Sem pólvora não há explosões e o Tondela não comprometeu de vez as aspirações da manutenção, mas pode ter levado, esta tarde, um rude golpe ao perder no Bessa, por 1-0, num jogo que, diga-se, pouco fez para vencer. O Boavista foi melhor de início a fim, sem brilhar, e merece indiscutivelmente a vitória, num jogo decidido por um lance de génio coletivo. 

O Tondela interrompe, assim, a recuperação que vinha realizando e pode ver o Moreirense fugir para distância delicada, a três jogos do fim. A equipa de Petit joga uma final em Arouca: se ganhar, cava um fosso de cinco pontos, com nove em disputa. Ficaria, certamente, muito mais tranquilo. 

E a culpa também será dos homens de Pepa, pois claro. Tarde pouco inspirada, quase sempre longe da baliza e sem arte para furar. Difícil era não perder jogando assim.

Ao intervalo, aliás, o nulo era muito penalizador para o Boavista, de longe a melhor equipa em campo. O Tondela não conseguira uma única finalização digna desse nome, fosse mais perto ou longe da baliza axadrezada. Nada. Zero. Os da casa, por seu lado, desperdiçaram todas as que tiveram. E até nem foram poucas.

Iuri Medeiros deu o mote com um remate à entrada da área, ao minuto 19, que Cláudio Ramos susteve com dificuldades, mas foi na reta final desse período que vieram as mais flagrantes ocasiões. Três no espaço de dois minutos.

Primeiro Schembri rematou fraco, à meia volta, para defesa do guardião do Tondela; depois Bukia atirou cruzado a rasar o poste e, por fim, na mais flagrante de todas, Fábio Espinho, após assistência de Schembri, com tudo para marcar, permitiu a defesa.

Apesar de um longo período da primeira parte em que abusou do jogo direto, com passes longos dos centrais para a frente, o que até é difícil de compreender face ao défice físico de Schembri, hoje titular, por comparação com os centrais do Tondela, o Boavista foi incomparavelmente melhor no primeiro tempo.

Pepa repetiu o onze que tinha vindo a resultar, entregando o ataque à dupla Murilo-Jhon Murillo mas a bola praticamente nunca lhes chegou. Idris, sobretudo, mas também Anderson Carvalho davam conta das despesas no miolo, Iuri e Bukia eram setas apontadas à baliza contrária nos flancos e o Tondela ficava remetido à posição de dominado face a uma pantera de garras afiadas.

Sem alterações ao intervalo, o jogo mostrou-se ligeiramente diferente na segunda parte. O Tondela cresceu um pouco e deixou o Boavista em sentido. Só tinha de ser assim. Pepa, certamente, exigiu mais aos jogadores porque o pote de ouro da manutenção passava por um bom resultado no Bessa. Um ponto poderia ser curto e exigia-se ambição.

O Tondela cresceu, como se disse, mas não muito. Ainda assim, o suficiente para, finalmente, ter um lance para marcar, único em todo o jogo, imediatamente antes de Iuri decidir a contenda. Heliardo, que rendera Murilo, falhou na cara de Vagner. O Boavista sentiu o toque, reagrupou-se e, numa jogada fantástica do coletivo, marcou. Passes de primeira, triangulações, calcanhar de Schembri, assistência de Mesquita e golo de Iuri. Sete toques até à festa. Tiki-taka à moda do Bessa.

Era justa a vantagem porque, já antes disso, Anderson Carvalho voltara a desperdiçar, de cabeça, com tudo para marcar.

Pepa fez o que se lhe exigia depois do golo. Alargou o ataque com Wagner, abdicando de Pedro Nuno. Trocou, depois, Miguel Cardoso, apagado, por Dylan Flores. Miguel Leal foi refrescando a equipa com Makhmudov, antes de marcar, e Renato Santos e Idé, depois disso.

Renato Santos, por exemplo, em dois remates, mexeu com o jogo mas foi curto para o golo da tranquilidade.

O Boavista teve de jogar de garras afiadas para segurar os três pontos que permitem chegar aos 38 que valem, à condição, o oitavo lugar. E, também importante, o regresso aos triunfos, seis jogos depois. 

Para o Tondela restam três finais e uma certeza: é preciso bem mais para repetir a façanha da época passada.