Golos bonitos, erros graves, incerteza e emoção até acabar. O Arouca-Estoril teve tudo o que está sempre presente nos jogos mais emotivos. E este, que acabou com sete golos, vai ficar seguramente nesse lote quando o pano da Liga 2023/24 cair daqui a nove meses.

Teve também um final dramático, que acabou por recompensar a abnegação, o espírito de sobrevivência e o sentido prático da equipa da casa, que jogou em inferioridade numérica desde os 37 minutos e anulou três desvantagens, duas delas quando já estava reduzida a dez. No fim, Pedro Santos deu à equipa de Daniel Ramos uma vitória com sabor ainda mais especial.

O início do jogo trouxe mais Estoril e aos dez minutos o conjunto de Álvaro Pacheco adiantou-se no marcador através de um livre direto de Holsgrove. A bola bateu no relvado à frente de Arruabarrena, ressaltou e enganou o guardião uruguaio que, apesar disso, não ficou isento de culpas.

A reação do Arouca não foi imediata e, ainda antes que ela surgisse, os estorilistas viram um golo anulado a Heriberto por fora de jogo.

O Estoril demonstrava mais lucidez com bola, mas algumas dificuldades sem ela. E isso foi uma constante ao longo de todo o jogo, contra 11 e também contra dez.

Ao minuto 20, David Simão – jogo tremendo do capitão dos arouquenses! – recuperou uma bola no meio-campo ofensivo e serviu de primeira Rafa Mújica, que rematou colocado de fora da área para o empate.

Aos 37 minutos, Kouassi – que já tinha um amarelo – foi demasiado impetuoso numa disputa de bola com Cassiano, acertou com o piton na perna do avançado canarinho e acabou expulso com o vermelho direto.

Nos primeiros minutos da segunda parte, João Marques recolocou os estorilistas na frente com uma bela execução de pé direito e minutos depois repetiu-se em parte o guião do pós 0-1: novo golo anulado ao Estoril (a Cassiano) e golo do Arouca (Cristo González após nova assistência de David Simão) na resposta.

Ao ver a equipa anular pela segunda vez uma desvantagem, agora num contexto ainda mais delicado, Daniel Ramos procurou introduzir estabilidade, retirando homens do ataque e reforçando os outros setores para resistir ao natural ascendente dos visitantes.

Quando, aos 70 minutos, Alejandro Márquez deu ao Estoril a terceira vantagem no jogo parecia terminar aí a história da resistência dos arouquenses.

Mas quem o faz duas vez, faz três. E, com alma e – há que dizê-lo – sorte à mistura, empataram três minutos depois. David Simão, incansável na liderança do futebol do Arouca a meio-campo, levantou um livre lateral para a área e Volnei Feltes, uma das melhores unidades dos estorilistas, marcou na própria baliza.

O Arouca usava mais uma vida: e seria a última de que precisaria.

O jogo prosseguiu com uma equipa declaradamente à procura da vitória e outra a resistir defensivamente, mas sempre a acreditar que podia ser feliz: porque já o tinha sido até ali e porque as manifestas dificuldades do Estoril nas bolas paradas e nas transições defensivas lhe permitiam sonhar com aquele final perfeito fabricado pelos últimos dois jogadores que foram a jogo no Arouca: Weverson no passe e Pedro Santos na conclusão.