já estava em desvantagem no marcador.

A reviravolta do FC Porto, porém, não pode ser dissociada da influência decisiva de um génio. Os dragões cercaram o adversário, é certo, viram Danilo Pereira cabecear ao poste mas a resposta estava nos pés de Otávio, do menino que vai crescendo a olhos vistos no regresso ao clube.

Otávio criou, André Silva concretizou. É curioso que, chegamos à segunda metade de setembro, continuem a ser dois miúdos (21 e 20 anos) a carregar em ombros esta formação azul e branca. Demasiada responsabilidade para jovens a quem dificilmente pode ser exigida consistência exibicional.

André Silva, por exemplo, falhou oportunidades flagrantes no nulo frente ao Tondela. Nesta sexta-feira, em contraponto, voltou aos golos em dose dupla e colou-se a Marega, avançado cedido ao V. Guimarães, na lista de melhores marcadores da Liga.

No reencontro com o Boavista, a quem marcou neste palco o seu primeiro golo com a camisola azul e branca, André Silva bisou. Desde esse dia, na última jornada da Liga 2014/15, foram 11 jogos oficiais e 8 golos pelo FC Porto. É justo pedir mais?

O avançado começou por aproveitar um cruzamento delicioso de Otávio, em jogada de insistência, convertendo mais tarde uma grande penalidade conquistada precisamente pelo brasileiro. Não restam dúvidas em relação à carga de Henrique sobre Otávio, já perto do intervalo, após trabalho genial do brasileiro.

O Boavista permitia a reviravolta com naturalidade. Pouco fizera desde o golo para o impedir. Limitou o seu jogo ofensivo nesse período a apontamentos interessantes de Bukia na esquerda. Iuri Medeiros, do outro lado, pouco se viu.

Com um FC Porto a depender dos seus laterais para ter profundidade nos flancos, os homens de Erwin Sánchez mostraram-se incapazes de explorar a lacuna para contra-ataques rápidos.

Decorria já o minuto 64 quando Carraça desferiu um remate de meia distância e colocou Iker Casillas em sentido. Era o mote para fase de maior pressão do Boavista, com a complacência de uma formação portista que deixava o jogo correr naquela diferença mínima, curta, perigosa.

Digas caiu na área em lance com Alex Telles e o banco axadrezado ficou a pedir grande penalidade mas Nuno Almeida mandou seguir. De facto, o lateral parece tocar na bola. Mais tarde, seria Schembri a reclamar castigo máximo, de novo com o árbitro a nada assinalar. Aqui com mais dúvidas sobre a legalidade do lance. Felipe corta a bola, Schembri queixa-se de empurrão de Óliver. Pelo meio, Jota caiu na outra área em duelo com Henrique. Muitas queixas, o mesmo desfecho: segue o jogo.

Já com sangue novo dos dois lados, o FC Porto viria a confirmar o triunfo com um frango tremendo do estreante Kamram Aghayev.

O guarda-redes azeri levantou as mãos para travar um cruzamento de Alex Telles e…a bola passou. O 3-1 caiu do céu e fechou contas no Dragão. O primeiro de três jogos em nove dias para o FC Porto. Seguem-se visitas aos redutos de Leicester e Nacional da Madeira. Terceira derrota consecutiva para o Boavista.