Um dérbi dos fracos, que deu empate, mas também não fragilizou ninguém.

Um Benfica talvez a pensar muito no PAOK, com Rui Vitória focado no dérbi e a mudar pouco. Só Rafa, porque não tinha Salvio.

Um Sporting consciente das suas limitações nesta altura, mas montado para atacar as fragilidades do rival. Passa melhor na imagem, porque as expetativas também são menores.

Mais focados, com melhor ligação entre os vários setores, os leões conseguiram um resultado que os pode continuar a alimentar para os próximos jogos, enquanto não toma uma forma mais definitiva. Os encarnados, obrigados a construir, pareceram desligados e com claras dificuldades nos momentos emergentes de definição, sobretudo no primeiro tempo, mas o empate também lhes salva a face.

Os da casa valeram-se das bolas paradas e da vontade de Rúben Dias, acabadinho de renovar, já os visitantes puxaram de Salin e de um punhado de defesas milagrosas, na primeira e segunda parte, com a última ao cair do pano, a um livre de Grimaldo.

Mas a história volta ao seu início: um dérbi dos fracos, a todos os níveis.

As «surpresas» Rafa e Raphinha

Sem Salvio, Rui Vitória apostou na verticalidade de Rafa e, mesmo depois de um aparente desgaste físico na segunda parte frente ao PAOK, manteve todo os outros antes da viagem a Salónica. O ex-Sp. Braga voltou a ser o mesmo, com duas ou três arrancadas e deficiências no momento de definir. Foi desaparecendo e aparecendo consoante a equipa aumentava a intensidade, acabando por ficar ligado ao golo do empate, com a assistência para João Félix.

José Peseiro não tinha Mathieu e apostou em André Pinto, inclinando a equipa um pouco mais para a direita, por culpa da saída de bola. Não só, mas também. Acuña apareceu na posição 8 para ser não um construtor, mas um lançador de Nani e Raphinha, agora aposta inicial.

Nesse esquema, os verde e brancos estiveram em alguns momentos antes do penálti de Nani perto de vingar a sua ideia: o desvio de Montero ao primeiro poste, logo aos 7 minutos; o encaixe de Vlachodimos ao remate de Raphinha, depois de lançado por Battaglia, aos 34; e de novo o alemão a responder ao tiro de Bruno Fernandes logo no início da segunda parte, em posição frontal.

No plano defensivo, importante a pressão alta imposta pelo Sporting na saída de bola do Benfica, com as clareiras posteriores nas zonas intermédias a diminuírem com o tempo e com o acerto posicional de Battaglia, Acuña e Bruno Fernandes. Ou seja, no início, quando passava a primeira linha de pressão, os encarnados ainda encontravam tempo e espaço para respirar, mas esse começou a escassear perto da meia-hora.

O duelo entre Salin e Rúben Dias, e depois com os outros

Figura do dérbi foi obviamente Salin. Duas grandes defesas a cabeceamentos de Rúben Dias, depois Rafa, Pizzi, Zivkovic e Grimaldo também obrigaram o guarda-redes a brilhar, numa altura em que procura tornar-se indiscutível como número 1.

Se o Sporting sai da Luz com um ponto muito deve ao seu guardião, bem como ao trabalho o setor defensivo e de Battaglia, sempre muito concentrados na missão de tapar os caminhos para a sua baliza.

Pizzi, a definição do que é mal definir

Noite muito difícil para aquele que tem sido a grande figura, a par de Gedson, do início de temporada do Benfica. Pizzi tomou más decisões atrás de más decisões, errando passes, mas sobretudo escolhendo caminhos com muitos mais obstáculos para levar a equipa para frente. Muita falta fez ao conjunto de Rui Vitória essa capacidade de variar jogo de flanco para flanco, mas também a clarividência de chegar perto da baliza e ajudar um Ferreyra muito preso à luta com os centrais. Pizzi não foi Pizzi, num jogo que até teve o reforço iminente Gabriel na bancada, e o jogo ofensivo da equipa saiu prejudicado.

Sporting a chegar ao golo numa transição, Benfica a empatar num último fôlego

É num erro na saída dos encarnados em apoio que os leões chegam ao golo, provando que a desinspiração ofensiva também podia fazer mossa lá atrás. Bruno Fernandes aproveitou e cruzou, Jardel não travou o passe e Rúben Dias derrubou Montero. O relógio marcava 61 minutos, e havia muito tempo ainda para recuperar, mas os da casa mostravam-se pouco hábeis para o perseguir.

Naquilo que tem sido o hábito das substituições de Rui Vitória, o treinador do Benfica mudou a rotina. Se Zivkovic entrou para o lugar de Cervi, João Félix e Seferovic renderam Pizzi e Ferreyra, com os encarnados a prepararem-se para o tudo por tudo e tentar levar alguma coisa do jogo.

A igualdade surgiu mesmo, aos 86, com Rafa a pagar a aposta do técnico com a assistência para o empate, carimbado com excelente impulsão e cabeceamento de João Félix, cada vez a reclamar mais atenção e ainda mais minutos.

Um dérbi dos fracos, sim  

Não foi grande jogo, sobretudo a nível técnico - embora tenha tido a emoção e tensão do costume -, mas o empate não chateia nem águias nem leões. Já o esforço despendido pelos primeiros não traz grande ânimo para o que vai ser preciso na Grécia. Será obrigatória, pelo menos, ligar bem melhor todas as peças que estiverem em campo.