Entrar em passeio, acabar em contrarrelógio mas ver a camisola amarela fugir. O Sporting deixou em Moreira de Cónegos os primeiros pontos da época, com um empate na pior altura que deixa o FC Porto, próximo rival leonino, isolado na liderança da Liga. O resultado é um castigo justo para uma entrada algo sobranceira num jogo de características muito próprias, num campo curto e que acaba por ser sempre intenso. O Moreirense ganha um ponto que pode ser mais do que isso na moral da equipa.

Uma coisa é certa: a réplica dada pelo Moreirense mostra que esta é, com todo o direito, uma equipa «deste» campeonato. É impossível não lembrar as palavras de Manuel Machado há uma semanas, colocando os grandes acima de quase todos os outros e falando praticamente em missões impossíveis para ombrear com o seu poderio. Este sábado viu-se que não.

Mesmo sendo empurrado para o seu miolo defensivo durante quase todo o jogo, a equipa de Moreira de Cónegos entrou personalizada, às costas de Tozé e Rafael Costa e a acreditar que poderia fazer a diferença. O início macio dos leões fez aumentar a fé, a confiança cresceu e quando se chegou ao intervalo com os da casa em vantagem já ninguém estranhou.

É que para trás tinham ficado 45 minutos em que o Moreirense fez pela vida e fez por merecer a vantagem, que assentou na solidez defensiva e no veneno que colocou nos contra-ataques. A rapidez de processos foi norma e o meio campo povoado ajudou a ganhar muitas bolas divididas. Essa foi uma das pechas evidentes no esquema que Jesus montou para Moreira de Cónegos: miolo muito macio.

Num terreno curto, faltou, por ventura, a intensidade de Battaglia, que jogou apenas os últimos 20 minutos. Bruno Fernandes esteve muito longe do que já mostrou, porque o jogo pedia mais guerreiros do que artistas. Os extremos Gelson Martins e Bruno César, hoje em vez de Acuña, viram-se pouco no primeiro tempo e Alan Ruiz, por fim, não foi o apoio que Bas Dost precisava.

Assim sendo e tudo somado, o melhor lance do Sporting no primeiro tempo foi mesmo um remate de Alan Ruíz, em arco, que passou a rasar o poste. O Moreirense viu Tozé fazer o mesmo num tiro de fora da área, teve Ronaldo Peña a falhar na cara de Rui Patrício e o golo. E que golo! Coentrão cortou para o pior sítio, mas a verdade é que a defesa do Sporting estava muito mal posicionada. Rafael Costa recebeu na esquerda, dominou e disparou um míssil indefensável.

Jesus não perdeu tempo e, ao intervalo, trocou Alan Ruiz por Doumbia, tentando dar maior presença na área à equipa. A questão é que o problema principal estava em fazê-la chegar lá com qualidade. Despejar cruzamentos era muito pouco para o que se pedia, já que os centrais da casa iam controlando com tranquilidade todas as investidas.

A estratégia de Manuel Machado sofreu um abalo, porém, quando Koffi se lesionou e obrigou a improvisar na defesa. Entrou um central, André Micael e o quarteto que vinha a funcionar bem começou a revelar falhas. Tremeu e sofreu o empate, num lance infeliz de Aberhoune, que viu a bola bater-lhe no corpo depois de defendida por Jhonatan e levar o caminho da baliza.

Estávamos no minuto 61 e o Sporting reentrava no jogo com meia hora pela frente. Ficou muito perto do segundo quando Gelson atirou à trave, isolado, ainda antes dos 70 minutos, mas esgotou-se também ali.

Apostou depois no jogo direto, mas o Moreirense já tinha reencontrado o equilíbrio e com Manuel Machado a refrescar o ataque, o que se sentia é que, apesar do domínio leonino, qualquer equipa podia vencer o jogo. O remate de Aouacherria que Rui Patrício segurou sobre a linha, já nos descontos, é a prova disso.

A imagem de Coentrão deitado no relvado após o apito final é sintomática: o Sporting acabou esgotado. Mas porque correu em sprint, atrás do prejuízo. E não por, como se pedia, correr com inteligência. A melhor notícia é que pode recuperar a liderança já para a semana. A pior é que terá mesmo de ganhar ao...líder.