Quem disse que é preciso mudar para ser feliz? O Rio Ave roubou os primeiros pontos da época ao Benfica num jogo em que se manteve fiel aos princípios que vem patenteando mesmo tendo pela frente o campeão nacional. No final, ficou com um ponto que justificou pelo que fez até ao empate encarnado. O Benfica justificou-o pelo que fez depois disso. Tudo somado, a igualdade aceita-se.

A atitude do Rio Ave no jogo, de resto, só surpreendeu quem não tinha ainda visto jogar a equipa de Miguel Cardoso. A verdade é que os homens da casa não se desviaram um milímetro daquilo que têm vindo a mostrar na Liga: futebol apoiado, de qualidade, com aposta na posse de bola em todas as fases do terreno, pressão arrojada e constante. Futebol que enche a vista a qualquer admirador do fenómeno, no fundo.

Francisco Geraldes e Rúben Ribeiro foram executantes supremos dessa mentalidade. A chave do segredo do futebol vila-condense que o Benfica demorou uma eternidade a entender e, mais importante, a combater.

RECORDE O JOGO AO MINUTO

A equipa de Rui Vitória, esta noite com Rafa em vez de Salvio, entrou mal no jogo e só não saiu para o descanso a perder por falta de pontaria contrária, sobretudo num lance de Guedes, após assistência de Marcão, que acabou com um remate para as nuvens da marca de penálti. Antes, já Geraldes obrigara Bruno Varela a intervenção decisiva para evitar um chapéu candidato a golo da jornada.

O Benfica, por seu turno, esgotou 45 minutos num pontapé bloqueado de Seferovic que passou ao lado e isto num lance em que Cássio errou a sair a jogar. Futebol construído não se viu ao longo de toda a primeira parte, daí que o nulo castigasse bem mais o Rio Ave quando Hugo Miguel apitou para o intervalo.

A segunda parte foi diferente. Teve golos e, a partir daí, mais Benfica. Apesar disso, foi o Rio Ave a marcar primeiro, numa infelicidade de Lisandro López, que saltara do banco para render o lesionado Jardel, ainda estava a terminar o primeiro quarto de hora. Geraldes, sempre ele, iniciou a jogada, Bruno Teles cruzou para a área, Bruno Varela antecipou-se a Guedes mas desviou contra o colega e a bola levou o caminho da baliza.

Era o golo que dava justiça ao marcador, mas o resultado ficaria assim muito pouco tempo. Cinco minutos depois, já com Zivkovic no lugar de Cervi, apagado, Hugo Miguel viu um puxão evidente de Marcão a Jonas, na área, na sequência de um livre que, em abono da verdade, tinha sido mal assinalado. Indiferente, Jonas fez o empate e o quinto golo na Liga.

E só a partir daí o Benfica justificou o resultado. Caiu em cima do Rio Ave como nunca antes, aproveitando, também, alguma quebra física do rival. Só Cássio impediu a reviravolta completa. Primeiro a Rafa, depois a Seferovic, por fim a Raúl Jiménez, o talismã das duas últimas épocas, que entrou para o lugar de Rafa, mas, desta feita, não teve o mesmo efeito. A todos, Cássio tapou a baliza e manteve uma igualdade que é justa para o que se viu no jogo, tudo somado. O Rio Ave foi melhor mais tempo, mas nunca tão esmagador como os encarnados na reta final.

Aliás, depois dos golos, o Rio Ave só se viu numa tentativa de Nuno Santos, que rendera Barreto pouco antes, e que não passou nada longe do poste encarnado. O perfume do primeiro tempo perdeu-se à medida que o relógio se aproximava dos 90. Porque o romantismo também tem de dar lugar ao lado mais pragmático e empatar com o Benfica é um resultado que não pode ser ignorado.

Assim, as duas equipas ficam lado a lado mais uma jornada. Para já, na frente de todas as outras, mas à mercê daquilo que Sporting e FC Porto fizerem este domingo. O jogo, esse, foi bem agradável de seguir. Como costuma ser quando ninguém se tenta passar por aquilo que não é.