Quase um mês depois de ter iniciado a nova temporada, o Sporting ainda levanta muitas dúvidas. Basta recordar, por exemplo, que a equipa somou três derrotas e apenas uma vitória, em cinco jogos, tendo ainda empatado com o Belenenses.

Pelo caminho sofreu dez golos, o que dá uma média de dois golos sofridos por jogo. Sem dúvida preocupante: e um sinal de que boa parte dos pecados da última época se mantêm.

Curiosamente a defesa até parece ser dos um dos temas mais firmes de Jorge Jesus: o quarteto formado por Piccini, Coates, Mathieu e Coentrão começou de início os três jogos teoricamente mais exigentes, frente ao Fenerbahçe, ao Valencia e ao Marselha.

No entanto, e porque o problema pode não estar na defesa - ou não estar exclusivamente na defesa -, o meio campo tem sofrido várias oscilações, que acabam por deflagar os incêndios que mais tarde atingem o setor mais recuado da equipa.

Jorge Jesus já experimentou no meio duas vezes a dupla Petrovic-Bruno Fernandes, duas vezes a dupla Petrovic-Battaglia e uma vez a dupla Battaglia-Bruno Fernandes.

Nas alas o treinador já utilizou de início Iuri Medeiros (três vezes), Bruno César (duas vezes), Mattheus Oliveira, Podence e Bruno Fernandes, todos eles uma vez.

Pelo caminho nunca se repetiu o quarteto do meio campo.

Ora estas incertezas do treinador, numa altura propícia a experiências, é verdade, mas estas incertezas, dizia-se, acabam por refletir os problemas do Sporting no momento defensivo (sobretudo na transição).

O segundo golo do Marselha no jogo desta terça-feira é aliás paradigmático: Piccini saiu a pressionar o recuo do extremo adversário, abrindo um espaço na defesa por onde entrou Payet, que fez a assistência para o golo. Battaglia foi lento na cobertura do espaço e chegou atrasado ao cruzamento do francês, deixando a defesa desprotegida.

A verdade, portanto, é que os adversários conseguem criar rapidamente mossa na defesa leonina depois de recuperar a bola, através de movimentações mal acompanhadas.

O Sporting até tem apresentado um futebol de posse de bola e saídas pelos flancos que podia ser um bom ponto de partida no trabalho ofensivo, mas esse princípio válido e agradavél é constantemente reduzido a cinzas pelas falhas defensivas.

Interessa acrescentar, de resto, que há um aspeto relativamente seguro no futebol que Jorge Jesus pretende para o Sporting: o esquema tático preferido parece continuar a ser o 4x4x2 (ou 4x1x3x2, para se ser mais rigoroso).

Foi nessa disposição que a equipa começou quatro dos cincos jogos já realizados.

A exceção aconteceu frente ao Basileia, num jogo em que foi testado o esquema de três centrais: uma ambição de Jorge Jesus, que já tinha sido experimentada na última época, em jogo da Liga dos Campeões realizado em Dortmund (derrota por 0-1).

Provavelmente por isso, o treinador insistiu na contratação de Mathieu, um central canhoto e que pode fechar à esquerda, já a pensar na adaptação ao esquema de três centrais. Esta parece ser, no entanto, uma alternativa para utilizar em situações pontuais.

A ANÁLISE SETOR A SETOR

Guarda-redes: à espera de Rui Patrício

Azbe Jug foi utilizado em quatro jogos e não correspondeu: esteve mal por exemplo frente ao Valencia. Pedro Silva foi testado com o Marselha, fez uma boa exibição e mereceu até elogios de Jorge Jesus.

De qualquer das formas, o titular continuará a ser Rui Patrício e é à espera dele que o Sporting está. Beto deverá manter a posição no banco. Azbe Jug e Pedro Silva estarão a lutar por um lugar no plantel, sendo que Stojkovic parece ter perdido as hipóteses de lutar pelo mesmo.

Defesa: só uma dúvida e à direita

Como já se disse, é um setor relativamente claro: Piccini, Coates, Mathieu e Coentrão começaram de início três jogos e parecem ser a aposta de Jesus.

A maior dúvida está agora à direita, onde Piccini não consegue convencer toda a gente. André Geraldes, a alternativa que sobra, é demasiado curto, como se viu frente ao Valencia, pelo que o Sporting pode ser obrigado a ir ao mercado procurar um concorrente para Piccini.

De resto, Coates e Mathieu somam experiência e estatuto, Coentrão têm isso tudo e mais bons pormenores mostrados nesta pré-época.

Meio campo: Bruno Fernandes e mais quem?

Claramente o setor que levanta mais interrogações, até porque há três internacionais que foram titulares na última época e que ainda não começaram a trabalhar com o grupo: Gelson Martins, William Carvalho e Adrien Silva.

Jorge Jesus já testou por isso, no onze titular, três duplas diferentes a meio e cinco extremos diferentes. Pela resposta dada em campo, Bruno Fernandes parece ser a aposta mais segura, no lugar que, tudo indica, deverá ser deixado livre pela saída de Adrien.

Nas alas há que contar com Gelson Martins e Marcos Acuña, jogadores que ainda não puderam estrear-se esta época. À partida serão titulares, sobretudo o primeiro.

No entanto não pode esquecer-se dois miúdos que estão a dar nas vistas na pré-temporada: Podence e Iuri Medeiros. Dois jogadores que vão obrigar Acuña a não vacilar.

Pelo caminho uma referência a Mattheus Oliveira, um jogador que deu nas vistas a jogar como médio centro no Estoril mas tem sido utilizado por Jorge Jesus exclusivamente na ala esquerda: um espaço onde perde capacidade. Por isso tudo indica que vai ter vida difícil.

Mais atrás, na posição mais recuada do meio campo, há um enorme ponto de interrogação: William Carvalho fica ou não? Se ficar, problema resolvido. Se sair, como parece mais provável, quem o substitui? Petrovic tem sido a aposta mais vezes feita na posição e tem o mérito de manter a qualidade do português na saída de bola, mas é cedo para conclusões.

De qualquer das formas é seguro que Petrovic já ganhou terreno pelo menos a Palhinha, que poderá ter a permanência no plantel até em risco.

Ataque: Alan Ruiz parece partir na frente

Na frente de ataque há uma certeza intocável: Bas Dost. O segundo melhor marcador europeu da última época será o titular, certamente. Sobra a dúvida de quem pode jogar ao lado dele, no tal esquema de 4x4x2 que parece ser o eleito de Jorge Jesus.

Alan Ruiz foi o preferido em três onzes iniciais e parece partir nesse sentido na frente.

Doumbia é uma forte aposta do Sporting para esta época e é para já, ao lado de Bas Dost, o melhor marcador da pré-época. É por isso um forte candidato ao lugar, claro.

O costa-marfinense, porém, foi utilizado duas vezes ao lado de Bas Dost e duas vezes no lugar do holandês, o que levanta a dúvida de se saber se Jesus conta com ele para ponta de lança ou segundo avançado.

Vale a pena referir, por fim, que não pode esquecer-se Podence. O miúdo está a fazer um excelente pré-temporada, já foi utilizado na última época ao lado de Bas Dost e vai obrigar Jorge Jesus a contar com ele.

Em sentido contrário, miúdos como Francisco Geraldes, Ryan Gauld, Gelson Dala e Leonardo Ruiz pouco contaram durante a pré-época e terão a permanência no plantel muito pouco provável. Matheus Pereira, por outro lado, deixou boas indicações nos escassos minutos que jogou e pode por isso ter inviabilizado a saída por empréstimo.